26 O filho pródigo

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Luca

Recebi Giacomo logo pela manhã em casa, ele carregava meu smoking, e um bilhete de Rafaella com as principais informações e horários da celebração.  Agradeci rapidamente, já que era um dia cheio para ele e eu sabia bem disso.

Me arrumei ainda pela manhã, e seguindo o plano, fui para casa perto do meio dia. De táxi, porque queria evitar chamar a atenção. Entrei pela garagem, subindo as escadas para a sala. 

Pessoas que eu não conhecia passavam de um lado para o outro, tive a noção da grandeza daquilo que eu só tinha tido a oportunidade de ver por fotos, quando fui embora, não tinha participado de nenhum dos dias como aquele.

Parei na porta do escritório, que estava como sempre, entreaberta, meu pai estava em sua grande cadeira confortável, de olhos fechados e com as mãos unidas envoltas por um rosário de pedras azuis.

Fiquei parado ali, incapaz de interromper sua oração, mas seus olhos se abriram e ele me fitou com espanto.

⸻ O que está fazendo aqui?

Engoli em seco e me aproximei, mas parei quando sua mão direita me fez um gesto de advertência.

⸻ Essa casa não é mais a sua casa, Luca. Sei que Rafaella já lhe avisou disso, você é uma vergonha.

Respirei fundo tentando manter a calma. ⸻ Sabe o que é uma vergonha maior? O senhor subir no alto de um palco para exaltar sua igreja e seus fiéis a quem chama de família, sem que a sua esteja presente. Admita, que com Enrico sumido, o senhor precisa de mim. O filho pródigo que retorna ao seio da família recuperado de suas transgressões... Você me fez um símbolo, e quero estar ao seu lado, pai.

Suas mãos bateram contra o tampo da mesa e ele ficou em pé. Deu a volta na mesa grande de mogno e parou a minha frente, sua altura quase igual a minha, mas sua postura fazia meu corpo se encolher.

⸻ E o que você ganharia fazendo tal "favor" ao seu pai que você acha que te odeia? Que tentou matar você?

Não podia acreditar que Rafaella havia contado isso a ele...

⸻ Queira você ou não, eu sou um Donatti, e sei que esse é o legado da família. Rafaella me mostrou a foto que enviaram... Eu tenho minhas diferenças com Enrico, mas não deixei de procurá-lo.

Ele ficou pensativo mas então pousou autoritariamente sua mão em meu ombro. ⸻ Que seja então, vai acompanhar Laura, mas não lhe dou autorização para dizer nenhuma palavra sobre nada.

Assenti ⸻ Como quiser.

Eu estava certo, nada para ele vencia o poder de um jogo de aparências.

Ele me soltou e me virei para a saída, mas fui interrompido por sua voz.

⸻ Luca... ⸻ Me virei. ⸻ Eu vou dar a minha vida, mas vou descobrir quem o estava envenenando.

Encarei-o com interesse, procurando algum traço daquele discurso ensaiado que ele sempre adotava, mas não havia nada ali.

⸻ Eu... Sei que não aprova...

⸻ Não consigo conceber, um filho meu vivendo como um parasita... Um ser que precisa de parte de outro para continuar vivendo... Luca, você deveria ser a luz de nossa casa, o significado de seu nome foi uma revelação a mim... Mas você só trouxe escuridão, desgraça e vergonha para nossa familia. Eu queria conseguir te amar, mas quando olho para você, só vejo o sangue de outras pessoas em suas veias... Só vejo você como uma coisa suja... ⸻ ele fechou os olhos como se lutasse consigo mesmo a voz mansa tornava aquilo ainda pior. ⸻ Mas isso, não dá o direito a quem quer que seja de tentar envenená-lo sob o meu teto.

Infame Where stories live. Discover now