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Louis: Anda lá, vou levar-te ao aeroporto- disse quando estávamos completamente recuperados da nossa aventura


Louis fez sinal a um táxi, para que parasse e assim que entrámos indicou-lhe o nosso destino. Demorou um pouco até que conseguisse comprar um bilhete com destino a Londres, mas ao fim de alguma persuasão acabei por conseguir. Tive de esperar algumas horas, pois o meu voo só era no início da noite, e, por mais que insistisse, Louis não me deixou até que soubesse que eu estava de regresso a casa, sã e salva.

Para nos entretermos nas longas horas de espera, fomos até uma das lojas de conveniência do terminal onde nos encontrávamos, e comprámos-lhe uma peruca e algumas roupas diferentes das que ele normalmente usaria, para que ele pudesse regressar ao hotel e fazer o check-out. Comprámos também alguns snacks e, quando reparámos nas horas, já estava na altura de eu embarcar.

Despedi-me do estranho que tinha deixado de ser assim tão estranho nas últimas horas, e acabei por embarcar. A viagem foi bastante rápida, especialmente porque a passei entretida a pensar em toda a situação da noite passada.

Sempre fui um pouco dramática, mas nunca tinha feito algo como a noite passada. Se for a pensar bem no assunto, estava bebeda e acabei por me enfiar no quarto de hotel de um estranho que, felizmente, não me fez mal. Não sei onde tinha a cabeça, mas parece que sempre que o assunto é Harry, não consigo ser racional. E isso irrita-me para caramba!

Gostava de conseguir controlar a situação, nem que por um bocadinho, mas parece que, desde que me mudei para Rye, perdi o controlo de toda a minha vida.

Harry é a pessoa mais misteriosa que alguma vez conheci. Para começar, não fala muito sobre a sua vida pessoal, mas, o mais intrigante, é mesmo o facto de ele não falar sobre o seu trabalho. E para não esquecer, ele conseguiu localizar-me da noite para o dia, literalmente.O que quer que ele esconda, não me parece que seja coisa boa...

Mal aterrei em Londres, já o motorista da família me esperava no aeroporto para me levar a casa. Antes de entrar no avião tinha enviado uma breve mensagem a informar os meus pais de que estava a caminho para passar algum tempo com eles. Claro que tive que lhes dizer que precisava que alguém me apanhasse no aeroporto.


Ethan: Seja bem vinda de volta, menina- disse mal parei perto dele

Eu: Obrigado, Ethan


Ethan era o senhor já com alguma idade, de cabelos grisalhos e que trabalhava para a minha família desde que me consigo lembrar. Ele e a esposa, Kiera, viviam numa casa de hóspedes que ficava nas traseiras da casa da minha família. A verdade é que os meus pais eram bastante abastados, apesar de eu não gostar de o admitir e não o ter revelado por completo aos meus amigos de Rye, quando lhes contei o porquê de me ter afastado da minha família.


Ethan: Os seus pais estão bastante contentes com a sua visita, menina- disse quando entrámos no carro

Eu: Aposto que acham que falhei na minha mudança- disse revirando os olhos

Ethan: Não diga isso- repreendeu de forma meiga- Eles têm tido imensas saudades suas e até fizeram questão de ir sabendo como estava

Eu: Como? - perguntei confusa

Ethan: Já devia saber que eles têm os meios dele


Fiquei a pensar no que Ethan tinha revelado durante o resto da viagem. Será que os meus pais tinham recorrido a algum detetive para irem tendo noticias minhas? Não era a primeira vez que faziam usufruto de um profissional desse tipo, visto que o fizeram há uns anos, quando acharam que estavam a ser burlados.

A verdade é que eles tinham demasiado dinheiro e então arranjavam sítios sem sentido nenhum para o gastar.


Ethan: Os seus pais fizeram questão de a esperar acordados- disse mal passámos o portão da propriedade- E Kiera também está com eles, para a receber. Acredito que ela lhe tenha feito o seu prato preferido

Eu: Que bom! - disse super entusiasmada pela última parte- Tinha tantas saudades suas e de Kiera! E da comida, como é óbvio- disse rindo na última parte

Ethan: Está a pensar ficar muito tempo? - perguntou curioso

Eu: Ainda não sei, mas provavelmente não poderei porque agora tenho a livraria para gerir- disse sorrindo tristemente


Ethan e Kiera sempre foram como uns segundos pais para mim, porque eram eles quem passavam mais tempo comigo, quando era mais nova. Eles moravam na casa que ficava no quintal desde sempre e maior parte da minha infância foi lá passada. Kiera adorava cozinhar e passava o tempo a fazer-me bolachas e bolos deliciosos, quando não estava a cuidar da casa onde os meus pais moravam, já Ethan tinha que cuidar da manutenção do jardim e afins, mas, quando não o estava a fazer, levava-me a dar longos passeios, brincava comigo no parque e muitas outras coisas. Basicamente, eles tornaram a minha infância muito melhor do que seria, se não os tivesse.

Não é que os meus pais fossem maus pais, mas apesar do dinheiro que tinham sempre fizeram questão de trabalhar e nas áreas deles, os horários eram muito incertos e variados, então nem sempre conseguiam passar o tempo que desejavam comigo.

Deixei-me de pensamentos sobre o passado e inspirei fundo, saindo do carro e tocando à campainha de casa. Podia ter entrado diretamente, mas não me sentia confiante ao ponto de o fazer.

Fui recebida por um par de braços que me puxaram para si com muita força e sorri de imediato. Aquele cheiro era inconfundível. Kiera. Abracei-a de volta e ficamos assim por uns minutos, até que ela me afastou para limpar as lágrimas de alegria do seu rosto. Ambas rimos e caminhámos ao encontro dos meus pais.

Ao contrário do que esperava, fui recebida de braços abertos. Tanto William como Lucy me abraçaram e fizeram imensas perguntas para saberem como eu estava e se precisava de algo. Metemos alguma conversa em dia e logo fomos até à sala de refeições, visto que tinham esperado por mim para comer.


Eu: Tenho algo que gostaria de vos perguntar- disse timidamente, a meio da refeição


Já tínhamos falado sobre o meu negócio, tinha falado sobre Andrew e em como éramos bons amigos, fiz uma breve descrição da minha casa e de como têm sido os meus dias em Rye. Os meus pais tinham ouvido atentamente e feito algumas questões, mas eles pareciam já saber algumas das respostas e foi isso que serviu para me confirmar que o detetive da família tinha andado a investigar, apesar de nunca ter desconfiado ou visto algo suspeito antes.


William: Se vais perguntar se podes regressar a casa, sabes que sim, esta sempre foi e sempre será a tua casa- disse sorridente

Eu: Não é isso- disse calmamente

William: Então?

Eu: Tenho, ou tive, algum avô ou bisavô chamado George? - perguntei tentando acabar finalmente com o mistério que não me saia da cabeça há algum tempo


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