CAPÍTULO 22

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Viro-me para trás lentamente, sentindo que a ansiedade pudesse atacar a qualquer momento. Meu coração bate aceleradamente. A cada batida que eram dadas, um suspiro profundo era solto instantâneamente. Viro-me por completo, olhando toda a extensão de seu corpo e chegando em seus olhos escuros. — Não é você. — Começo a chorar incontrolávelmente. Ele me puxa para um abraço, eu não nego, mesmo sabendo que aquele cara na minha frente era um desconhecido.

Chorei por alguns minutos. Assim que termino a seção de choro, o cara olha em meus olhos e enxuga minhas lágrimas com suas mãos morenas e enrugadas. Afasta-se de mim e vai até a cadeira, arrastando-a e ordenando com suas mãos, que eu me sentasse. Sorrio para o próprio. Nos encaramos por alguns minutos, nenhum dos dois sabiam o que dizer diante daquela situação. A conexão de nossos olhos é interrompido por um garçom.

— O que vocês vão querer? — O garçom indaga, com uma de suas mãos indo até o seu bolso e pegando uma caneta de cor azul.

— Vamos querer duas porções gigante de hambúrgueres, acompanhado de vitamina de goiaba. E de sobremesa queremos um pote de sorvete, misturado com vários sabores. E para o toque final, Brownie.

O garçom sorrir ao escrever os pedidos na caderneta. — Daqui a uns seis minutos eu trarei. Tenham uma boa noite! — Sorri me olhando, enquanto se ausenta.

— Que cara educado, não acha? — Juano indaga com um belo sorriso posto no rosto. Apenas sorrio. Juano respira fundo e solta o ar lentamente. — Porque tem certeza que não sou seu pai? — Volto a pegar a fotografia guardada na capinha do celular e entrego em suas mãos, ele me olha seriamente. Entrevejo um semblante de tristeza se formar em seu rosto. — O seu pai é branco. Eu sou negro. Eu... — Seus olhos lacrimejam. — Não sei nem o que dizer. — Seguro em suas duas mãos. Juano sorrir, pingos de lágrimas caem sobre a mesa.

— Não fica assim, por favor! — Imploro.

— Já fazem anos que eu à procuro. Talvez ela esteja... morta. Ela foi tomada de mim quando recém nascida. A mãe da minha filha fugiu do hospital assim que ela havia nascido. Desde esse dia, eu não tive mas nenhuma notícia das duas. Elas simplesmente sumiram da minha vida.

— Mas o que vem a te fazer pensar que ela possa estar morta? — Pergunto curiosa.

— Longa história. Irei te contar.

****

— Poxa! Eu sinto muito pelo que aconteceu em sua vida. — Limpo minhas lágrimas com um guardanapo. — Mas chega de histórias triste. Hoje eu vim até aqui para conhecer o meu pai. —  Talvez eu não queira saber do meu passado ou saber porque ele me deixou
Talvez eu só queira tê-lo por perto, por conta dessa minha doença. Vejo Juano olhando a hora em seu relógio.

— Ainda é muito cedo. Não faz nem duas horas que estamos aqui. Eu queria sair para algum lugar, você comeu todo o lanche. — Juano gargalha limpando sua boca com um guardanapo.

— E você me ajudou. — Réplico rindo. — Mas cá entre nós, estava de lamber os dedos. — Rimos alto. Juano levanta-se de sua cadeira. Deixando o dinheiro em cima da mesa, embaixo do prato. — Que tal irmos num parque que tem aqui perto? — Ele assente com a cabeça, sorrio de lado. Saímos para fora do restaurante, andando pela estrada, na imensa escuridão da noite. — Hoje a noite está bela!

— Sim, a noite está bela para uma grande adrenalina. — Juano fala alto. Adentramos no parque. Observo todos os brinquedos funcionando, com crianças e adultos se divertindo. — Que tal irmos na montanha russa?

Sinto calafrio ao ver a velocidade com que o carrinho ia, mas eu não queria demonstrar medo. — Sim, aceito. Mas depois iremos na roda gigante. — Ele balança a cabeça positivamente. Juano pega em meu braço e me puxa para entrar na fila. Nos sentamos nos bancos do carrinho, a barra de ferro é colocado sobre nossas barrigas. O carrinho começa a andar, lentamente. Olho para Juano e o vejo sorrindo branco. O carrinho estava subindo lentamente. Aquilo só fez-me pensar em minha vida. — Quando eu não sabia dessa doença, não vivia minha vida direito. passava horas e horas desejando que aquele dia chato e lento passasse depressa. E agora com essa nova doença... — O carrinho desce numa grande velocidade, fazendo todos gritarem e levantarem suas mãos. — Eu percebo o quão bocó eu fui por não ter aproveitado bem minha vida. Agora eu percebo que o tempo passou depressa para mim. Percebo que aqueles dias que eu achava lento e chato, na verdade estava passando na mesma velocidade que esse carrinho anda agora. — O carrinho chega ao seu destino final e vai parando lentamente.

Talvez Não Exista Um "amanhã".Where stories live. Discover now