CAPÍTULO 04

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Ouço risadas do outro lado da linha, bufo.

— Dois anos depois é que você vem me procurar? — A voz grossa e rouca profere num tom um pouco alto.

— Só me responde se a proposta ainda está de pé e ponto. — Enuncio vendo que o próprio fica em silêncio. Coloco uma de minhas mãos sobre a cintura e começo a andar de um lado para o outro. — Me responde! — Profiro alto.

— Ainda moro naquela mesma casa, quero que você esteja aqui de 16:00 em ponto.

— Ótimo! — Desligo a chamada sem esperar por uma resposta. Guardo o celular em minha bolsa e volto para o quarto. Vejo minha mãe conversando e sorrindo com uma enfermeira ao lado da maca. Ela segurava um prateleira com três pequenos frascos que pareciam ser remédio e um copo com água.

— O que é isso? — Indago curiosa ao vê-la abrindo um dos frascos.

— É um tranquilizante, sonífero. Fará ela dormir por um bom tempo. — Responde colocando o pó branco no copo com água e entregando à minha mãe.

— Interessante. E tem algum efeito colateral?

— Além da perda de memória recente, não! Pode ficar tranquila, sua mãe estará muito bem ao acordar. — Ela Sorri pegando o copo em que minha mãe havia bebido o sonífero.

Ainda tinha dois frascos de sonífero em cima da bandeja que a enfermeira trouxe consigo. — Preciso dar um jeito de pegar aquele sonífero. — Penso. A enfermeira pega a bandeja e começa a andar para poder ausentar-se do quarto. Antes que ela pudesse passar por mim, finjo desmaio, fazendo com que a enfermeira largasse a prateleira com os soniferos e o copo que agora estava vazio, caíssem no chão. Ela vem me ajudar. — Isso! — Comemoro em pensamento.

A enfermeira põe minha cabeça sobre sua coxa e coloca o seu dedo indicador e o médio sobre o meu pescoço, a fim de sentir minha pulsação. — Você está se sentindo bem?

— É... eu estou. — Minto. — Talvez tenha sido porque eu não comi nada. — Respondo levantando-me da coxa da enfermeira. Olho para os cantos à procura do sonífero. Sorrio ao ver que um frasco caiu próximo à mim. Olho de relance para a enfermeira e a vejo virada para trás, apanhando a bandeja. Abro a minha bolsa e guardo o sonífero sem que ela perceba. — Desculpa pela bagunça que causei.

— Não foi nada! — Fala com a bandeja e um sonífero na mão. Solta um sorriso torto antes de sair do quarto. Sento-me na poltrona do quarto, abro minha bolsa e pego o sonífero. Começo a encará-lo, pensando se o meu plano iria realmente dar certo. Volto a guardá-lo na bolsa e tento procurar uma posição para dormir na poltrona. Começo a cochilar, mas sou interrompido por batidas na porta, resmungo em silêncio. Levanto-me da poltrona e vou de encontro à porta, abro.

— Oi filha! — Minha tia fala me abraçando e depositando beijos em meu rosto rosado. — Obrigado por me avisar o que veio à acontecer com sua mãe! Demorei porque minha fazenda fica um pouco distante dessa cidade, você sabe disso. — Profere andando em passos acelerados de encontro à minha mãe.

— Não tem problema! — Respondo. — Tia, a senhora poderia ficar com minha mãe enquanto eu vou em casa, tentar tirar um cochilo? Faz horas que não durmo.

— Claro que sim, minha filha. mas toma cuidado! — Exclama com uma expressão de preocupação. Sorrio para ela. Antes que eu pudesse sair do quarto, sou interrompido novamente por sua voz. — Porque vocês não vão passar uma temporada na fazenda?

— Ah! Adoraríamos tia. Mas primeiro temos que resolver os nossos problemas aqui. — Respondo indo em direção ao seu corpo, parada ao lado da maca onde minha mãe encontra-se imóvel . — Não quero deixar nenhun assunto pendente. — Deposito um beijo em sua bochecha. Ela sorri branco. Saio do quarto.

Talvez Não Exista Um "amanhã".Where stories live. Discover now