32 Enrico

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Luca

⸻ Olha pra lá. ⸻ sorriu ela, prestes a enfiar a agulha em mim.

⸻ Fique á vontade, só estou olhando para você...

Ela respirou fundo se concentrando ⸻ Não consigo fazer com você prestando atenção em mim. Olha pra lá.

Sorri e virei o rosto, seus dedos tatearam meu braço e fechei os olhos quando senti a agulha, foi leve, e gentil, estava ficando melhor em fazer aquilo.

Ela terminou, e colou o curativo sobre o buraquinho. Me dando um beijo antes de se afastar.

Quando ela passou por mim de volta, estiquei o braço a puxando para meu colo. ⸻ Obrigado.

Seus dedos avançaram por meu cabelo até sua mão se instalar em minha nuca. ⸻ Pelo que?

Respirei fundo ⸻ Por existir na minha vida, Brasiliana. Por ser quem é.

Ela engoliu em seco afagando meu rosto de leve. ⸻ Antes de a gente ir, eu... Queria me abrir com você.

Me ajeitei na cadeira, me inclinando um pouco mais para longe dela, mas mantendo-a em meu colo. ⸻ Sobre o que?

⸻ Sobre Alice... Eu... Quero encontrá-la, quero que ela esteja bem, mas não sei o que vai ser quando, e se ela voltar... Porque...

Fechei meus olhos ⸻ Eu sei... Mas vamos fazer o seguinte. Vamos colocar nossos planos em ordem cronológica. Primeiro Enrico... E vamos ver o que acontece.

⸻ Eu só quero que saiba que eu não quero perder você. Eu não posso...

Assenti. ⸻ Você não vai. Não vai, Beatriz. Até agora nós só perdemos, está na hora de mudar esse jogo.

⸻ Eles são muitos...

⸻ São... Mas de alguma forma, vão cair como peças de dominó, uns sobre os outros. Eu acredito nisso. Se o Deus de verdade é mais poderoso do que o que meu pai inventou, ele deve estar do nosso lado. ⸻ ela assentiu ⸻ Agora vá se arrumar, pretendo chegar antes do horário marcado.

****

Eram dez e meia quando parei a moto em frente a boate, sem problemas em me identificar. O lugar estava cheio, mas Pietro bebia no bar sozinho.

Beatriz passou seu braço por minha cintura e fomos até a mesa dele.

⸻ Ora se não é meu casal favorito! ⸻ riu ele ⸻ Está uma delícia, bella...

Beatriz sorriu ⸻ Eu sei, obrigada.

Sorri olhando para ele, que já tinha perdido o humor irônico ⸻ E então, cadê ele?

Ele apontou para o chão.

⸻ No porão, está um lixo, quase não o reconheci.

⸻ O que ele te falou?

Ele ergueu as sobrancelhas ⸻ Pra mim? Nada é claro. Pode estar um trapo, mas ainda é um Donatti.

Suspirei ⸻ Então me leve até ele. E vamos acabar com isso.

Ele deu de ombros, fazendo sinal para que o seguíssemos. Apoiei a mão na cintura de Beatriz para caminharmos entre as pessoas atrás dele. A porta de madeira para o porão estava úmida, e as escadas cheiravam a algum produto de limpeza que eu não conseguia identificar. Desci os degraus atrás dele, amparando Beatriz atrás de mim. Quando chegamos ao subsolo, ele acendeu uma lâmpada fraca que mal iluminava as muitas caixas de bebida ali estocadas.

Enrico estava no chão, sentado no canto com roupas desgastadas e sujas, estava mais magro, com o cabelo e a barba mais compridos. Mal pude acreditar em meus olhos vendo ele naquela situação, logo ele, que sempre prezou tanto pela aparência. Quase senti pena. Quase.

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