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O resto almoço acabou por ser bastante calmo. Andrew acabou por ficar o resto da tarde comigo, pois queria evitar ir para casa e encarar o avô sozinho. Estivemos o tempo todo a rir e a brincar enquanto arrumávamos livros e aquele devia ter sido o dia de trabalho mais divertido desde que tinha aberto o meu próprio negócio. Talvez devesse começar a fazer mais publicidade ou a oferecer algo mais do que cupcakes para tentar chamar a atenção aos clientes.

Estranhei Harry não ter voltado. Estava constantemente a olhar para a porta na esperança de o ver a entrar pela mesma, mas não foi o caso. Será que ele levou a mal Andrew ter vindo almoçar comigo? Ou eu não o ter convidado para se juntar a nós? Podíamos ter encomendado mais comida, mas Harry nem me deu hipótese de pensar nessas alternativas, mal viu Andrew a entrar com a comida parece que fugiu logo.

A hora de fechar a livraria chegou e Andrew já tinha as minhas coisas na mão e esperava me impacientemente junto da porta enquanto eu assinava a receção dos livros que teria que meter às compras no dia seguinte. Normalmente, teria deixado tudo preparado para o dia seguinte, mas Andrew estava demasiado impaciente para me dar tempo de fazer o que quer que fosse. Nem sequer tinha conseguido espreitar qual era o livro.


O carro de Andrew estava estacionado mesmo em frente da livraria, então ainda não tinha acabado de trancar a porta, já ele me estava a buzinar para me despachar. Tranquei a porta e entrei para dentro do carro, dando uma leve chapada no braço de Andrew. O rapaz ao meu lado só se riu e eu revirei-lhe os olhos. Ele estar a rir-se era bom, certo?

Depressa chegámos à casa de Thomas e Andrew soltou um grande suspiro. Saí do carro e tive de lhe abrir a porta como incentivo para que saísse do veículo também. Caminhámos até à porta e a mesma senhora com quem tinha falado ontem, abriu-nos a porta.


Senhora: Menino Andrew! - disse enquanto lhe dava um abraço rápido. O seu avô estava tão preocupado consigo. Vou avisá-lo de que já chegou- disse e logo saiu numa corrida pela casa adentro

Eu: Vês? Continuas a ser amado, nada mudou- sussurrei enquanto caminhávamos pela casa


Andrew olhou sério para mim e continuou a caminhar. Fomos até um escritório, que presumi ser de Thomas, e acabámos por nos sentar à espera que o mesmo aparecesse.



Eu: Como é que o teu avô vai saber que estamos aqui? -perguntei enquanto observava o espaço


Do lado esquerdo da sala, as paredes estavam cobertas por livros de cima a baixo e havia uma escada de madeira, provavelmente para chegar aos livros que estavam no topo. No fim da sala, que era onde nos encontrávamos, havia uma mesa com um computador, uns papéis e três cadeiras. Um para quem estivesse a trabalhar no computador e as outras duas, que era onde estávamos sentados, ficavam do lado oposto a quem quer que estivesse a trabalhar no computador. Mais ou menos a meio da sala, havia um sofá de três lugares e uma televisão. Aquele devia ser o espaço de descontração para quem estivesse a trabalhar.


Thomas: Andrew! - disse num tom aliviado- Estávamos tão preocupados! Tu nunca dormes fora, o que aconteceu? Quase estivemos para chamar a polícia!


Thomas caminhou até à cadeira à nossa frente e sentou-se à espera de respostas do neto, que não parecia estar com grande disposição para conversas. Olhei para Andrew a tentar pedir-lhe que ao menos tentasse falar com o avô para obter as respostas de que precisava, mas Andrew estava a fitar a parede atrás do avô enquanto as lágrimas lhe escorriam pelo rosto.


Eu: Ele sabe- sussurrei para Thomas


Não me competia a mim falar, mas sabia que Andrew não estava em condições de pronunciar o que quer que fosse e só estar sentado na mesma sala com alguém que lhe tinha mentido a vida toda, já lhe estava a custar imenso, então mais valia tentar dar um empurrão para que Thomas tivesse uma hipótese de corrigir o erro que tinha sido feito há tantos anos atrás e lhe desse uma explicação para toda aquela situação e para o porquê de nunca lhe terem contado a verdade.

Thomas procurou uma explicação melhor no meu rosto, mas eu já tinha dito tudo o que poderia dizer para o fazer perceber a situação. Já me sentia a mais por estar no meio de uma situação familiar como aquela, e só estava ali por Andrew me ter pedido, então não iria ser eu a dizer ao pobre senhor que o neto estava de coração destroçado porque tinha descoberto ser adotado.


Ao fim de uns minutos de silêncio em que Andrew continuava a deixar que as lágrimas lhe escorressem pelo rosto, Thomas olhava para nós os dois em busca de algo que lhe desvendasse o que se estava a passar e eu a encolher-me na cadeira em que estava sentada, na esperança de me teletransportar para fora daquela sala, Andrew arranjou a coragem que lhe tinha faltado até então e questionou o avô.


Andrew: Porque é que nunca me disseram que tinha sido adotado? - perguntou entre os soluços causados pelo seu choro


O rosto de Thomas ficou mais branco do que a parede atrás de si e percebi de imediato que o senhor não esperava de todo aquela pergunta.

Thomas: Como é que descobriste? - perguntou enquanto pequenas lágrimas se formavam no canto dos seus olhos

Andrew: A tua preocupação é essa? A tua preocupação deveria ser contar-me a verdade de uma vez por todas! - quase gritou cheio de raiva

Thomas: Eu queria contar-te, mas os teus pais fizeram-me prometer que nunca o faria- disse num tom bastante triste

Andrew: Porquê? - o seu tom parecia desesperado

Thomas: Eles não queriam que achasses que não eras amado ou que eras menos que os outros- tentou explicar

Andrew: Isso não é desculpa! - gritou


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