CAPÍTULO 09

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As nossas expressões se fecham ao percebemos que é a mãe de Henia, a senhora Heliane Candeia. Ela começa a andar em passos lentos de encontro à nossos corpos. Seus olhos começam a lágrimejarem. Pressinto o nervosismo tomando conta do meu corpo, tento me controlar. Tate olha para mim, queria dizer algo, mas falhava. A senhora Candeia para de frente para mim. Isso só fez com que meu corpo ficasse mais tenso. O vento batia forte em meu rosto, fazendo com que meu cabelo longo fosse para trás. Presumo que eu irá levar um tapa em algum momento, mas me engano. A senhora Candeia me abraça fortemente, não fazendo esforços para renunciar as suas lágrimas.

— Eu sinto tanto a falta dela. — Profere distendendo minha blusa na parte detrás.

— Todos sentimos, eu sinto muito. — Respondo enquanto lágrimas escorriam dos meus olhos para o pescoço de Heliane. — A culpa foi minha e de Tate. Viemos aqui hoje para pedirmos desculpas. — Heliane se solta de meu abraço.

— A culpa não foi de vocês. Ela estava com muitos problemas. E antes disso tudo acontecer... — Para por um momento e respira fundo. — Nós havíamos brigado. Faz algum tempo que ela estava tendo pensamentos suicidas. Antes de ela partir para a outra vida, Henia deixou um carta de despedida e outra dizendo todos os motivos de estar partindo para outro mundo. — Olho para Tate e entrevejo o próprio se aproximar de mim e Heliane. — Obrigado por ter sido um ótimo namorado para a minha filha. — Heliane agradece colocando uma de suas mãos sobre o ombro de Tate. — Eu sei que vocês tiveram algumas desavenças, mas isso não fez com que o amor dela por você mudasse. — Tate coloca uma de suas mãos também sobre o ombro de Heliane, chorando. Heliane começa a olhar para o pulso de Tate e percebe os cortes. — Você anda se cortando?

— Eu... É... — Tate procura por uma resposta, mas não sabe o que dizer.

— Você não precisa fazer isso meu filho! Tem um longo futuro pela frente. Algo maravilhoso ainda te espera, corra atrás sem medo. E acredite, Henia não iria gostar nada de te ver desse jeito. — Tate assente com com a cabeça. — Agora eu preciso ir embora, tenho que arrumar as coisas para a viagem. — Enuncia voltando até o meu corpo e depositando um abraço. — Mastarde passe na minha casa, quero te entregar a carta de despedida de Henia. — Sussurra em meu ouvido. Fiando uma bitoca em minha bochecha, sorrio. Heliane sai do campo de nossa visão.

— Vamos? — Inquiro andando para a saída do cemitério. Tate faz o mesmo. Adentramos no carro preto, dou partida.

***

O percurso até a casa de Tate foi em silêncio, ninguém disse uma palavra sequer.

***

Tate sai do meu carro e vai até a janela onde eu me encontro, com o meu braço esquerdo sobre a borda. — Obrigado! — Agradece pondo uma de suas mãos em meu braço. — Essa visita me fez muito bem, vou mudar de vida apartir de amanhã. — Sorrio ao perceber que ele realmente está falando sério. Despido-me e dou partida no carro.

***

Chego em casa muito tarde. Adrento em minha casa e avisto mamãe e tia sentadas no sofá, assistindo noticiários. Mamãe sente minha presença e começa a me fazer perguntas. Não respondo, somente subo para o meu quarto. Respiro fundo enquanto subia as escadas que davam acesso ao meu quarto. Em uma das minhas mãos estavam as duas cartas de Henia. Não sabia se estava pronta para ler. Destranco o meu quarto e entro. Coloco as duas cartas sobre a mesa de computação e sento-me na cadeira. Respiro fundo encarando as cartas. Decido abrir a primeira.

Na primeira linha da carta havia a seguinte frase:

"𝑰𝒔𝒔𝒐 𝒏𝒂̃𝒐 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝒅𝒆𝒔𝒑𝒆𝒅𝒊𝒅𝒂, 𝒔𝒐́ 𝒂𝒑𝒆𝒏𝒂𝒔 𝒖𝒎 𝑨𝑻𝑬́ 𝑴𝑨𝑰𝑺".

Sinto meus pelos eriçarem. Continuo a ler.

