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Acordei ao sentir algo molhado escorrer da minha testa e demorei alguns segundos até que os meus olhos se adaptassem à luz. Assim que o fizeram, vi Harry sentado ao meu lado, enquanto passava o que me pareceu ser uma toalha molhada pela cara.

Harry: Estás a arder em febre- lamentou

Não sabia o que havia de lhe dizer, na verdade, conseguia sentir os calafrios no meu corpo.

Harry: Tens fome? - perguntou interrompendo os meus pensamentos

Eu: Alguma- admiti calmamente

Harry: A minha mãe trouxe-nos sopa, vou buscar-te um pouco. Não saias da cama- advertiu

Agora que ele tinha mencionado o facto de estar deitada na cama, em vez de estar no sofá, onde me lembrava de ter adormecido, tinha-me deixado a pensar. Será que ele me tinha trazido para aqui? Onde está Andrew?

A minha cabeça estava a doer tanto que tive que deixar todas a preocupações para quando estivesse melhor. Simplesmente agarrei na toalha, que anteriormente estava na mão de Harry, e depois de a molhar novamente, coloquei-a sobre a minha testa, numa tentativa de me sentir melhor. Sentia uma dor latejante, como se a minha cabeça estivesse prestes a explodir e não pudesse fazer nada para o impedir.

Harry entrou no quarto novamente, e trazia algumas coisas num tabuleiro.

Harry: Vais ver que te vais sentir melhor assim que comeres alguma coisa- disse tentando animar-me


Assenti e sentei-me na cama enquanto ele pousava o tabuleiro nas minhas pernas. A sopa cheirava realmente bem e parecia estar bem quente, devido ao fumo que saía do prato. No tabuleiro estava ainda um copo com água e uma laranja.

Eu: Não sou grande fã de comer fruta- disse enquanto olhava para a laranja

Harry: O teu corpo precisa de toda a ajuda possível, para recuperar depressa, então vais comer essa laranja e, se me chateares, ainda trago mais umas quantas

Revirei os olhos a Harry, mas não estava realmente numa posição em que pudesse simplesmente dizer não, ele tinha razão e eu sabia disso. Além disso, ele estava ali a ajudar-me quando nem sequer era a obrigação dele, então tinha que tentar ser simpática e mostrar-me agradecida pelo seu gesto.

Harry: Abre a boca- disse enquanto imitava um avião com a colher cheia de sopa

Ri-me bastante porque aquilo era o que se fazia aos bebés quando eles se recusavam a comer. Apesar dos meus protestos para comer sozinha, o rapaz de olhos verdes ao meu lado insistiu em dar-me a sopa, dizendo que tinha que poupar as minhas forças.

A meu ver, ele estava só a divertir-se a fingir que eu era uma criança que precisava dos seus cuidados. Para não esquecer o facto de que, de vez em quando, ele, fingindo que era sem querer, falhava a minha boca e me sujava a cara, o que me fazia rir bastante.

Apesar de estar doente, a presença de Harry tornava tudo muito mais divertido.

Eu: Vou cortar amizade contigo e com o Andrew- brinquei enquanto comia a laranja

Harry: Acho muito bem que cortes a amizade com ele, afinal, olha só como ficaste por causa dele- resmungou- Agora, comigo, que estou aqui a alimentar-te, enquanto ele dorme no quarto ao lado, acho injusto- sorriu envergonhado

Eu: Não te esqueças que fui presa por tua causa- pisquei-lhe o olho

Harry: Acho que está na hora de dormires mais um pouco- disse mudando de assunto- Deves estar cansada

Eu: Não vou conseguir, a minha cabeça parece que vai explodir- disse enquanto me escondia debaixo dos cobertores, como se fosse uma criança

Harry: Vou ver se tens alguns comprimidos para isso- disse enquanto se levantava

Eu: Não tenho- disse rapidamente- Não costumo ficar doente muitas vezes, então não tenho medicamentos em casa

Harry: Posso sempre ir comprar- ofereceu

Eu: Não é preciso, também deves estar cansado. Faz-me companhia a ver um pouco de televisão- pedi educadamente

Dei espaço para que Harry se deitasse ao meu lado na cama e liguei a televisão. Entreguei-lhe o comando e ele decidiu meter na Disney, onde estava a dar "Brandy and Mr Whiskers". Aquela sempre foi das minhas séries preferidas da Disney, então fiquei bastante entretida a ver o episódio e só notei que Harry não partilhava do meu entusiasmo, quando comecei a ouvir um leve ressonar sair da boca dele.

Sorri ao olhar para ele. Harry estava deitado de lado, virado para mim, os seus caracóis caiam-lhe calmamente sobre o rosto, e a sua boca estava ligeiramente aberta.

Desliguei a televisão, para que não corresse o risco de acordar o rapaz ao meu lado, e tapei-nos. Estava cansada, mas sentia que não conseguiria adormecer de imediato, o que me deixava frustrada.

Acordei ao sentir alguém tocar-me e abri os olhos assustada. Tinha sido Harry, que enquanto dormia, me tinha abraçado e estávamos agora em conchinha. Sorri com a sua vulnerabilidade e logo me permiti voltar a adormecer, agora mais descansada.

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