Primeira Má Impressão

CAPÍTULO XIX

Nathan McCain

Há apenas três momentos da minha vida em que me vi diante de situações difíceis de lidar. Primeiro deles foi quando meu pai ficou muito doente, quase me enlouquecendo com a ideia de perdê-lo, o segundo, ver minha irmã definhando em um relacionamento abusivo e tomar a atitude de ajudá-la a dar o pé do traseiro do desgraçado, por último, foi carregar o caixão de David para a cerimônia no cemitério, sabendo que um futuro brilhante havia sido tirado dele. É claro que houve outros momentos complicados, os famosos obstáculos que o destino gosta de pôr em nosso caminho, mas esses três são o que mais me marcaram até então e esperava que demorasse um pouco mais de tempo para acrescentar mais um a lista.

Não poderia estar mais enganado...

Parado no lado de fora do apartamento da Kay, sentindo ainda a agitação da discussão de minutos atrás e o peso de tudo que foi dito, o que mais quero é voltar para dentro e beijá-la até esquecer de tudo, como se tivéssemos acabado de chegar da nossa tarde de aventura pela cidade. Entretanto, isso está fora de cogitação, sugeri que déssemos um tempo e não posso voltar atrás. A última hora acabara de se tornar o quarto momento mais difícil, pois estou perigando perder a mulher que desejo viver junto pelo resto da minha vida. Porra! Xingo alto com a demora do elevador e decido descer pelas escadas, nem me importando de estar no andar abaixo da cobertura. Quem sabe o exercício me ajude a colocar a cabeça no lugar!?

A imagem da minha garota com o ex no dia em que nos conhecemos me assombra a mente a cada degrau vencido. Vejo-a sorrir para ele, permitir que lhe beije o pescoço e a boca, sem se incomodar com a presença dos pais, mesmo com a Lori me infernizando, observei todas essas ações. Kay Blackwood à primeira vista era tão petulante, devolvera o meu mal humor em dobro e quase me estrangulou quando mencionei o seu irmão, chamando a minha atenção. É o oposto da Lori, cabelos curtos, escuros, olhos amendoados, boca carnuda, em sua pele sempre há pouca maquiagem, o corpo tem curvas, o vestido vermelho Borgonha abraçou todas elas. Para resumir, é uma mulher que não precisa se esforçar para se sentir bonita, atraente. Lembro de pensar que o filho da puta do Ryan tinha muita sorte.

Houve um segundo encontro após a desastrosa apresentação, porém, a irmã caçula do Blane escolheu ignorar a minha existência, assim como a da minha nada confiável noiva da época, não nos encontramos por longos meses. Finalmente terminei com a Lori e dediquei meu tempo para o trabalho, desviando das amigas que Steve tentara jogar para o meu colo, além de me redimir com o homem por quem Susan se descobriu apaixonada.

Logo que me livrei de todos os costumes ruins que a mulher que quase se tornou a minha esposa acabou me passando, virei um grande fã do meu cunhado, não só por ter certeza que minha irmã está em boas mãos, que é um cara que a respeita acima de tudo, mais sim porque Blane Blackwood é o tipo de pessoa que você quer ter por perto. Engraçado, confiável, talentoso no que faz e sabe conversar sobre tudo. Como a sua linda e geniosa irmã não esteve presente nos mesmos lugares que eu, o pouco que conheci dela foi através do Blane. Demorou um pouco até notar que sua ausência ocorreu por conta da minha presença.

Em um jantar na casa dos sogros da minha irmã, onde mais uma vez não tive o prazer de provocá-la, esperei para ficar a sós com o meu cunhado para pôr fim a minha dúvida.

Segurando a última taça de vinho que me permito beber essa noite, segui o namorado tatuado da Susan caminhar para a varanda da frente da casa. Enquanto se acomodou no balanço de madeira branco, me sentei na cadeira com estofados floridos perto dele, virados em direção à rua pouco movimentada. O bairro que a família Blackwood escolhera para viver é perfeito para os filhos crescerem, longe da agitação e pouco espaço da cidade.

Bebi um gole do vinho antes de virar o rosto para encarar Blane e com curiosidade, perguntei:

- Sou o motivo da Kay não ter vindo ou estou enganado?