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Anne era uma mulher muito charmosa. Tinha uns olhos castanhos cor mel e um sorriso que podia contagiar toda a gente à sua volta. Acho que podemos descartar Harry sendo o bebe adotado porque ele era igual a mãe, pena não ser tão alegre quanto ela. Acho que ainda não o vi sorrir desde que o conheci.

Anne pousou as suas chaves na entrada e olhou surpresa para nós.


Anne: Harry! Não sabia que tinhas amigos- disse surpreendida


Contive-me para soltar uma gargalhada e Harry corou um pouco enquanto olhava para a mãe com um ar chateado


Anne: O que quero dizer é, não sabia que tinhas amigos cá em casa- corrigiu

Harry: Estávamos à tua espera- explicou- Posso perguntar-te algo?


Harry tinha voltado ao seu tom sério, o que fez com que a sua mãe parecesse um pouco assustada com o que poderíamos querer falar com ela. Anne caminhou até ao sofá e sentou-se confortavelmente, pronta para ouvir o filho.


Harry: Então, nós descobrimos recentemente umas coisas que gostaríamos de confirmar contigo e, se soubesses algo mais, gostaríamos que nos contasses- pediu

Anne: Até me estão a assustar- riu nervosa

Harry: Lembraste do ano em que nasci? - perguntou calmamente

Anne: Claro, 1994!

Harry: Nesse ano houve algum dos nossos vizinhos que tivesse adotado um bebé? - perguntou indo direto ao assunto

Anne: Porque é que queres saber isso? - perguntou reticente

Harry: Fui adotado? - insistiu

Anne: Não, claro que não! Como é que podes pensar isso quando há fotos minhas da gravidez? E ecografias! Para não falar das nossas parecenças! - disse chateada

Harry: Então quem é o bebé que foi adotado? - retomou a pergunta principal

Anne: Filho, esse não é um assunto em que te devas meter...- disse nervosa- E como é que vocês sabem disso sequer? - perguntou enquanto nos olhava

Andrew: Isso quer dizer que sabe quem é o tal bebé? - insistiu

Eu: Andrew, deixa que seja o Harry a falar como concordámos- repreendi num sussurro


Anne estava literalmente entre a espada e a parede e eu conseguia sentir o seu nervosismo. Ela sabia mais do que estava disposta a contar-nos, mas os dois rapazes ao meu lado pareciam decididos a obter uma resposta às suas perguntas.


Harry: Mãe...- insistiu

Anne: Meninos, vocês têm que compreender que esse não é um segredo meu para que o partilhe- explicou

Andrew: Mas se não é nenhum de nós pode contar-nos, só queremos saber a verdade


Anne olhou para Andrew de uma forma triste e temi ter percebido o que aquele olhar significava. Na verdade, todos na sala devem ter percebido o seu olhar, porque ficou um silêncio mortífero de repente.


Andrew: Sou eu? - perguntou já com lágrimas nos olhos

Anne: Andrew...- suspirou


As lágrimas escorriam pelo rosto de Andrew e acho que nunca tinha visto um olhar tão vazio como aquele. O rapaz ao meu lado, a quem eu chamava de amigo, levantou-se de repente e abandonou a casa onde nos encontrávamos, batendo violentamente com a porta principal.


Eu: Andrew!- gritei enquanto corria atrás dele mas foi em vão


Mal alcancei a porta da casa, já Andrew estava dentro do seu carro a avançar a toda a velocidade. Temia por ele e o que ele poderia ir fazer de cabeça quente.


Anne: É isto que dá meteres-te onde não és chamado! - repreendeu o filho


Como é que isto é possível? Como poderia ser Andrew o bebé que tinha sido abandonado? Ele estava tão certo de que não seria ele que nunca pensámos que este seria o desfecho da situação. Arrependo-me de termos sequer lido aquele livro imbecil.

Para começar havia a possibilidade haver um monstro na minha família e agora isto do Andrew. Um rapaz tão simpático, doce e amável como ele não merecia passar por uma situação destas. Será que deveria ir ver se ele tinha ido ao encontro de Thomas?

Olhei para trás e Harry estava a vir na minha direção


Eu: Acho que vou ver se ele foi a casa do avô pedir justificações- disse quando estávamos suficientemente próximos para que me ouvisse

Harry: Eu levo-te lá, afinal contribui em parte para esta situação- suspirou


Fomos até à garagem da casa e entrámos no Range Rover branco e preto de Harry. O carro era simplesmente lindo. E a casa! Nem sei como é que tendo estado lá dentro nem reparei que a casa era uma das maiores da cidade. Se tivesse que apostar, diria que era quase do tamanho da de Thomas, onde decorreu o baile e não me posso esquecer que a casa de Thomas mais parecia um palacete. O que será que Harry faz para ter dinheiro para uma casa destas? Será que foi herança? Ou será que ainda vive com a mãe? O que faz sentido, visto que Anne tinha acabado de chegar e estava a agir como alguém que tinha acabado de entrar na sua própria casa.

Suspirei e encostei a cabeça no vidro da janela enquanto Harry conduzia. Não acredito que estávamos naquela situação.

Mal chegámos a casa de Thomas, corri até à porta de entrada e toquei insistentemente à campainha, até que uma senhora já de idade abriu a porta.


Eu: Boa tarde! Desculpe incomodar, por acaso o Andrew está? - perguntei tentando parecer calma

Senhora: Lamento, o menino Andrew saiu há algum tempo e disse que ia ter com uma amiga e para o avô não o esperar para o jantar

Eu: Oh- disse desapontada- Obrigado


A senhora parecia confusa, mas não me importei, virei costas e fui ao encontro de Harry que me esperava pacientemente no carro. Entrei e fiquei a olhar para ele.


Eu: Sabes mais algum lugar onde ele possa ter ido? - perguntei preocupada

Harry: Não somos propriamente amigos, não sei quase nada sobre ele para além de que vive com o avô porque o pai está constantemente a viajar em trabalho e que a mãe morreu há uns anos- suspirou

Eu: Oh- suspirei com pena

Harry: Não sabias? - perguntou nervoso

Eu: Não- admiti

Harry: Boa, hoje não paro de me intrometer na vida das pessoas- revirou os olhos- Queres que te deixe em casa?


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