CAPÍTULO 17

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***

— Hoje é lua cheia. — A loira que estava dentro da sela profere sorrindo, ao olhar para à lua, pela janela com barras de ferro sustentas. — Ah! Que saudades de admirar a lua com os meus irmãos. — Fala sentando ao meu lado. Afasto-me um pouco, mostrando estar com medo dela. — Não precisa ter medo, não irei fazer nada com você. Aliás, ninguém aqui fará. — Sorrio. — Puxa! Esqueci de me apresentar. Me chamo Andryk, e você? — Estende suas mãos para me cumprimentar.

— Nikolly... Nikolly Kidman. — Respondo apertando sua mão, ela sorri.

Seus olhos voltam a brilhar enquanto olhava para a lua. — Linda, não é? — Indaga apontando para a lua. — Olhamos e admiramos a lua, as estrelas, o céu. Porém elas guardam muitos segredos. Coisas que se você descobrisse, preferia nunca ter sabido, só admirá-las e pronto.

Olho para Andryk sem entender o que ela havia dito. — Aonde você quer chegar? — Indago afastando-me mais uma vez de si.

— Eu... Matei meu padrasto. — Suspiro fundo, sentindo meu corpo ficar trêmulo. Ela olha para mim e sorri torto. — Faz tempo, eu estava deitada no chão da minha casa e ele chegou bêbado. A porta foi arrombada por ele, fazendo com que madeiras grossas caísse por todo o chão. Eu corri e me escondi embaixo da cama, Ele começou a gritar por mim, só que eu fiquei em silêncio. Agradeci aos céus quando minha mãe chegou, com meu irmãozinho em seus braços. Ele... — Lágrimas misturada com ódio escorriam pelo seu rosto. — Bateu em minha mãe. Eu já era acostumada a ver esse tipo de cena, meu padrasto era muito rico, tinha um ótimo advogado apoiando-o. Então nada adiantaria, já que a justiça sempre está do lado de quem tem poder. — Suspira fundo. — Ele deu um soco no rosto de minha mãe, o seu corpo junto com o do meu irmãozinho caíram sobre o chão. Então meu irmãozinho começou a chorar e ele não aguentou, bateu nele também. Eu não aguentei ver aquela cena. Sai de baixo da cama lentamente, peguei um pedaço de madeira e fui até o seu corpo que estava virado para mim. Levantei a madeira usando toda a minha e... — Andryk começa a chorar sem controle, encosto sua cabeça em meu ombro, alisando-a. — Eu não queria fazer aquilo, eu sou inocente.

— Calma, não chora. Eu acredito em você. Acho melhor você descansar.

— Não! Eu quero terminar. — Profere afastando-se de meu ombro. Depois da morte de meu padrasto, minha mãe escondeu o seu corpo e decidiu fugir comigo e meu irmão. Passamos anos de glória, até que o idiota do seu advogado descobriu que eu havia matado ele. Tive que fazer várias transformações para não ser reconhecida, mas não adiantou, ele conseguiu me encontrar. Gabriel Nosvalk, ainda me lembro do nome do desgraçado que destruiu a minha vida e a da minha mãe.

— Ga... Gabriel Nosvalk? — Gaguejo tentando proferir o nome do detetive que estava me ajudando a encontrar o meu pai.

— O próprio. Já ouviu falar sobre ele? Gabriel é muito conhecido nessa cidade. Além de advogado, é promotor e detetive. Tenho que admitir que ele trabalha muito bem, pois ele conseguiu ficar com toda a herança do meu padrasto, usando apenas um papel, ele tirou tudo de nós.

— Eu... não sabia. — Respondo lamentando. — A porta da sela é aberta sem que nós percebessemos.

— Você, me acompanhe. — A mesma mulher que havia me colocado na sela, me chama. Me levanto do chão onde me encontrava sentada, Andryk acena com a cabeça, confiante de que tudo daria certo.

***

A porta do escritório do delegado é aberto, me adentro. — Boa noite! — O Delegado profere enquanto me ordena para sentar numa das cadeiras. — Preciso que você dê seu depoimento. — Assinto com a cabeça. — Meu detetive disse que você estava à todo momento com a senhora Heliane, isso é verdade?

