CAPÍTULO XXII - PARTE II

416 26 117
                                    


A administração de tempo acabou saindo do controle. Tomar banho, ajeitar o cabelo, fazer a maquiagem e me vestir levou mais do que um par de horas, resultando em um leve atraso. Minha mãe, irmão e Sammy já haviam enviado mensagens, os três estranharam a minha ausência, o que significa que estavam preocupados com a possibilidade de ter desistido de ir na festa. Enviei uma resposta avisando que estou a caminho antes de entrar no elevador e guardei o celular na bolsa tipo carteira, tentando normalizar o batimento cardíaco e a respiração. Cada vez que me aproximo mais do momento em que enfrentarei o advogado, mais nervosa fico. Não sei se isso soa arrogante, mas não lembro da última vez em que tive que conquistar alguém. Sempre fui tão desapegada ao ponto de não ir atrás quando o cara não demonstra interesse. Eu perdia o interesse também. De certa forma, estou me sentindo uma adolescente de novo, tomada por incertezas, a excitação e o receio de estar em frente ao dono dos meus pensamentos. Ao mesmo tempo em que estou morrendo de saudade de encarar seus olhos azuis, me certificar que está bem, que os leves franzidos em volta deles ainda aparecem no instante em que seus lábios estampam um sorriso largo.

O som da campainha anunciando que o elevador chegara na garagem subterrânea tocou, me trazendo de volta a realidade. Cumprimentei o Senhor e Senhora Johnson ao sair, o casal de meia idade se moveu para entrar. Eles já moravam no prédio quando comprei o meu apartamento e foram os primeiros a me prestar boas-vindas, se oferecendo a ajudar em qualquer coisa e apesar do Senhor Johnson ter alcançado seus 70 e tantos anos, o homem possui disposição para fazer trabalhos braçais. Ambos abdicaram da casa longe da cidade, no campo, para ter um apartamento em São Francisco, perto dos seus filhos e netos. Quando precisam descansar, eles sequestram a família para um final de semana na casa de praia deles. Recebi vários convites para me juntar a eles, odeiam me ver tão sozinha.

Caminhei até o mini cooper, entrei e não demorei muito para dar partida no carro. Sammy e Blane me assassinarão se demorar mais uma meia hora, não duvido que um deles resolva me buscar à força, por motivos diferentes e igualmente importantes. Apesar do atraso, não forcei o pé no acelerador, afinal, é sábado à noite, há muito movimento e todo cuidado é bem-vindo, não quero estragar a festa com um acidente.

Segui as instruções do Blane para chegar no clube que a família McCain frequenta há anos. No portão, dei meu nome e só depois que confirmaram na lista, a minha entrada foi autorizada. O local possui quadra de tênis, minicampos de golfe, piscina, aulas de yoga e mais uma porção de atividades para preencher uma tarde livre. Quase no centro de tudo está o imponente salão de festas, palco de bailes anuais, de caridade, temáticos e de casais, segundo Susan me contou em uma conversa. O estacionamento perto do salão é estratégico, pois assim evita que as mulheres andem um longo percurso sobre saltos altos. Parei o carro em uma das poucas vagas que restam e com cuidado para não prender parte do vestido na porta, saí de dentro do veículo. Tranquei-o, mesmo sabendo que os riscos de tentar roubá-lo são nulos, há muitos guardas vigiando os arredores.

Com o corpo virado em direção a bela estrutura do salão, empaquei no mesmo lugar, me sentindo estranha por não ter as mãos ocupadas, me arrependi de ter enviado o presente para a casa dos pais de Susan e Nathan, ao invés de tê-lo trazido para cá. Seria difícil pra caramba carregar uma vitrola com corneta, contudo, ao menos era algo em que poderia me distrair. Fiquei alguns minutos tomando coragem, só decidi começar a caminhar para a entrada ao assistir um casal – que estacionara sua BMW perto de onde estou – tomar o rumo da festa. Cerca de 3 metros de distância deles, passei as mãos no cabelo pela milionésima vez nas últimas horas e ajeitei a alça da bolsa carteira no ombro. Subi os três degraus, dando de cara com um espaço cheio de fotos antigas da família em um painel de madeira, duas poltronas com estofado de veludo creme, um tapete macio combinado com o ambiente, lembrando um cômodo na cabana do lago Tahoe. Durante as miniférias que mudou a minha vida, Susan e Nathan comentaram que os pais tem um apego grande a cabana, muito por conta de terem tido um começo de vida juntos difícil.

Primeira Má ImpressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora