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Luca

A deixei na casa já com meu plano traçado, estava certo de que aquilo exigiria mais de mim do que dela, mas era bom assim, eu também tinha muito mais a perder, se desse errado.

Invadir a boate e tentar arrancar respostas deles, não funcionaria, Pietro tinha um longo histórico de competição comigo. E isso ia muito mais longe do que um mero concurso de distância de mijo. Não... Aquilo era sério desde muito tempo, era estranho pensar que desavenças criadas na adolescência seriam levadas até meus benditos 23 anos. Mas... Muita coisa ainda me perseguia desde a adolescência.

Entrei em casa, e pela porta entreaberta do escritório, vi meu pai em sua costumeira "hora de elevar o espírito" outra baboseira que a maioria dos fiéis faziam em busca de alguma ajuda para suas vidas miseráveis.

Passei pelo corredor indo até o quarto dela. Sim, Rafaella tinha seu próprio quarto, e meu pai achava que aquilo solidificava ainda mais o casamento longo e abençoado deles. Não conseguia pensar sobre aquilo sem revirar os olhos e rir.

Abri a porta sem bater. ⸻ Posso falar com você?

Arrumando o cabelo, e tirando os óculos do rosto, ela sorriu já se convidando. ⸻ Claro, querido, entre.

⸻ Preciso que faça uma coisa por mim.

Ela descruzou as pernas vagarosamente e se levantou de sua penteadeira, se aproximando a ponto de me tocar.

⸻ Do que é que você precisa, meu amor?

Respirei fundo tentando relaxar os ombros. ⸻ Que faça compras com uma amiga. Amanhã tenho... tenho meus compromissos, como bem sabe.

Ela se afastou, desconfiada. ⸻ Uma amiga? Como assim, Luca? Desde quando você tem algum amigo?

Tive que pensar em uma resposta aceitável, ela sabia bem que eu não costumava dar abertura a ninguém. Ou, a quase ninguém. Depois de avaliar seu rosto curioso e quase incrédulo, decidi apenas me desviar da pergunta.

⸻ Preciso que a vista como você, que a deixe provocante o suficiente para enlouquecer qualquer homem. É isso...

Ela cerrou os olhos, se aproximando ainda mais de mim. ⸻ O que está tramando, querido? Você encontrou uma mulher...

Baixei os olhos. ⸻ Não, é só uma amiga. Vai fazer isso por mim, ou vou ter que pedir a outra pessoa? — disse já impaciente.

Balançando a cabeça, ela sorriu descendo a mão espalmada em meu peito até o cós de minha calça. Um arrepio gélido subiu por minhas costas, mas tentei disfarçar. ⸻ Você sabe que eu faço tudo por você, não sabe?

Engoli em seco. ⸻ Sei. ⸻ Afastei sua mão de mim e me virei. ⸻ Te espero amanhã às nove.

Esperei outra investida, mas graças a Deus ela não veio. Apenas assentiu concordando e fui para meu quarto, trancado a porta assim que passei por ela.

Era repulsivo, era penoso ter que ainda depender dela daquela forma, mas com tantos compromissos na igreja, e em dia de clínica, eu não conseguiria fazer a transformação que precisava em Beatriz. Rafaella podia ser uma vaca interesseira, mas sabia como lidar com aquilo. Pelo menos naquele quesito, ela era confiável.

****

Acordei assustado no meio da noite, me sentei na cama puxando as cobertas e olhando em volta. Quando constatei que estava sozinho, me soltei na cama olhando para o teto. Será que aquilo teria fim um dia? Aqueles malditos pesadelos que nunca me deixavam.

Sem a mínima vontade de dormir outra vez, me levantei e fui para o chuveiro. Deixei que a água morna lavasse o suor do meu corpo, sabia que aquilo era um reflexo da ansiedade por ter que colocar o plano em prática. Mas teria que ser feito, e precisava ser feito por mim.

Infame Where stories live. Discover now