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Desculpem a demora, não ando mesmo com tempo e, ainda por cima, ando desmotivada porque acho que vocês não estão a gostar da história


Andrew: Vou aproveitar para ir beber um café- disse tentando fugir da situação

Eu: Não! - disse em desespero- Precisamos dum mediador

Andrew: Aposto que se vão sair bem sem mim- disse piscando-me o olho


Olhei para Andrew com vontade de o matar, mas ele nem sequer me olhou de volta e apenas saiu da livraria, fechando a porta atrás de si. Suspirei, tranquei a porta e meti o sinal a dizer que estava fechada. Harry e eu seguimos para o cantinho da leitura que tinha criado e sentamo-nos os dois, em silêncio.


Harry: Então... Vais-me explicar porque andaste a fugir de mim? - perguntou depois de um silêncio constrangedor- E porque te foste enfiar no quarto de um estranho?

Eu: Não é óbvio? - perguntei referindo-me à sua primeira pergunta, revirando os olhos- Estava com medo de ti! Tu aparecias onde quer que eu estivesse, sem que eu te tivesse dito a minha localização

Harry: Já te expliquei, encontrava-te através do Snapchat- suspirou

Eu: Sim, mas na altura, não sabia isso e comecei a ficar com medo- encolhi os ombros- Podias ser um agente do FBI ou algo do género.

Harry: De todas as coisas em que podias pensar, foi isso que te veio à cabeça? - perguntou rindo bastante alto e eu revirei os olhos- Garanto-te, o meu emprego é bastante pacífico e normal

Eu: Então porquê tanto secretismo em relação ao que fazes? Porque é que escondes sempre os teus cadernos e o computador quando me aproximo? Porque foges ao assunto quando te pergunto no que estás a trabalhar?

Harry: Apenas sou uma pessoa reservada- encolheu os ombros

Eu: Vês? Se o teu trabalho é assim tão pacato, porque foges sempre ao assunto? - insisti

Harry: Apenas gosto de separar a minha vida pessoal da profissional- tentou explicar

Eu: E por me contares o que fazes, vais estar a misturar as duas? - perguntei achando a sua resposta ridícula

Harry: Não, mas... - ficou sem saber o que dizer

Eu: Qual é a tua profissão afinal? - perguntei tentando obter uma resposta

Harry: Sou editor- admitiu por fim

Eu: Como assim? - perguntei tentando obter mais informações

Harry: Trabalho numa editora, e basicamente, leio e ajudo na edição dos livros antes de serem publicados- disse tentando ser sucinto

Eu: Então é daí que tens uma opinião tão positiva do James Hudson? - perguntei tentando perceber tudo- Conhecê-lo porque editas os livros dele?

Harry: Mais ou menos- encolheu os ombros

Eu: Harry! Ou é, ou não é! - disse irritada pela falta de honestidade

Harry: É!- revirou os olhos

Eu: E quem é a rapariga de Paris? - perguntei o que mais queria saber

Harry: Uma colega de trabalho- revirou os olhos

Eu: Importas-te de tirar essa postura arrogante como se tu é que tivesses a razão toda aqui? - perguntei já irritada com os seus suspiros, os revirares de olhos e a sua indiferença perante o assunto

Harry: Achas que és tu que estás certa? - perguntou a rir- Levei-te numa viagem comigo, porque queria passar tempo contigo, devido à situação em que estávamos, e o que fizeste? Foste para o hotel com um qualquer!

Eu: Se eu fui para o hotel com um qualquer, foi apenas porque te encontrei com uma qualquer! - respondi irritada- Tinhas dito que apenas tinhas de comparecer a uma reunião! UMA! E ao fim de umas horas, já surgiu não sei o quê e sais quase a correr, como se a vida de alguém dependesse disso! E porquê? Para ires ter com uma rapariga qualquer! Usaste os nossos bilhetes para o teatro com a tua amiguinha! Não tinhas esse direito! Abandonaste-me!

Harry: Eu tive de ir ter com ela, em trabalho! Preferia ter ido ao teatro contigo, mas não pude porque me pediram que a acompanhasse! Ela queria conhecer a cidade e não havia mais ninguém que lha pudesse mostrar!

Eu: Uau, não sabia que trabalhar numa editora também incluía ser guia turístico- disse num tom de gozo

Harry: Já vi que esta conversa não nos vai levar a lado nenhum- revirou os olhos

Eu: Pois não, enquanto não souberes admitir que erraste não vamos sair do ponto em que estamos- disse firmemente

Harry: Errei tanto quanto tu! - retorquiu parecendo uma criança

Eu: Não sei como é que alguma vez pensei que poderíamos ter algo mais que uma amizade- suspirei com a sua atitude de idiota

Harry: Da mesma forma que eu não vi a criança que eras- disse e levantou-se, saindo pela loja fora


Demorei alguns segundos, mas depois de interiorizar tudo o que tinha acabado de ser dito, acabei por me desfazer em lágrimas. Encolhi-me no pequeno sofá onde estava sentada e deixei-me lá ficar, encolhida, com a cabeça escondida nos meus joelhos, enquanto as lágrimas caiam dos meus olhos e percorriam o meu rosto.

De todas as possibilidades que tinha imaginado para esta conversa, este desfecho nunca me tinha ocorrido porque sempre esperei que Harry se apercebesse do quanto me tinha magoado ao me ter trocado, e me pedisse desculpa. E, principalmente, sempre achei que ele fosse, finalmente, ceder e ser completamente honesto comigo.

Em vez disso, tive de lhe arrancar a verdade da boca. E acabámos numa posição pior do que se fôssemos dois desconhecidos, pois agora éramos aqueles quase mais do que amigos que nunca o chegaram a ser, e provavelmente nunca seriam.

A minha vontade era de fugir, desaparecer do mapa e fingir que toda aquela parte da minha vida que incluía Harry nunca tinha acontecido, mas, o pior, é que eu sabia que, por mais que o tentasse esquecer, nunca seria capaz.

Harry é aquela pessoa que se entranha em nós. Ele traz uma nova intensidade para as nossas vidas e, depois de ele entrar nas mesmas, é quase impossível de conseguirmos viver sem ele. É como se começássemos a viver com uma nova intensidade que até então não sabíamos que seria possível. É tudo aquilo que sempre imaginámos, mas nunca achámos possível.

É como se a chama que ele foi acendendo, dentro de mim, aos poucos, agora se estivesse a tentar apagar, embora eu lutasse para que isso não acontecesse por completo. Harry é um erro que não me importaria de cometer uma e outra vez.

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