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O almoço foi bastante rápido, quase nem tive tempo para apreciar a comida, pelo menos tanto quanto eu gostaria. Depois de sairmos do restaurante, Harry deu-me um pequeno beijo na bochecha e saiu a correr na direção oposta a mim. Fiz o caminho até ao apartamento sozinha e senti-me um pouco triste, embora soubesse que seria apenas por algumas horas.

Para me entreter, assim que cheguei ao meu destino, decidi que iria arrumar as nossas roupas, para que não ficassem todas amarrotadas. Comecei pelas minhas, que pareciam ser mais e logo a seguir peguei na mala de Harry, para guardar toda a sua roupa. Fiquei surpreendida ao ver que apenas tinha trazido dois pares de calças, duas camisolas e alguma roupa interior.

Realmente, os rapazes são bem mais simples quando o assunto é roupa e viagens.

Ia guardar a sua mala, num canto escondido, quando reparei numas folhas e, curiosa como sou, resolvi espreitar para ver o que era. Reconheci de imediato do que se tratava. As folhas escritas à mão com a caligrafia perfeita de Harry, tinham algumas anotações sobre os acontecimentos na cidade de Rye. Alguns daqueles apontamentos tinham sido tirados do caderno de Thomas...

Fiquei confusa com o porquê de Harry ter feito aquelas anotações, e ainda mais com o porquê de ele as ter trazido com ele, mas acabei por guardar as folhas onde estavam, para que ele não achasse que me tinha andado a intrometer nas coisas dele.

Já tinham passado algumas horas desde que Harry tinha ido para a sua reunião. Desde então eu tinha arrumado as nossas roupas, comprado alguma comida para as nossas refeições, tomado um banho, lido um livro e contado todos os livros nas prateleiras daquele apartamento. Eram mais de 4500!

Estava demasiado aborrecida quando ouvi alguém abrir a porta e olhei na expectativa de ver Harry. Afinal, só podia ser ele visto que mais ninguém sabia o código da porta.


Eu: Olá - disse quando vi a sua figura cansada passar pela porta, fechando-a logo a seguir

Harry: Hey - disse suspirando enquanto me olhava


Visto que já não faltava muito para o espetáculo para o qual tínhamos comprado bilhetes esta manhã, achei que o melhor seria vestir-me antes que Harry chegasse e preparar o jantar, para evitar atrasos.


Harry: Alexa- suspirou enquanto coçava a cabeça atrapalhado

Eu: O que se passa?- perguntei preocupada

Harry: Não vamos poder ir ao espetáculo- disse parecendo triste

Eu: Porquê? - perguntei confusa e desanimada

Harry: Surgiu uma coisa de trabalho

Eu: Oh, está bem


Atirei-me para o sofá e fiquei lá a observar enquanto Harry tomava um banho e em seguida trocava de roupa. Ele estranhou as suas coisas estarem arrumadas, mas estava com tanta pressa que nem comentou o assunto.

Eu: Vais jantar ao menos? - perguntei quando o vi a meter perfume

Harry: Infelizmente, não


Harry lavou os dentes, deu-me um beijo na testa e saiu sem dizer mais nada. Era estranho ele estar a dizer que algo do trabalho tinha surgido, quando ainda esta manhã me tinha prometido que apenas teria que comparecer na reunião e depois ficava livre. E se era algo de trabalho, porque raios ele se tinha arranjado todo?

Fiquei super curiosa, mas, mais uma vez, decidi ignorar o assunto. De certeza, que não passavam de coisas da minha cabeça.

Suspirei e fui até à cozinha, para jantar. Mais uma vez, encontrava-me sozinha. Começo a achar que não foi boa ideia vir com Harry. Decidi, durante o jantar, que independentemente de Harry ir comigo ou não, que não perderia o espetáculo. Pelo menos era algo que me ia manter entretida uma grande parte da noite, arrumei a cozinha e então agarrei no meu telemóvel, saindo para a rua e fazendo todo o caminho até ao teatro.

Quando lá cheguei, não havia muitas pessoas então não tive que esperar muito tempo.


Empregado: Lamento, mas estes bilhetes já foram usados- disse confirmando pela terceira vez

Eu: É impossível! Foram comprados esta manhã e só eu e o meu amigo é que os temos- expliquei novamente


Os bilhetes eram virtuais, o que significa que tinham sido enviados para o meu email e do Harry. Não havia forma alguma de terem sido utilizados, visto que Harry estava a fazer sei lá o quê para o trabalho, e eu era a única ali.


Empregado: Minha senhora, é como lhe disse. O sistema nunca se enganou, e esta não será a primeira vez. Os seus bilhetes já foram usados. Para entrar, terá de comprar novos- insistiu

Eu: Ao menos posso saber quando foram usados? - pedi calmamente

Empregado: Lamento, mas não posso dar essas informações



Revirei os olhos e virei costas ao empregado, dirigindo-me até à bilheteira. Realmente o dia não me estava a correr lá muito bem.


Eu: Boa noite, gostaria de comprar um bilhete para o espetáculo que vai começar daqui a 5 minutos

Empregada: Lamento, já não há mais bilhetes

Eu: Como assim? - perguntei chateada

Empregada: Nós só podemos vender bilhetes até uma determinada hora, visto que falta tão pouco tempo, não lhe posso vender o bilhete

Eu: Oiça, a senhora não está a perceber! Eu comprei bilhetes esta manhã! Bilhetes esses que o seu colega diz que já foram usados, o que é impossível porque estão no meu email e do meu amigo, que está a trabalhar.

Empregada: Lamento não a puder ajudar- disse e começou a ignorar a minha presença


Gritei de frustração e comecei a caminhar na direção oposta daquele teatro. Os franceses e as suas regras parvas de não puderem vender os bilhetes. Tentei ligar a Harry, para explicar o que estava a acontecer, mas ele rejeitou de imediato a minha chamada e, quando tentei mais uma vez, ia direto para o voicemail. Ótimo, para além de me ter abandonado, agora ainda me ignora.

Será que ele realmente tinha ido ao espetáculo sem mim? Era a única explicação, visto que os bilhetes tinham sido usados e só nós dois tínhamos acesso a eles.Caminhei até um bar do lado oposto do teatro e assim que entrei, sentei-me num dos bancos disponíveis no balcão.


Eu: Quero uma vodka-cola, por favor- disse quando o empregado me deu atenção- Sem gelo


Uma bebida ia definitivamente ajudar a melhorar o meu humor. E, na verdade, era o que precisava, visto que nada me estava correr bem.

Mal a minha bebida chegou, ataquei-a como se estivesse a morrer de sede e o empregado olhou-me espantado.


Eu: Pode trazer o mesmo, novamente, por favor

Empregado: Não quer algo mais fraco? - perguntou enquanto me olhava atentamente

Eu: Se quisesse algo mais fraco, tê-lo-ia pedido- respondi sendo mais rude que o necessário


O empregado não disse mais nada e simplesmente me serviu mais um copo, que desta vez bebi mais devagar, apesar de a minha vontade ser de o beber todo de uma vez. Estava irritada e só queria voltar para a minha casa, onde não me sentiria sozinha, abandonada ou até mesmo magoada.


Como estão meninas? O que estão a achar da história? O que acham que aconteceu com os bilhetes?

Bookshelter |H.S|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora