CAPÍTULO XX

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A primeira noite após o afastamento entre Nathan e eu foi uma das mais difíceis da minha vida. O sofá virou a minha cama, pois o quarto e os lençóis brancos estavam impregnados com seu cheiro, tornando impossível me sentir confortável no cômodo. Tentar dormir também foi uma tarefa árdua, os olhos ardiam de tantas lágrimas derramadas nas últimas horas e nas poucas vezes em que consegui fechá-los, imagens nossas juntos invadiram a mente, me obrigando a mantê-los abertos.

É irônico lembrar que há meses, afirmei com a maior segurança de que ficaria tudo bem se não desse certo o envolvimento, seguiria a vida como fiz com o Ryan e os que conheci antes dele. Nada me preparara para a terrível sensação de desamparo, desespero e de saudade, mesmo sem ter passado 24 horas do fatídico momento. Sem coragem de fechar os olhos, com o começo do nascer do sol, com a exaustão do estresse pesando em meus ombros e segura de que minha melhor amiga não estaria acordada, enviei uma mensagem para a Sammy que não me sentia bem para ir trabalhar. Minha atenção, por alguns segundos, se prendeu ao nosso grupo com várias mensagens não lidas e por impulso, abri a conversa, me deparando uma porção delas direcionadas a mim e ao advogado. Provocavam-nos por sumirmos e não responder seus inúmeros recados, sem saber que não estamos no nosso melhor momento. Se é que teremos mais alguns juntos. Suspirei alto ao fechar a conversa e comandada por mais um impulso, abri a privada que mantenho com Nathan desde que me convidou para sair. Com um sorriso triste, li as últimas provocações e fotos que mandamos um para o outro, principalmente nas noites em que não dividimos a mesma cama. Uma porção delas eram do advogado com uma expressão de desânimo na própria cama, sozinho, sem camisa e de cabelo despenteado. Meu coração apertou ao ler a palavra online abaixo do seu nome e sem hesitar, fechei o whatsapp, para não correr o risco de ter outra crise emotiva. Não preciso ser vidente para saber que Nathan não me mandará nenhuma mensagem de bom dia ou qualquer outro cumprimento. Ele não se manifestará se eu não der o primeiro passo.

Devolvi o celular para a mesa de centro e virei o corpo, dando as costas para a tv e com o rosto virado para o encosto estofado do sofá. Fechei os olhos, tentei me entregar ao cansaço da situação, da saudade de ser acordada pelo advogado cheirando meu pescoço. Tirarei o dia para me acostumar com a ideia de sua ausência e treinar uma expressão que passe confiança de que nosso rompimento não me afetara, principalmente para Sammy. A minha chefe e amiga consegue farejar uma mentira de longe.

O dia se arrastou lentamente, meu estado se tornou deplorável, digno de pena. Nem ao menos troquei de roupa e a única tarefa que realizei além de lamentar olhando para as paredes, foi me dedicar a revisão de um livro. Apesar do irmão da Susan ocupar os meus pensamentos na grande parte das horas, em certo momento consegui me concentrar nas palavras diante dos meus olhos. Tentei não passar a minha frustração para a caneta que uso para anotar os erros e sugestões, o pobre escritor não tem culpa das minhas escolhas estúpidas.

Levei a tarefa de ocupar a mente com livro tão a sério, que só o larguei quando o céu de São Francisco já havia escurecido e me obriguei a quase me arrastar até a cozinha para preparar uma salada para o jantar. Normalmente, nos meus melhores dias, é o momento em que enquanto preparo animada o meu jantar, sinto um frio na barriga com a ansiedade do Nathan chegar no meu apartamento. Hoje, me dediquei a preparar uma salada simples e servi uma taça de vinho, em seguida carreguei a simples refeição para a sala de estar.

Acomodei-me de volta ao lugar que fiquei quase a tarde inteira, liguei a TV e comecei a comer em silêncio, prestando atenção na programação, que ironicamente é um episódio de Suits pela metade. Meu primeiro impulso foi trocar de canal para algo que passe longe do mundo da advocacia, porém, o meu eu masoquista não permitiu, continuei assistindo a série. A imagem de todas as vezes em que vi Nathan concentrado no trabalho, todo sério antes de uma audiência, invadiu a minha mente. Tomei um gole generoso do vinho para anestesiar a vontade de derramar mais lágrimas, que por incrível que pareça, ainda há o que derramar.

Primeira Má ImpressãoWhere stories live. Discover now