Enquanto dava voltas e voltas na minha cabeça, para saber como haveria de reagir, Harry agia como se nada se tivesse acontecido. Não havia realmente um manual para momentos constrangedores como este então estava entregue a mim mesma, num desespero que parecia aumentar a cada segundo que passava.
Harry era dos poucos amigos que tinha feito desde que tinha chegado á cidade e, para dizer a verdade, nunca tinha sequer imaginado que algum dia estaria nesta posição. É verdade que ele é um homem bastante atraente, bonito e educado, mas éramos amigos. E amigos não se imaginam a beijarem-se, não é verdade?
Porém, agora que tinha acontecido, não conseguia parar de reviver o momento na minha cabeça. Os lábios dele nos meus. A sua mão a agarrar-me para que não me afastasse. A sua respiração na minha. Os seus olhos verdes nos meus depois que acabou. Como é que é suposto passar por tudo isto e não desejar repetir? Como é que é suposto olhar para ele da mesma forma?
Como é que é suposto dormir na mesma cama que ele, daqui a umas horas?Suspirei e desisti dos meus pensamentos. Sentia que quanto mais pensasse, pior a situação iria parecer. Secalhar, tudo aquilo não tinha passado de um acontecimento motivado pelas circunstâncias em que estávamos. Tínhamos vindo numa viagem para esquiar, iríamos dormir juntos, estávamos a fazer tudo juntos... E naquele momento, estávamos demasiado próximos e a provocar-nos, então pode simplesmente ter acontecido...
Quem é que quero enganar? Tinha gostado e desejava que se voltasse a repetir, embora não fosse dar o primeiro passo para que isso acontecesse.
Ganhei coragem e olhei Harry. Ele estava a olhar-me enquanto acabava o seu chocolate quente.
Harry: Se soubesse que ficaríamos assim, não o teria feito- suspirou
Eu: Desculpa, só não sei como reagir
Harry: Podes até fingir que não aconteceu, apenas não trates desta forma
Eu: Desta forma? - perguntei confusa
Harry: Estás calada, quando costumas ser a pessoa mais faladora de nós. Estás pensativa, quando costumas falar sem pensar. E olhas-me com medo, como se tivesse voltado a ser um desconhecido- explicou calmamente
Eu: Não é nada disso. Só não esperava que isto tivesse acontecido. E agora que aconteceu, não consigo não pensar nisso e desejar que... - obriguei-me a parar de falar
Apesar de muitas vezes falar sem pensar, como Harry acabou de referir, desta vez ainda consegui calar a minha boca a tempo. Se a situação já estava estranha, ao acabar aquela frase, provavelmente, ia estragar tudo e danificar a nossa amizade. Provavelmente ele beijou-me por impulso e está arrependido, então eu revelar que gostei e o quero beijar, não é nada boa ideia.
Harry: Desejar que... ? - perguntou enquanto me olhava com uma intensidade diferente do normal
Eu: Nada, esquece- disse envergonhada- Podemos fingir que nada aconteceu, por favor? Não quero arruinar a nossa amizade
Harry pareceu um pouco triste mas acabou por concordar comigo. Acabámos as nossas bebidas e deixamos-nos ficar um pouco mais sentados, embora o silêncio entre nós tornasse a situação desconfortável. Felizmente, Andrew e Thomas finalmente decidiram juntar-se a nós e salvar o dia.
Eles contaram-nos do concurso que fizeram e em como Thomas ganhou devido a toda a sua experiência em patinagem, de vez em quando íamos fazendo algumas intervenções na conversa, para que não parecesse estranho. Por meia dúzia de vezes apanhei Harry a olhar-me e outras tantas vezes foi ele quem me apanhou a encara-lo, mas tentámos sempre disfarçar a situação.Se Andrew antes já achava que se passava algo entre nós, imagino se lhe contasse sobre o beijo que tinha acabado de acontecer.
Depois de todos terem terminado as suas bebidas, voltámos para o carro de Thomas e fizemos o caminho de volta até ao chalé. Sai primeiro que Harry e fui até ao quarto, o que provavelmente não foi uma ideia muito boa, porque nós o partilhamos.
Breves segundos depois de eu fechar a porta atrás de mim, ela abriu-se e voltou a fechar-se rapidamente, revelando Harry.
Harry: Temos que resolver isto- resmungou
Eu: Eu sei- suspirei desesperada
Harry: Fingir que não aconteceu, pelos vistos, não vai resolver nada
Fiz o que mais temia, e ignorei completamente a minha cabeça, avançando até ele e colando os nossos lábios novamente. Desta vez, o nosso beijo foi bastante mais demorado e ambos estávamos bastante confortáveis. Desejava que pudéssemos ficar assim para sempre, mas Harry acabou por nos afastar. O seu olhar demonstrava toda a sua admiração, enquanto a sua respiração estava ofegante.
Não sei o que me deu para fazer isto, mas estava feliz que o tinha feito. Arruinasse ou não a amizade com Harry, estava satisfeita.
Harry: Então era isto que desejavas e não querias dizer- disse num tom convencido, enquanto se ria
Harry segurou delicadamente o meu rosto nas suas mãos e deu-me um leve beijo nos lábios.
Eu: E agora? - perguntei envergonhada
Harry: Agora, não sei- admitiu
Eu: Espero que saibas que não te amo- disse cada vez mais envergonhada
Harry: Mas desejas-me- abriu um sorriso cada vez maior
Eu: Nunca tinha pensado em ti, dessa forma. Pelo menos até me beijares no café- admiti
Harry: E agora pensas?
Eu: Não sei explicar, apenas sei te vejo de outra forma. Não lhe podemos chamar amor, mas talvez lhe possamos chamar desejo
Harry: Isso para mim basta, por enquanto
Eu: O que queres dizer com por enquanto?
Harry: Vamos ver onde esta situação nos leva- encolheu os ombros
Eu: Prometes que não vamos estragar a amizade que temos? - perguntei receosa
Harry: A amizade que construímos vai ser sempre a base de tudo. Se virmos que a estamos a estragar, recuamos no que estamos a fazer. Que tal? - propôs e ameaçou juntar novamente os nossos lábios, mas afastei-me ligeiramente
Eu: Okay
Tinha acabado de concordar com Harry mas só depois de o fazer percebi o que tinha acabado de fazer. Tanto eu como Harry concordámos que não nos amávamos, como podíamos? Mas, ambos sentíamos um tipo de atração um pelo outro, ainda que não a sentisse há muito tempo. Consequentemente, tínhamos concordado em ver em que iria essa atração dar, ou seja, uma amizade colorida.
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Bookshelter |H.S|
Fanfiction"Todos os bons livros são parecidos, pois são mais verdadeiros do que se realmente tivessem acontecido e, depois de ler um, sentirás que tudo aconteceu contigo e que tudo te pertence: os bons e os maus, o êxtase, o remorso e a tristeza, as pessoas e...