24. A Eliminação das Concepções Errôneas

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Mesmo, quando o nosso trabalho é coroado de grandes êxitos, não há qualquer razão para que nos vangloriemos e tornemos arrogantes. A modéstia contribui para o progresso enquanto que a presunção conduz ao atraso. Devemos ter sempre presente essa verdade.

Com a vitória, podem surgir no Partido certos estados de ânimo, como seja a arrogância, a pretensão de ser homem de mérito, a inércia e a falta de vontade de progredir, a busca dos prazeres e o não querer continuar a levar uma vida difícil. Com a vitória, o povo há de ficar-nos agradecido e a burguesia virá adular-nos. O inimigo não pode vencer-nos pela força das armas, é um fato já comprovado. Todavia, a adulação por parte da burguesia pode conquistar os fracos de vontade interior das nossas fileiras. Pode acontecer que existam comunistas, a quem o inimigo armado não foi capaz de vencer, que se comportaram diante dele  como heróis dignos desse título, mas que, incapazes de resistir às balas polvilhadas de açúcar, venham a cair derrotados por estas. Nós devemos estar prevenidos contra isso.

Muitas coisas podem converter-se em fardos, em cargas, se nos aferramos a elas cega e inconscientemente. Vejamos alguns exemplos: uma pessoa que tenha cometido erros pode começar a sentir que esses hão de pesar-lhe eternamente, e ficar por consequência desencorajada; uma pessoa que não tenha cometido erros pode começar a sentir-se infalível, tornando-se então num vaidoso. A falta de sucesso no trabalho pode conduzir ao pessimismo e ao abatimento, enquanto que o êxito pode provocar a vaidade e a arrogância. Um camarada que tenha uma curta experiência de luta pode, por esse fato, começar a furtar-se às responsabilidades, ao passo que um veterano pode começar a julgar-se infalível em virtude do seu longo passado de luta. Um camarada operário ou camponês, orgulhoso pela sua origem de classe, pode começar a olhar de cima para um intelectual, enquanto que este, em virtude dos quantos conhecimentos que possui, pode começar a manifestar desdém pelo camarada operário ou camponês. Toda a qualificação profissional pode começar a ser considerada como um capital pessoal, o que conduz à arrogância, à vaidade e ao desprezo pelas outras. A própria idade que se tem pode passar a constituir motivo de orgulho: os jovens que se julgam inteligentes e capazes podem começar a desprezar os velhos, e  estes, julgando-se cheios de experiência, podem começar a desprezar os jovens. Tudo isso pode passar a constituir uma carga, um fardo, se não se possui um espírito crítico.

Certos camaradas que trabalham no exército tornaram-se arrogantes e comportam-se de maneira arbitrária com relação aos soldados, ao povo, ao governo e ao Partido. Censuram os camaradas que trabalham no plano local e julgam-se acima de qualquer reparo. Não veem senão os seus êxitos, são cegos quanto aos seus defeitos. Gostam de ouvir elogios mas não críticas (...) O exército deve esforçar-se seriamente por vencer esses defeitos.

Um trabalho duro é como uma carga colocada diante de nós, desafiando-nos a transportá-la. Algumas cargas são leves, mas outras são pesadas. Há pessoas que, preferem as cargas leves e deixam as pesadas para os outros. Essa não é uma boa atitude. Outros camaradas, porém, comportam-se de maneira diferente: deixam a comodidade para os outros e tomam sobre si próprios as cargas pesadas, são os primeiros a suportar as privações e são os últimos a gozar do bem-estar. Esses são os bons camaradas. Devemos tomar seu espírito comunista como exemplo.

Não são poucas as pessoas a quem falta o sentido da responsabilidade em relação ao trabalho; preferindo as cargas leves as pesadas, escolhem as leves e deixam as pesadas para os outros. Seja para o que for, tais pessoas pensam primeiro em si próprias e só depois nos outros. Assim que fazem um pequeno esforço, incham-se de vaidade e gabam-se, com medo de que os outros não reparem nisso. Não têm o menor carinho pelos camaradas e pelo povo, tratando-os até com frieza, com indiferença e insensibilidade. No fundo, não são comunistas ou, pelos menos, não podem considerar-se como verdadeiros comunistas.

Há que lutar contra as tendências particularistas que consistem em só ter em conta os interesses do seu próprio setor, descuidando os interesses dos outros setores. Aqueles que ficam indiferentes diante das dificuldades dos outros, que repelem os seus pedidos de envio de quadros ou não lhes cedem senão quadros medíocres, "considerando o campo do vizinho como desaguadouro", e se desinteressam completamente das outras unidades, regiões ou pessoas, são particularistas. Perderam completamente o espírito comunista. A recusa em considerar os interesses do conjunto, a indiferença total com relação às demais entidades, regiões ou pessoas, tais são as suas características. Há que reforçar a educação desses indivíduos, para fazê-los compreender que tudo isso são tendências sectárias que poderão tornar-se muito perigosas se as deixarmos crescer.