— Sim, nós estávamos indo na casa do cara que havia estuprado sua filha anos atrás. — Respondo enquanto ouço ruídos da máquina de escrever sendo teclada.

— Me disseram que antes de vocês duas saírem da casa da senhora Heliane, vocês tiveram uma discussão, o que você tem a dizer?

— Ela estava fazendo as coisas do jeito errado, queria ir até a casa do indivíduo e ameaçá-lo. Eu tentei impedi-la, mas acabei caindo no chão. Ela estava muito alterada e não quis me ouvir, então eu resolvi ir com ela.

— Como é o nome desse indivíduo?

— Eu... Eu não sei. — Olho para os lados sentindo algo em meu estômago. — Mas eu sei onde ele mora.

— Qual o nome do local? — Digo o local ao delegado, sentindo-me zonza. Passo meus polegares sobre a minha testa, tentando amenizar a dor de cabeça que estava insistindo em começar.

— Acabamos com o seu depoimento por aqui. — Fala colocando suas mãos dentro da gaveta de sua mesa de ferro e tirando de dentro duas sacolas. — Reconhece?

Pego o dois sacos e assusto-me ao perceber que era a caixinha com o pelo do cachorro de Henia e a fotografia do cara que estava queimado pela metade, não mostrando o seu rosto. — É esse cara aqui. Ele foi quem matou a senhora Heliane, foi com ele que ela discutiu. — Profiro alto, vendo o delegado ordenando que eu me acalmasse.

— A senhora Heliane foi encontrada morta em seu apartamento, com uma faca cravada em seu pescoço, fizemos um autópsia do seu corpo, mas não encontramos nada. O que significa esse pelo manchado de sangue? — O Delegado indaga apontando para o pelo ensanguentado que se encontrava dentro da caixinha, coberto pelo saco.

— Depois que o cara estuprou a sua filha, ele matou o cachorrinho dela, também com uma faca cravada em seu pescoço. Eu não sei como ela fez para arrancar um pedaço do pelo do seu cachorro, talvez tivesse usado uma tesoura. — O Delegado assente. — Posso ir?

— Sim, mas antes a polícial Sandra te levará para o vestuario, para que você troque de roupa e tire todo tipo de bijuteria que tem em seu corpo. — Balanço a cabeça positivamente.

***

— Está aqui. — A mulher de seios grandes e cabelo ruivo me entrega o fardamento. Olho para ela, esperando que ela se virasse para que eu pudesse trocar de roupa, ouço risadas vindo da própria. — Aqui não tem esse tipo de frescura não, então pode ir se acostumando com a sua nova vida, você não sairá daqui nem tão cedo. — Lágrimas mais uma vez insistem em cair, mas eu me seguro. Tiro minha blusa e visto a camisa branca com listras laranja, faço o mesmo com a calça. — Pronto? — A policial indaga. Assinto com a cabeça. Ela me leva até uma sala e me ordena que eu tire todo o tipo de bijuteria que há em meu corpo, faço o que ela pediu. Tiro o meu relógio de pulso e coloco na prateleira de alumínio que havia sobre a sala. Depois tiro o meu brinco e faço mesmo. Por fim chega a vez do cordão que havia a metade de um coração dourado.  Lembro-me do dia em que Henia me deu.

***FALSH***

Henia passa suas mãos sobre o seu pescoço. — Quero que você feche os olhos e abra as mãos. Faço o que ela pediu. Henia coloca algo como se fosse um cordão em minhas mãos e pede para que eu abra os olhos. Sorrio ao confirmar que aquilo era um cordão. Um belo cordão com a metade de um coração dourado. — A partir desse momento, eu te declaro a minha melhor amiga. Nada e nem ninguém avaliará a nossa amizade. — Profetiza enquanto me dar mais um abraço.

***REALIDADE***

Sinto-me tonta novamente. — Vamos? — A delegada indaga pressionando suas mãos contra a minha, antes que eu pudesse dar o primeiro passo, meu corpo vai ao chão.

***

Me acordo sentindo um pouco de dor de cabeça, olho para os lados e sorrio ao perceber que estou no hospital. — Isso tudo foi um sonho! — Grito sorrindo.

Talvez Não Exista Um "amanhã".Where stories live. Discover now