"𝑸𝒖𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒂𝒈𝒓𝒂𝒅𝒆𝒄𝒆𝒓 𝒂̀ 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑻𝒊𝒂 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒎𝒆 𝒂𝒑𝒐𝒊𝒐𝒖; 𝑨𝒐 𝒎𝒆𝒖 𝒑𝒂𝒊 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒎𝒆 𝒅𝒆𝒖 𝒐 𝒄𝒂𝒓𝒊𝒏𝒉𝒐 𝒏𝒆𝒄𝒆𝒔𝒔𝒂́𝒓𝒊𝒐; 𝒂̀ 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒎𝒂̃𝒆 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒆𝒔𝒕𝒆𝒗𝒆 𝒄𝒐𝒎𝒊𝒈𝒐; 𝑨̀ 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒔𝒐𝒃𝒓𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒅𝒆 𝟏𝟓 𝒂𝒏𝒐𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒎𝒆 𝒆𝒏𝒄𝒉𝒊𝒂 𝒐 𝒔𝒂𝒄𝒐; 𝑨̀ 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒎𝒆𝒍𝒉𝒐𝒓 𝒂𝒎𝒊𝒈𝒂 𝒒𝒖𝒆 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒆𝒔𝒕𝒆𝒗𝒆 𝒄𝒐𝒎𝒊𝒈𝒐, 𝒆𝒎 𝒕𝒐𝒅𝒐𝒔 𝒐𝒔 𝒎𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐𝒔 𝒆 𝒂𝒐 𝒎𝒆𝒖 𝒏𝒂𝒎𝒐𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒏𝒖𝒏𝒄𝒂 𝒅𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒊𝒖 𝒅𝒆 𝒎𝒊𝒎, 𝒕𝒂𝒍𝒗𝒆𝒛..."

Vários Flashs começam a rondar minha cabeça, sinto um mau estar e decido parar de ler. Meus olhos vão se fechando lentamente, eu havia desmaiado.

***

Abro meu olhos, sentindo o cheiro de álcool entrar pelo meu nariz. Aquilo era forte e fazia com que minha dor de cabeça aumentasse. Abro meus olhos por completo, mas bufo ao ver tudo manchado. Vozes entravam e saiam pelo meu ouvido e eu não conseguia entender absolutamente nada. Tempo depois volto ao normal. — O que aconteceu? — Indago virando minha cabeça para ao lado afim de ver quem estava presente.

— Minha querida, você estava desmaiada. Eu te trouxe para a cama. — Minha tia responde sentando-se ao meu lado. Preciso que você arrume suas malas, partiremos daqui à alguns minutos. — Ela fala levando-se de minha cama para se ausentar.

— Mas... — Sou interrompida.

— Eu já resolvi toda a papelada do aluguel, não precisa se preocupar. Será bom para vocês duas passar uma temporada na minha fazenda, Você sabe que lá é divertido. E além disso, você ama a grama verde. — Responde  soltando um piscadinha para mim.

Faço esforços para me levantar da cama, coloco meus dois cotovelos sobre a cama e me levanto vagarosamente. Vou até meu guarda-roupa e começo a pôr algumas roupas em minha mala. Pego as duas cartas de Henia e coloco dentro da mala.

***

— Ah! Já sinto o cheiro do campo verde. — Profiro respirando o ar doce, com a cabeça para fora da janela do carro.

Minha tia para o seu carro em frente a seu casarão da Fazenda. A casa da minha tia está mais para uma mansão do que uma simples casa de fazenda. Todos os cômodos eram bem posicionados, o cheiro que havia por toda a sua casa era maravilhoso. Subo para o meu quarto e ponho minha mala sobre a cama. Eu já sabia de cor em qual quarto eu ficava. Olho por toda a dimensão do quarto e admiro a sua beleza. — Esse quarto está muito silêncioso. — Penso olhando para a minha cama. De repente ouço a porta do quarto sendo destrancada.

— Niih, quanto tempo! — Minha prima Jassye fala vindo de encontro à mim, me dando um forte abraço. Não respondo nada, apenas abraço-a. Vejo o meu primo Josué adentrando no quarto. Ele me olha com aquele olhar sedutor. Josué era mais velho do que eu, tinha trinta e quatro anos. Seu cabelo crespo realçava a beleza de seus olhos esverdeados. Josué começa a tirar sua camisa à minha frente, deixando o seu abdômen bem cuidado à mostra. Solto-me do abraço de Jassye e vou até minha cama para arrumar minha mala. Começo a tirar todas as roupas para fora. Jassye se retira do quarto, disse que iria tomar um banho. Sinto à presença de Josué, mas finjo não perceber. Uma de suas mãos agarra minha cintura, tento me afastar. — De cor azul? Eu adoro cor azul! — Josué fala pegando minha calcinha boxer de cor azul.

— Não enche! —  Tomo minha calcinha de suas mãos com impulso. Ele ausenta sua não de minha cintura.

— Amor, cheguei! — Uma voz feminina grita lá de baixo, encaro Josué e o vejo corar.

— Quer dizer que resolveu largar a vida de solteiro? — Indago curiosa.

— Ah, sim! Essa garota me deu muito... — Faz gesto obcenos com a mão. — Amor.

— Safado! — Falo batendo em seu ombro, rindo. A porta do quarto começa a ser aberta lentamente. Josué se afasta de mim o mais depressa possível. A porta é aberta por completo, viro-me para ver quem era a namorada de Josué. Meus olhos se arregalam e minha boca abre fazendo um grande Oh!

— Você? — A voz surpresa feminina ecoa por todo o quarto, chegando aos meus ouvidos.

Talvez Não Exista Um "amanhã".Where stories live. Discover now