[17] Traumas

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Apático.

O rastro de lágrimas secas marcavam suas bochechas, e a vermelhidão salpicada por seu rosto entregava seu choro recente. No entanto, não demonstrava nada, absolutamente nada, sequer um sinal de dor emocional, mesmo que sentisse sua caixa torácica quase esmagar o seu coração de tamanha angústia.

Os dedos sujos de sangue, a carne por baixo das unhas machucadas, o gosto metálico em seu paladar. Seu corpo gélido, ainda sentindo os efeitos do frio brutal do inverno, sentado sobre a cama que um dia foi de seus pais. O porta retrato ao lado, remetia a uma data alegre e carregada de sentimentos positivos, onde ele e sua amada família curtiram a última semana juntos, antes de seu pai ser encontrado morto em uma vala. Antes da sua mãe morrer de tristeza.

Talvez tenha sido seus últimos dias felizes, onde se via sorrindo para as paredes. Depois de tudo, sua vida se afundou em um poço de melancolia; e poderia sim rir e se divertir de vez em quando, brincar com seus amigos e encher a cara até perder o rumo de casa, mas ainda se sentia vazio. Estava vivo e saudável, só não estava feliz e duvidava que um dia seria.

Culpa.

Uma fisgada forte e profunda quase arrebentou seu órgão preso no peito.

Não conseguiu salvar a pobre menina, a infeliz ômega destinada a viver nas ruas para sofrer na mão dos dissimulados. Não pôde dar a ela um enterro digno, com orações e flores em uma cruz, somente uma cova fria afastada da civilização.

— Se deus existe... ele deve ser o diabo também — sua voz rouca se fez presente no recinto, tão baixa e dolorosa. — Cadê sua benevolência, uh? Onde foi parar?

Nunca foi de crer em alguma religião, e nunca fez questão em depositar sua fé num possível ser superior. Só que em momentos assim, ficava difícil não questionar. Ficava difícil não olhar para o céu e procurar respostas, porquê no fundo todos sabiam: ninguém responderia. Além da atmosfera, havia somente o espaço sideral com toda sua magnificência, não uma criatura celestial.

Acreditar e louvar um deus que não faz questão de ajudar seus filhos é quase masoquismo. E Jimin não era um masoquista, ele preferia centenas de vezes a sua lógica, o óbvio. O mundo era cruel e ponto. Alfas sempre veriam ômegas como objetos sexuais e ponto.

Desejava, do fundo do seu ser gritar por revolução e exigir seus direitos como um ser que vive e sente. Que caralhos! Ele era menos por ser considerado a classe mais fraca? De certo, não sentia ou pensava racionalmente como animais? Quem realmente é o irracional aqui, o alfa surtado que só pensa em enfiar seu maldito pau em algum buraco ou o ômega que sofre todos os dias apenas por ser o que é?

Ódio, tudo se resumia ao mais puro ódio e desprezo por sua própria raça.

Nojentos, seres imundos.

Suas mãos encheram-se com seus fios acastanhados, puxando-os com raiva, como se pudesse, de alguma forma, arrancar todos de uma vez de seu couro cabeludo. As lágrimas novamente embaçaram suas vistas, enxergando nada além de sua terrível dor emocional que não cessava. Era como uma ferida aberta, onde todos os dias alguém aparecia para abrí-la ainda mais.

Estava cansado de uma realidade que não mudava, de ver velhos perpetuando as mesmas idéias aos jovens. De ver um governo omisso, que não movia um dedo por ninguém.

Um suspiro entrecortado, um bolo se formando na garganta. Se levantou devagar e caminhou para o banheiro feito um morto-vivo, parando frente ao espelho, vendo seus lábios e queixo manchado com o sangue daquele desgraçado. Seus olhos carregavam bolsas profundas e olheiras medonhas, que só sumiriam depois de uma boa noite de sono.

War of ruined · jikook [ABO]Where stories live. Discover now