O liberalismo manifesta-se sob diversas formas:
Constatamos que alguém está a agir mal mas, como se trata dum velho conhecido, dum conterrâneo, de um condiscípulo, dum amigo íntimo, duma pessoa querida, dum antigo colega ou subordinado, não nos empenhamos no debate de princípios e deixamos as coisas correr, preocupados com manter a paz e a boa amizade. Ou então, para mantermos a boa harmonia, não fazemos mais do que críticas ligeiras, em vez de resolver a fundo os problemas.O resultado é prejudicar-se tanto a coletividade como o indivíduo. Essa é uma primeira forma de liberalismo.
Em privado entregamo-nos a críticas irresponsáveis, em vez de fazermos ativamente sugestões à organização. Nada dizemos de frente às pessoas, mas falamos muito pelas costas; calamo-nos nas reuniões, e falamos a torto e a direito fora delas. Desprezamos os princípios de vida coletiva e deixamo-nos levar pelas inclinações pessoais. É uma segunda forma de liberalismo.
Desinteressamo-nos completamente por tudo que não nos afeta pessoalmente; mesmo quando temos plena consciência de que algo não vai bem, falamos disso o menos possível; deixamo-nos ficar sabiamente numa posição coberta e temos como única preocupação não ser apanhados em falta. É uma terceira forma de liberalismo.
Não obedecemos a ordens, colocamos as nossas opiniões pessoais acima de tudo. Não esperamos senão atenções por parte da organização e repelimos a disciplina desta. Eis uma quarta forma de liberalismo.
Em vez de refutar e combater as opiniões erradas, no interesse da união, do progresso e da boa realização do trabalho, entregamo-nos a ataques pessoais, buscamos questões, desafogamos o nosso ressentimento e procuramos vingar-nos. Eis uma quinta forma de liberalismo.
Escutamos opiniões erradas sem elevarmos uma objeção e deixamos até passar, sem informar sobre elas, expressões contrarrevolucionárias, ouvindo-as passivamente, como se de nada se tratasse. É uma sexta forma de liberalismo.
Quando nos encontramos entre as massas, não fazemos propaganda nem agitação, não usamos da palavra, não investigamos, não fazemos perguntas, não tomamos a peito a sorte do povo e ficamos indiferentes, esquecendo-nos de que somos comunistas e comportando-nos como um cidadão qualquer. É uma sétima forma de liberalismo.
Vemos que alguém comete atos prejudiciais aos interesses das massas e não nos indignamos, não o aconselhamos nem obstamos à sua ação, não tentamos esclarecê-lo sobre o que faz e deixamo-lo seguir. Essa é uma oitava forma de liberalismo.
Não trabalhamos seriamente, mas apenas para cumprir formalidades, sem plano e sem orientação determinada, vegetamos — "enquanto for sacristão, contentar-me-ei com tocar os sinos". Essa é uma nona forma de liberalismo.
Julgamos ter prestado grandes serviços à revolução e damo-nos ares de veteranos; somos incapazes de fazer grandes coisas mas desdenhamos as tarefas pequenas; relaxamo-nos no trabalho e no estudo. Eis uma décima forma de liberalismo.
Cometemos erros, damo-nos conta deles mas não queremos corrigi-los, dando assim uma prova de liberalismo com relação a nós próprios. Eis a décima primeira forma de liberalismo.

O liberalismo é extremamente prejudicial nas coletividades revolucionárias. É um corrosivo que mina a unidade, afrouxa a coesão, engendra a passividade e provoca dissensões. Priva as fileiras revolucionárias de uma organização sólida e de uma disciplina rigorosa, impede a aplicação integral da linha política e separa as organizações do Partido das massas populares colocadas sob a direção deste. É uma tendência extremamente perniciosa.

Os liberais consideram os princípios do Marxismo como dogmas abstratos. Aprovam o Marxismo mas não estão dispostos a pô-lo em prática, ou a pô-lo integralmente em prática; não estão dispostos a substituir o liberalismo pelo Marxismo. Armam-se tanto de um como de outro: falam de Marxismo mas praticam liberalismo; aplicam o primeiro aos outros e o segundo a si próprios. Levam os dois na bagagem e encontram uma aplicação para cada um. É assim que pensam certos indivíduos.

O Estado popular protege o povo. É somente depois que o povo passa a dispor de um tal Estado que pode, por métodos democráticos, educar-se e reformar-se à escala nacional e, com a participação de todos, desembaraçar-se da influência dos reacionários do interior do estrangeiro(influência que aliás ainda é muito grande hoje em dia, e que há de subsistir por muito tempo, não podendo ser destruída rapidamente), rejeitar os hábitos e ideias nefastas adquiridas na antiga sociedade, evitar ser arrastados pelos reacionários para o mau caminho, e continuar a avançar em direção à sociedade socialista, à sociedade comunista.

Não é difícil a uma pessoa praticar umas quantas boas ações; o que é difícil é agir bem durante toda a vida, nunca fazer algo mau. Realizar uma árdua luta durante várias dezenas de anos como se se tratasse de um só dia, e isso sempre no interesse das grandes massas, dos jovens e da revolução, eis o que há de mais difícil.


O Livro Vermelho - Citações do Presidente Mao TsetungWhere stories live. Discover now