28 Basta!

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Luca

Fiquei parado olhando Pietro arrastar Beatriz para longe enquanto as pessoas ao redor me encaravam. Eu podia apostar que algumas delas haviam ouvido até mesmo a parte em que eu concordava com ele, porque de uma hora para outra, os olhares que eram de apreensão se tornaram acusadores.

"Está contra seu pai, Luca Donatti!" "Infame, conspirador"
"A vergonha da família" "Por isso ele ficou exilado!"

Cambaleei para trás sentindo minha cabeça quase rodar. Os rostos daquelas pessoas chegando cada vez mais perto, algumas já ameaçavam avançar para cima de mim. Eu não podia argumentar, eles eram piores que robôs, eu estava cercado. Entre argumentar e acabar linchado, ou me virar e me afastar deles, fiquei sem reação.
E aí senti braços me apertando por trás. Suas mãos passaram por meu peito de uma forma protetora e me virei, quado Rafaella me puxou para ficarmos atrás de Giacomo.

A multidão ainda estava em total indignação, mas Rafaella abriu caminho comigo até no carro.

Giacomo tomou a direção e saimos dali indo para o meu bangalô, ainda estava trêmulo, e mesmo que as mãos de Rafaella segurassem as minhas, minha cabeça ainda estava lá, naqueles rostos, como um flashback infeliz do dia em que saí do hospital e centenas de fiéis queriam impedir que eu chegasse até o carro. Queriam de algum jeito me exterminar com os olhos, eu havia machado o nome da família, a família que eles achavam que era a deles também. E mais uma vez eu era o culpado.
Daquela vez, fui direto para o aeroporto com documentos permitindo minha viagem sozinho, e quando cheguei em terra, fui recebido pela diretora do colégio... Onde fiquei até os 23 anos, e de onde não deveria ter voltado. Dessa vez, para onde me mandariam?

⸻ Eu já não tenho mais como te defender Luca... Outra vez, você quebrou a confiança de seu pai, ele permitiu você em nossa comemoração, e você sai no meio da multidão indo de encontro a Pietro! O que você tem na cabeça?

Olhei para ela que estava completamente indignada.

⸻ O que faríamos se você fosse espancado pelos fiéis da igreja? Tem noção da repercussão que isso teria para nós? A mancha que seria em nossa história?

Respirei fundo para não responder. Era o que eu sempre fui... Uma mancha...

Giacomo estacionou nas pedras e desci batendo a porta do carro, passei reto pela entrada da casa e arranquei os sapatos quando pisei na areia. A praia estava cheia de turistas, mas comecei a deixar um rastro de roupas para trás, arranquei smoking, gravata, camisa e calça, caminhei pela água até mergulhar e nadar, nadar até meus braços queimarem até não conseguir mais ouvir as vozes na praia até meu fôlego ficar ofegante e eu me ver em mar aberto.

Fechei os olhos apenas sentindo o movimento das ondas. E logo depois, voltei a dar braçadas, já estava tão afastando da praia que mal conseguia ver as pessoas por lá. Era acalentador, o silêncio, o nada...

Mas em certo momento, percebi que a menos que eu me afogasse, aquilo não resolveria nenhum dos meus problemas, Enrico estava nas mãos de alguém, diante da festa mais importante da minha família, eu acabei de destruir qualquer coisa que eu pudesse ter. Depois daquilo, me casar com Laura, assumir o filho de Enrico... Nada adiantaria...
E estava bem claro que o mais importante para eles era a reputação. Não que eu já não soubesse, mas tive a certeza, que se isso fosse bom para a imagem da igreja, eles deixariam que eu fosse surrado até a morte em praça pública.

Mas o que mais me incomodava naquela história toda, era ver Beatriz escapando por entre meus dedos, ver como Pietro já a havia manipulado com relação a mim. Eu a queria de volta... A queria a salvo, porque com ele, nada era garantido...

Infame Where stories live. Discover now