Battle Cry

Capítulo 17

Conseguir fugir de seus amigos foi quase impossível, mas Stiles conseguiu porque ele era ninja as vezes. E ele não queria ir pra mansão encontrar com a Alice. Se ele passasse mais cinco minutos na presença da loba, ele não tinha certeza, mas talvez ele acabasse socando a cara dela. Sei lá, só talvez, até porque ele não bate em mulher... A não ser que essa mulher seja a Erica. Claro. 

Stiles estava nervoso. Sua perna direita não parava de subir e descer, e se ele morder mais suas unhas, seus dedos começarão a sangrar. 

Ele tirou a mão da boca para coçar com um dedo sua bochecha, e então olhou mais uma vez para a bancada de atendimento na biblioteca onde ele podia ver Val separando alguns livros calmamente, como se ele não conseguisse sentir a aura tensa em volta de Stiles.  O mesmo voltou seu olhar para o relógio na parede acima da cabeça de Val. 

04:30pm. 

Era agora. E Stiles já estava começando a se arrepender de ter aceitado a ideia de Val. 

Stiles pulou da cadeira em que estava sentado quando sentiu a mão em seu ombro, e olhou para cima, encontrando Val que o olhava preocupado. 

- Tudo bem com você? – Perguntou o garoto de óculos. – Você parece nervoso. – Apontou ele, e Stiles rolou os olhos apesar de seu nervosismo. 

- E o quê te faz pensar que eu estou nervoso? Os tremores em minhas mãos, ou o cheiro do meu suor? 

- Nhaa... Sua cara de constipado foi o que te denunciou. -Val deu uns tapinhas consoladores nas costas de Stiles antes de apressar o mesmo para que este levantasse da cadeira. - Vamos lá, eu tenho pouco tempo de descanso e eu tenho de te mostrar onde a loja fica. 

Stiles relutou um pouco, mas acabou por seguir o amigo para fora da biblioteca.

Sinceramente, Stiles ainda não fazia ideia de como ele havia se tornado amigo de Val. Quero dizer, a forma com que eles se conheceram não foi nada normal, mas por algum motivo estranho, Stiles não conseguia se ver não sendo amigo do garoto de óculos que era tão nerd quanto ele próprio. Sem falar que Val sabia o que Stiles era e não se importava com isso, ele apenas tratava Stiles como uma pessoas normal, e ele não ficava pressionando Stiles para que ele fizesse algo ou sei lá. Ficar perto de Val era confortável apesar da aura incompleta que ele transmitia. 

E Stiles já tinha uma ideia sobre qual ser sobrenatural Val realmente era. Mas ele não falaria nada no momento, melhor ter certeza antes de apontar alguma coisa. 

Eles andaram por alguns minutos pelas ruas movimentadas do centro da cidade onde a biblioteca ficava, descendo algumas esquinas até uma rua mais parada com lojas mais antigas e alguns brechós.  

A loja pequena não podia ser mais discreta. A fachada não era parecida com as das outras lojas, o banner com o nome da loja não era chamativo, e as letras que soletravam " Casa do Chá e Cia" eram discretas. Tudo era como se o dono da loja não quisesse ser percebido ali naquele canto, e o próprio Stiles teria passado reto caso ele não tivesse sido avisado que aquela era a loja. 

-O nome dela é Silvia. -Informou Val quando Stiles engoliu a seco e o olhou incerto. 

-Tem certeza de que é aqui? Isso é uma casa de chá, eu pensei que você fosse me levar a uma loja sobrenatural ou sei lá... - Tentou sorrir Stiles ao voltar a olhar a loja, ou melhor, a porta da loja, já que isso era a única coisa visível. O lugar não tinha uma vidraça, ou janela por onde ver a parte de dentro. Era só um muro de tijolos gastos com o tempo com uma porta no meio e o letreiro em cima desta. O lugar era meio esquisito e tal, mas Stiles esperava algo parecido com as lojas do Beco Diagonal. Decepcionante por um lado, mas por outro lado, a simplicidade do lugar o deixava respirar melhor. 

-Bom, eu não sei o que você esperava, mas você pode ter certeza de que esse é o lugar certo. - Afirmou Val, sorrindo para Stiles antes de empurrar um pouco o adolescente na direção da porta. - Não precisa bater na porta, é só entrar, okay? Ela deve estar te esperando. - Ele mandou mais um sorriso antes de começar andar pelo caminho de volta, soltando um "boa sorte!" na direção de Stiles, e seguindo pela rua até virar a esquina. 

