Metamorfoseada Falena

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I.

dorme enclausurada falena
íntimo casulo tecido a seda levantina, umedecida, franca e libertina,
atavia-se em pranto a solidão lívida.
erma áurea na caminhada às asas, liberdade apruma dentre céus estios,
levita leve como nuvem dorminhoca,
n'um dia brando, néscio primaveril.

abriu as asas e partiu,
- a mundo a fora o seu bailar se desenrola,
embebida em beleza mística,
arrasta as grandes asas como fada,
dentro e fora da hialina abóbada
deixando formosa ninfa abobada,
com tamanha graciosidade imaculada.

II.

a fantasmagórica moçoila
que por entre nuvens e querubins repousa,
junto de aurora dorminhoca,
agraciando o dia daqueles que despertam do sacarino devanear
ao perecer de cada madrugada absconsa,
põe-se cedo a admirar o voar da borboleta; pueril e maviosa,
n'um céu lúrido noviço,
que cheiro de fresco orvalho evola,
saudando cada pequena dobra
da decrépita abóbada,
pintada em tom jovial - recém-nascido rosa.

- pátria saudosa,
cheia de vida vasta
ébria de nacarado candor,
idolatrada por moçoila casta
que ao evadir da metamorfoseada falena chora,
e corre de volta aos braços ternos da brumosa alvorada.

III.

terno ciclo da vida - tenebroso, violento,
invólucro por lamúrias levadas pelo vento,
imbuído em beleza sombria, graciosa;
tortura doce e morosa,
destinada a todas as almas em terra árida harmoniosa.

IV.

e agridoce é a jornada,
tecida tenra em linha d'água, traçada por mãe destino; para toda criatura plácida,
a encarar novos nacarados céus, e novas estradas cálidas; a cada renascer das asas,
e o encarar do perecer destas, a cada absconsa temporada.


Tecelã de Sonhos - Poesia D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora