10 Confiar

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Luca  

Cambaleei para fora da boate, senti meu rosto inchando, a pele não havia sido rompida, mas eu não precisava que isso acontecesse para ter problemas. Os seguranças só pararam de me seguir quando virei a esquina perdendo o contato com a entrada da boate.

Me senti perdido. Pela primeira vez estava me sentindo arrependido de um plano que eu mesmo havia criado, não podia ter mandado Beatriz para as garras de Pietro daquele forma...

Me encostei na moto tentando raciocinar. Tentando me lembrar que Beatriz era uma golpista, que ela devia saber o que estava fazendo. Que não correria perigo.

Mesmo assim, em uma luta interna, peguei o celular e mandei uma mensagem para o aparelho dela.

Subi na moto e fui direto até o bangalô, a esperaria por lá, dependendo do que ela descobrisse, eu teria que tomar providências.

Entrei em casa buscando o espelho sobre o aparador, meu rosto estava inchado e meus braços estavam doloridos, as juntas dos pulsos e cotovelos ardiam sem trégua.

Decidi esperar, talvez eu não precisasse recorrer tão rápido a alternativa, tinha medo dos efeitos de uma superdosagem.

Me sentei no sofá apoiando uma toalha com pedras de gelo sobre o rosto. Mas a dor não estava me incomodando, na verdade, o pior eram as lembranças, a sensação de ter me deixado levar por Beatriz. Que ela já tinha algum tipo de poder sobre mim era óbvio, mas não a ponto de me tirar o foco daquele jeito. Eu quis mesmo desistir. Colocar meu desejo acima do propósito de tazer Enrico de volta.

Era imensamente difícil pensar quando não havia mais uma gota de sangue em meu cérebro. Mal conseguia me lembrar da última vez que uma mulher havia me feito ficar naquele estado, eu não conseguia, porque já fazia muito tempo. E há muito tempo, não tocava alguém daquele jeito também. O misto de sensações me deixava perdido.

Baixei a mão com a toalha de meu rosto, o sangue já se acumulava debaixo da pele. Ficar longe do tratamento daquele jeito só me causava problemas. Nem mesmo das minhas horas na piscina eu podia desfrutar... E era por isso, por isso, eu precisava de Enrico. Ele tinha que me tirar daquela enrascada. Eu precisava da minha vida, do meu tempo, precisava parar de negligenciar meu tratamento, porque não queria que tudo voltasse a ficar ruim de verdade.

Quando percebi que o inchaço continuava aumentando, abri uma das gavetas do aparador para pegar o que eu precisava, não adiantaria lutar mais contra aquilo.  Voltei para a geladeira pegando um dos frascos.

Examinei-o, era o mais simples, então dilui a dose e me sentei à mesa, estiquei o braço procurando a veia, já sentindo aquela sensação ruim, posicionei a agulha, engoli em seco tentando fazer minhas mãos pararem de tremer, contei mentalmente até três e afundei a agulha esperando que o sangue chegasse até a ponta da mangueira, foi mais rápido do que eu esperava, e aquilo, não era bom.  Comecei a injetar vagarosamente o líquido, segurando meu estômago, ameaçando colocar tudo para fora vendo o sangue voltar pela mangueira, sendo empurrado de volta para mim. 

Nunca gostei de fazer aquilo sozinho, não era... Confortável, o sangue... Não era...

Ouvi o barulho de um carro, olhei no relógio da parede oposta e já eram quase três e meia.

Me recostei na cadeira, tentando focar meus olhos e reprimir a tontura.  Mais dez minutos e eu não teria que explicar nada. Lamentei.

A porta se abriu abruptamente, e em seguida ouvi o som dos saltos no assoalho de madeira chegando mais perto.

Ela se apoiou na cadeira ao meu lado, olhando do meu braço até meu rosto com mais do que curiosidade.

Percebi seu corpo oscilando de um lado para outro. A maquiagem estava borrada, as alças do vestido estavam caídas em seus braços e ele subira, enrolado nas coxas fartas dela, praticamente deixando tudo a mostra.

Infame Where stories live. Discover now