Stiles se voltou mais uma vez para a porta da loja. 

Okay, era agora ou nunca. 

Segurando um tremor de ansiedade, Stiles empurrou a porta de madeira, e ouviu o som do sininho  que tinha no batente e avisava quando alguém chegava. 

Pelo menos a porta não rangia.  

O cheiro de ervas e terra molhada foi a primeira coisa que Stiles notou, o que o acalmou de uma forma quase assustadora. A sensação de ter entrado em um lugar diferente do resto do mundo lá fora era forte, mas não era realmente estranho, curioso talvez. Era como se você soubesse que ali dentro era diferente. E não era um deferente do tipo " eu nunca vim nesse lugar antes", era um diferente tipo "eu acho que acabei de entrar em outra dimensão".

O ar ali era diferente, era húmido e pesado como o ar em uma floresta, e o cheiro ali apenas reforçava a sensação. Stiles estava esperando pelo canto dos pássaros silvestres e o zumbido dos mosquitos, o que, obviamente, não veio. Porque Stiles estava em uma casa de chá. E não em uma real floresta.  

É, diga isso ao meu cérebro. Pensou Stiles sarcástico antes de rolar os olhos para si mesmo e voltar a prestar atenção a sua volta. 

O lugar era maior por dentro do que por fora. 

Hn.  

Okay. 

Vasos, prateleiras, mesas de jardim e lâmpadas penduradas que iluminavam de uma forma amarela a loja. Estava tudo espalhado. Os vasos eram de variados tamanhos e formas. Todos com plantas tão vivas que era como se elas tomassem sol diariamente, o que era estranho, já que a loja não tinha janelas, e Stiles não conseguia imaginar ninguém carregando todos aqueles vasos para o lado de fora. As prateleiras eram como a de um supermercado, com caixas e pacotes com rótulos mostrando o nome das ervas e para o que elas serviam. Haviam alguns livros ali também, e nada nas prateleiras parecia seguir uma ordem, como se a pessoa que arrumou tudo ali apenas tivesse colocado as coisas onde tivesse espaço sobrando e achado que estava perfeito. As mesas de jardim eram brancas e feitas de metal torcido em formas delicadas e arredondadas. Não tinha nenhuma cadeira, e as mesas estavam fazias. 

O lugar todo era meio bagunçado, e não fazia muito sentido, mas não deixava de ser estranhamente confortável com o cheiro de terra molhada e as lâmpadas e suas luzes baixas. 

Ele andou para mais o que ele achou que fosse o meio da loja, procurando por alguém no lugar silencioso, e encontrou um bancada com mais vasos, dessa vez vazios, meio escondida atrás de uma prateleira a sua esquerda. Atrás da bancada havia uma abertura na parede, mas não tinha uma porta ali, apenas uma cortina de fios de nylon cheios de pedrinhas coloridas. Ele levantou uma sobrancelha, curioso, e esticou o pescoço ao tentar enxergar alguma coisa através da cortina, mas apenas viu um corredor escuro. Ele chegou mais perto da bancada, reparando que os vasos ali tinham tampa, e a cerâmica branca era trabalhada com alguns desenhos azulados. Os vasos eram bonitos, e pareciam mais delicados que os outros vasos na loja que eram todos cheios com algum tipo de planta. No canto mais perto da parede havia uma máquina registradora antiga disputando espaço com os vasos, e quase escondido entre os vasos havia um daqueles sinos que você encontra em hotéis para chamar a atenção de alguém. 

Stiles olhou para os lados mais uma vez, mas continuou sem ver ninguém, então ele deu de ombros e bateu um vez no sino dourado na bancada, ouvindo-o fazer barulho. 

-Eu já ouvi da primeira vez. - Stiles deu um pulo ao ouvir a voz suave e levemente rouca de uma mulher, e quase derrubou um dos vasos brancos ao bater no pescoço fino do mesmo com um braço quando tentou se afastar da bancada. Ele olhou de olhos arregalados o vaso mexer um pouco, mas felizmente a coisa não virou pro chão. - Cuidado com esses vasos, - Avisou a mesma voz, e Stiles ergueu a cabeça para encontrar o olhar vago de uma mulher de meia idade com os cabelos encaracolados e vermelhos descendo em cachos volumosos por cima de seus ombros. - Você pode acabar preso dentro deles.