Em Meu Cerne, Eu Venero

58 4 0
                                    

I.

acredito em deuses
e também no toró tempestuoso,
no Rio da Madre que chega na Guarda,
e n'agua de pequenos lagos.
eu rezo à cailleach que traga-me um quieto inverno,
e também para pedra-lima que em dia
solitários converso.
já li a bíblia e também não li,
vivo por árvores centenárias,
acredito no poder d'água,
e na bruma fantasmagórica da alvorada.
não pergunte-me se já fui à igreja...
pois já viu,
às 3 da manhã na floresta e rezei,
junto as cobras e ao lume,
encarei a lua e a beijei de longe.
já rezei aos joelhos em meu quarto,
à meia noite, no outro dia meu sobrinho nasceu.
também vi uma mulher vestida em branco,
pálida com cabelos cálido-escuros,
sentou em minha cama e desejou-me boa noite...
era ela Deus?

II.

acredito no amor, o respiro e vivo de seu mel,
ah, querido eros, acertasse meu coração....
sou devota a multiplicidade e em linhas de poesia a venero. 
todos os dias rezo ao céu,
"resguarde-me hoje, em poesia farei jus de sua leniência, até de seu profundo breu"

III.

em bondade justa derreto e pingo:
sou imatura e humana, e devota a muitas coisas. não sei nomear minha religião,
vivo para descobrir-me; como recém-nascido a descobrir seus primeiros passos. talvez eu nunca vá descobrir seu nome, mas a tenho em meu cerne, e esta cresce a cada noite. em poesia mantenho-a livre, tal como branda luagem.

IV.

venero tudo o que vejo da vista de minha janela:
os canários e sábias,
tucanos e pau-brasil,
periquitos e pequenas bastets,
o limoeiro que plantei,
e o grande pinheiro,
cuja a idade é um mistério...

Tecelã de Sonhos - Poesia D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora