Um-dois-trê, AFASTA!

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Corri vestir meu avental amarelo enquanto minha residente do dia me atualizava da situação.

- Acidente de trabalho, Brian Smith de 23 nos, usando ferramenta de corte, e o disco rompeu e se cravou em seu peito. A mãe dele está em prantos na sala de espera, pediu para salva-lo, pois acabou de ser aceitou em uma universidade comunitária de medicina.

- Pobre Brian. Diga a mãezinha dele faremos o que pudermos. Pede uma ressonância, preparem uma sala de cirurgia, e peçam pra doutora Sarah Chamber me encontrar na sala de ressonância.

Coloquei algumas compressas em volta dos ferimentos e ajudei a empurrar a maca até a ressonância.

Quando o resultado ficou pronto, Sarah chegou.

- Precisa de uma consulta Dra. Mattingly? – ela me deu um sorriso doce.

- Sim, aparentemente nosso trabalhador aqui tem uma perfuração no ventrículo direito e no estomago. Pode entrar comigo na cirurgia?

Ela olhou o exame rapidamente, então respondeu.

- Com certeza, vamos lá.

- Ok pessoal, levem ele pra sala de cirurgia, já vamos. – estava torcendo pra não estar tão feio por dentro como aparentava. Ele precisava ir pra universidade.

Corri me lavar e me preparei pra entrar. Sarah entrava logo atrás de mim.

- Boa tarde pessoal, temos na nossa mesa um futuro médico, vamos caprichar nessa cirurgia e manda-lo pra universidade. Tudo preparado para cirurgia de peito aberto?

- Sim doutora. – uma voz conhecida respondeu. Olhei para ver e era Margarett. Ok, agora o dia começava a piorar.

Retiramos os fragmentos, e a pressão começou a cair. Sarah começou a trabalhar pelo coração, e eu tentei suturar rapidamente o estomago, mas o musculo parecia triturado. Então precisei dar uma atenção maior aos retalhos.

- Sim, eu também fiquei surpresa – ouvi um cochicho e um risinho.

Olhei rapidamente e vi Margarett rindo com outra enfermeira.

- Algo engraçado aqui enf. Margarett? – perguntou Sarah.

- Não, Dra. Me desculpe. – ela respondeu.

Passados alguns minutos, ouvi novamente, mas dessa vez recebi a informação completa, que fez meu estomago embrulhar.

Aparentemente Nicholas havia chamado ela para sair. Ótimo. Porque eu me importava com isso mesmo? Ele era meu irmão.

A conversa continuava, e minha raiva ia aumentando. Eu queria esganar Nicholas, mas isso não ia me desconcentrar. Não na minha sala de cirurgia.

Respirei fundo e parei o que estava fazendo, para olha-la nos olhos e dizer:

- Enf. Margarett, a senhorita está sendo extremamente inconveniente com esses risinhos. Estou tentando salvar nosso paciente. Será que a senhorita poderia ser profissional, como os seus demais companheiros dentro da minha sala de cirurgia?

- Si-sim doutora, por favor me perdoe – ela falou, e eu me senti mal por ser grossa, mas voltei ao meu dever.

Quando eu estava quase acabando as minhas suturas, o musculo cedeu novamente e então o paciente teve uma parada.

- Não, não, NÃO POR FAVOR – comecei a me desesperar – Aguenta firme Brian!

- 10 de adrenalina direto no coração – Falou Sarah.

- Tragam o desfibrilador – falei alto. Logo me passaram, e posicionei as pás em volta do coração – carrega em 20. Um... dois... três... afasta!

Olhei o monitor, e nenhum sinal de atividade.

- Injeta mais 5 de adrenalina – gritou Sarah.

- Carrega em 30. Um... dois... três... afasta! – olhei novamente e nada – vi Sarah se afastar e me desesperei – faça massagem cardíaca Sarah!

- Não tem mais o que fazer Gwyneth – ela me falou séria.
Joguei as pás pro lado e segurei o coração, começando a massagear aquele órgão tão novo, de um menino trabalhador que deveria ir pra faculdade ainda. Mas eu não sentia nenhuma reação no musculo cardíaco.

- Já chega dra. Mettingly – Sarah falou, mas não me afastei, então ela deu a volta e retirou minhas mãos do paciente – Gwyneth, querida, não há mais o que fazer.

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