CAPÍTULO 19

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A porta da sala do delegado é aberta, impulsos em meu ombro faz com que eu entre para dentro da sala. — Bom dia, Nikolly. — O delegado profere, fazendo sinais com a mão para que eu me sentasse numa das cadeiras que ali havia. — Eu pedi para que o meu detetive fosse até o local onde o suposto "estuprador" da filha de Henia morava... — Interrompo-o.

— E?

— E faz dias que ele desocupou a casa. Alguns de seus vizinhos disse que ele teve que fazer uma urgente viagem, mas não disseram para onde.

— Desgraçado. — Penso. — E como ficará agora?

— Ficará tudo como está.

— Eu continuarei presa? — Grito batendo minhas duas mãos com força, na mesa do delegado.

— Exijo ordem na minha sala! — O delegado esbraveja se levantando de sua cadeira. Uma pasta com alguns documentos cai no chão. Ele respira fundo, se agacha e começa a apanhar as folhas que se espalharam por aquela área. Assim que termina, volta para sua posição inicial. — Não posso te soltar, você talvez seja cúmplice desse indivíduo. Ele se chama Thierry Philip, 28 anos, pai de um garotinha. A outra estava para nascer. — Olho para os cantos e reviro os olhos. — Era só isso que eu tinha para dizer, pode se retirar. — O delegado ordena, apontando para a porta da sua sala.

***

Observo a foto que Kaique havia me dado logo mais, sentada no banco de cimento do lado inferior do presídio. Várias presidiárias passavam a cada instante, mas eu não ligava. Uma mão é posta em meus ombros, assusto-me. — Desculpa! Não queria te assustar. — Andryk fala sentando ao meu lado.

— Eu estava intertida, não percebi sua presença. — Ela sorri. Não tínhamos muito o que falar, no conhecemos à um dia. Volto a fitar meus olhos na fotografia, acariciando-a. Andryk percebe a foto em minhas mãos.

— Namorado? — Indaga pegando um cigarro no bolso esquerdo de sua calça listrada. Pega um isqueiro no bolso direito e falha ao tentar acender o cigarro. — Droga! — Resmunga com o cigarro em seus lábios.

— Não exatamente. — Olho para Andryk, ainda tentando acender o cigarro. — Íamos ter um caso, mas olha aonde eu vim parar. Foi tudo tão... inesperado.

— A vida é assim, um dia você acha que nunca vai presenciar aquela cena, mas no outro dia, você está vivendo aquela cena.

— Eu não queria presenciar essa cena, muito menos viver nela. — Respondo pegando o isqueiro de suas mãos.

— E quem disse que temos escolha? Se a vida se movesse por ordem e desejos, eu realmente não me encontraria aqui. Eu estaria curtindo as belas praias de Miame, tomando uma tequila e fumando um charuto as 16:00 da tarde.

Sorrio. — Você tem razão. — Levo minha mão segurando o isqueiro até os lábios de Andryk. — Mas como eu posso viver dentro de uma cadeia? A qualquer momento eu posso... — Andryk sorrir ao perceber que eu acendi o seu cigarro na primeira tentativa. — Morrer.

— Morrer? — Indaga tirando o cigarro de sua boca, depois colocando novamente, fulmigando.

— Eu tenho uma Aneurisma, a qualquer momento eu posso morrer. E eu não quero morrer dentro de uma cadeia, isso não foi que eu escolhi.

— Poxa! Eu... sinto muito. — Andryk me encara com um olhar triste. Ficamos em silêncio novamente, deixando apenas o barulho que as outras presidiárias estavam fazendo. — Mas... Você pode curtir sua vida, mesmo estando presa.

— Como?

Andryk estende o cigarro para mim. — Se a vida te mostrar que há uma grande parede no caminho, não tenha medo, derrube-a.

Talvez Não Exista Um "amanhã".Where stories live. Discover now