11 Cartas na mesa

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Bea

Ele virou as costas e saiu do quarto, toda aquela atitude só corroborava com tudo o que eu e Alice havíamos descoberto. Luca tinha problemas. Mas não podia deixar de me sentir ainda mais segura com ele. Quando vi a moto parada em frente a casa, precisei testar.

A comprovação de que ele era muito melhor que o irmão era nítida, e na mesma hora queria voltar no tempo e ter mais informações para dar a ele. Infelizmente, não as tinha, não o suficiente, ou o quanto ele precisava.

Abri o armário revirando as sacolas de compras ainda não mexidas, não havia nada de confortável ali, Rafaella havia escolhido bem, mas todas eram roupas provocantes demais, muito além do que eu gostaria.

Abri outra parte do armário vendo algumas roupas, é claro que Luca tinha peças de roupa em casa, apesar de ele não morar ali. Peguei uma camisa social azul e uma cueca boxer preta na gaveta, tirei a calcinha, vestindo a cueca e abotoando parcialmente a camisa, dobrando as mangas até os cotovelos. Estava finalmente confortável.

Caminhei do quarto para a cozinha sentindo um cheiro delicioso de camomila, inspirei fundo parecendo que aquelas horas na boate com Pietro tinham sido em outra vida.

Arrastei a cadeira e me sentei na cabeceira da mesa enquanto ele coava o chá, passando o líquido por uma peneira fina. Nada de chá daqueles de saquinho, ele preparava tudo com a própria planta.

Ele se virou para a mesa pegando duas xícaras, as servindo com a chaleira e se sentou a minha frente, me entregando uma delas.

— Beba, vai te fazer bem. — disse ele seriamente.

Baixei meus olhos para o líquido, o cheiro preencheu todo o ambiente, e me perdi em meus pensamentos.

— Me desculpe. — falei por fim, acho que era a melhor maneira de começar aquela conversa.

Ele cerrou os olhos para mim — Está usando uma das minhas cuecas? — disse deixando escapar um sorriso de deboche.

Mordi o lábio, constrangida — Rafaella não me deixou escolher nada, não tenho nada confortável para dormir, desculpe.

Ele riu, se voltando para sua xícara, levando o líquido até a boca, e quando olhou para mim outra vez, um rubor quente tomava suas bochechas.

— Imaginei, mas não tem problema, aliás, ficou bem em você.

— Sinto muito por ter testado você, eu...

Ele se inclinou um pouco mais para mim — Eu entendo... Você está sozinha, para todos os efeitos, deveria estar morta naquele incêndio, entendo de verdade que não confie em ninguém. Mas pode acreditar em mim, queremos a mesma coisa.

Minha cabeça vagou nas possibilidades, e pelo menos no que se referia a sexo, parecia que não, não queríamos a mesma coisa, quantos homens já haviam me recusado? Ou não cairam no truque do vestido?

— Então... Podemos ser francos um com o outro, é isso? — investiguei seu semblante — Porque estou realmente curiosa sobre você.

Ele suspirou — Podemos e devemos, senhorita Beatriz, e não querendo menosprezar sua curiosidade, mas... Por que estava "disfarçada" quando me encontrou a primeira vez?

Ri baixando os olhos. É claro que ele tinha me reconhecido...

— A ideia era me aproximar e sondar você, o disfarce é só para não ser reconhecida na multidão, não tinha intenção de me aproximar de você de novo. — falei francamente, e ele pareceu aceitar a resposta.

— Então já sabia quem eu era naquele dia...

Tomei um gole do chá, não estava adoçado e não consegui reprimir a careta. Ele sorriu, se levantou indo até o armário, e voltou me oferecendo o açucareiro e um vidro de adoçante. Agradecendo apenas com o olhar, peguei o açucareiro colocando quatro colheres de açúcar enquanto ele me observava. Dissolvi o açúcar deixando o chá parecendo um melado.

Infame Where stories live. Discover now