Mãe-Noite Escorrida em Mantas de Escuridão

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a manta que guarda-te quente e nina-te
ao som da calma lira,
não é mesma que resguarda-me fria e acorda-me ao som da bruta cantiga.
a mãe que te embala a dormir e em tua testa coloca um beijo suave,
não é a mesma que acorda-me para dançar à luz branda da antiga luagem.

em minha pele mãe-noite derrete-se em mantas de escuridão,
e em meu leito guarda-me ébria de alucinações, suaves visões,
e durmo até o desaparecer da claritude.
A hora que acordas, com o sol batendo à porta,
não é a hora em que acordo - na boca da noite, na calada escuridão.

Na sintonia do anoitecer,
levanto-me nua
e ponho a admirar-me num espelho gasto,
cujo reflexo a mim devolvido é de decadência,
A mais bela e pura; febril e incandescente; vaporosa candura.
Ponho-me a escorrer; derreto,
embebida de água translúcida
dissolvida em prata ao luar,
continuo o meu vagar,
por entre estrelas, pela beira-mar,
ora vapor fervente, ora mulher nua à se admirar.

A hora em que dormes, com a noite convidativa a brincar,
não é a hora em que durmo - com o sol a clarear.
Cansada, o sono acalenta-me amável,
e junto ao espelho enevoado,
desabrocho em sonho imaculado.

Tecelã de Sonhos - Poesia D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora