Pela primeira vez: Claire

1.2K 76 22
                                    

•Claire's POV•

- Tom, eu tenho casa, sabia? - o perguntei enquanto ele ainda fazia manha deitado com a cabeça em meu colo.
- Mas até você sabe que prefere ficar aqui do que lá. - ele mantinha sua cabeça inclinada para me fitar nos olhos.
- Não é nada disso, é só que eu não sei fingir igual a Melissa.

×××××××

Boa parte da minha adolescência eu passei na companhia de minha irmã Melissa e de minha mãe. Meu pai raramente ficava conosco ou fazia qualquer atividade familiar com a gente. Isso já era normal para mim, fazia parte da minha rotina e te-lo por perto era incomum demais. Quando voltei a Londres no meio do ano passado, 4 anos depois de ter ido morar em Nova Iorque por conta da faculdade, minha família havia mudado drasticamente e o que eu conhecia dela tinha ido por água abaixo. Ver meu pai trabalhando em casa e todos os dias interagindo com a gente não era comum para mim e me soava como algo falso, como se ele pudesse recuperar todo o tempo perdido num passe de mágica. Eu não me sentia confortável com aquela situação e Tom descobriu, antes mesmo de mim, que eu fazia de tudo para evitar aquela situação sempre arrumando algum lugar para ir aos fins de semana, quando não estava na agência.

- Claire? - ele chamou com sua voz em tom de alarme, transformando em fumaça os meus pensamentos.
- Oi! - olhei para baixo e o vi, ainda deitado em meu colo, me olhando com as sobrancelhas erguidas.
- Você não tava me ouvindo? - agora ele franzia o cenho.
- Não, me desculpa. - falei erguendo sua cabeça e me levantando do sofá - Agora eu tenho que ir.
- Ah não. - ele se sentou e olhou em seu relógio de pulso - Olha só, ainda são duas da tarde. Você não ficou nada.
- Fiquei sim, Tom. - eu dizia rindo de sua reação.
- Não ficou não, passou um tempao lá no mercado e quando voltou, ficou na cozinha preparando aquele negócio verde horrível. Você acabou de sentar aqui comigo! - ele metralhou as palavras e eu só conseguia rir e ficar feliz ao mesmo tempo por saber que ele me queria por perto - Além do mais, eu ainda estou doente, mocinha. - ele fez cara de desdém.
- E eu não sou sua mãe, mocinho. - imitei sua expressão facial.
- Anda Claire, fica só mais um pouco. Só até eu me sentir melhor, ai você pode ir. - eu sabia que ele já se sentia melhor por ver suas bochechas coradas, mas resolvi não retrucar e voltar a me sentar ao seu lado.

Me dei por vencida e dei a meia volta, descendo os pequenos degraus da sala e vendo a cara de vencedor do Tom observar cada passo que eu dava em sua direção. Senti que ele queria se gabar por ter vencido a discussão, mas não o fez para eu não desistir e ir embora de vez. O que confesso que não faria, pois queria estar perto dele e longe de casa com toda aquela atuação de família feliz de pote de margarina.

Tom voltou a se deitar no meu colo e voltamos a conversar sobre coisas estupidas e sem sentido como: o amargo do jiló que o obriguei a comer para se sentir melhor e a cor que ele mais gosta de usar quando está em casa. Quem tem uma cor preferida de roupas para ficar em casa?

Ele colocou "Full House" na netflix, mas só serviu para iluminar a sala que já estava escurecendo, afinal, não paramos de conversar desde que sentei novamente naquele sofá.

Subitamente, cortando o assunto em que havíamos entrado, Tom parou de falar e ficou me olhando, com a cabeça ainda apoiada em minhas pernas enquanto eu fazia pequenos cachos com os dedos em seus cabelos.

- O que foi? - sorri sem graça.
- Nada... - respondeu suave e meu coração se acalentou com o som de sua voz.

Ele continuou a me olhar sério e eu tentei disfarçar assistindo a aquela série que, fora do contexto, parecia sem sentido. Eu ainda podia sentir os olhos de Tom em cima de mim, queimar minhas bochechas e fazer o frio ir embora.

- Para! - abaixei meu olhar novamente e dei um tapinha em sua testa, rindo em seguida.
- Ai! - exclamou também rindo e levando a mão até sua testa - Parar com o que, doida?
- De ficar me olhando assim.
- É divertido, você fica toda sem graça.
- Não é nada divertido. - arqueei as sobrancelhas.
- Claro que é.
- Então esse era seu intuito? Me deixar sem graça? - semicerrei meus olhos em sua direção.
- Não, eu só estava admirando sua beleza e de bônus te vi ficar vermelhinha. - terminou sua frase e começou a me dar cócegas, mas parou quando comecei a estapea-lo.
- Para de me deixar sem graça, Tom! - falei em tom de súplica.
- Ta bom. - deu uma risada anasalada e voltou a encarar os pés - Sabe de uma coisa? Eu to com fome. - ele dizia balançando os pés.
- Eu também estou. - concordei.
- Vamos pedir uma pizza.
- Ah, então quer dizer que você já melhorou?
- Você vai embora se eu disser que sim? - parou de balançar os pés esperando minha resposta sem me olhar.
- Vou. - menti.
- Então eu ainda to doente. - agora voltou a balança-los.
- Besta. - ri e me levantei para ligar para a pizzaria - Vai querer pizza do que?
- Qualquer uma que tenha abacaxi. - ele me olhou enquanto eu discava o número do estabelecimento.
- Jura? Doce com salgado? - fiz cara de nojo.
- Pode desfazendo essa cara. - apontou para mim se sentando no sofá - É a melhor coisa do mundo, eu prometo.
- E o que eu posso fazer com você se eu não gostar? - arqueei as sobrancelhas.
- Eu deixo você me bater. - ele riu malicioso e eu virei de costas, revirando os olhos e sorrindo de sua audácia.

Polaroid | TOM HOLLANDDove le storie prendono vita. Scoprilo ora