Um

3.5K 261 693
                                    

Só com a agonia da despedida somos capazes de compreender a profundidade do nosso amor.
            Desconhecido...

Esse livro não é inspirado e não possui qualquer semelhança com A culpa é das Estrelas, os acontecimentos aqui são muito diferentes do livro citado.

Dezembro de 2017. 15:45 da tarde.

Que procedimentos realizar quando já não há mais o que fazer? Como garantir dignidade humana ao paciente terminal numa sociedade onde há grande valorização da vida e da cura em detrimento da morte? 
Annie se lembrava de como era estar sentada naquela cadeira, o couro preto e desgastado incomodava a pele dela por debaixo da roupa, com certeza uma sensação desagradável. Mas, mais desagradável do que aquela cadeira, era o motivo de ela estar ali.

— Eu entendo! — dizia o doutor Spencer ao telefone, formado pela melhor academia de médicos de toda a Londres, com vários certificados e diplomas em uma parede vermelha atrás dele. Eram muitos, Annie observou, e ele era tão novo. Mas agora ele não estava em Londres, estava na Califórnia, trabalhando numa minúscula, climatizada e bem decorada sala.

O barulho que o pai de Annie fazia ao seu lado chamou a sua atenção para ele, o homem roendo as unhas, numa ansiedade desesperadora, fez com que ela ficasse ansiosa.

Annie queria dizer, ela já sabia e aquilo, esmagava seu coração por dentro.

Tudo de novo não, por favor! Pensou ela.


O doutor Spencer voltou a falar com eles no consultório, Miguel parou de roer as unhas e esperava numa paciência fingida o que o doutor diria agora, mas Annie sabia, ouvia em sua mente alguém falar com ela...
morrer

morrer

morrer

Dessa vez, ela pensou, dessa vez não tem mais jeito.

Ela havia acabado de fazer uma ultrassonografia por que o doutor Spencer conseguia sentir a vesícula biliar de Annie só de tocar com as mãos, ela também sentia, ela se queixou de dor no abdômen uma vez com o pai durante essa semana, e na terceira vez o pai achou melhor levá-la ao médico e aqui estavam.

— É um câncer! — Spencer falou sem delicadeza e coração algum, apesar de novo lhe faltava profissionalismo, poucos o conheciam de verdade. Era um homem frio, e por baixo daquele jaleco branco, havia algo muito escuro.

Deixou o telefone de lado após tomar conhecimento do resultado da ultrassonografia, a sala ficou silenciosa, a dor era palpável, minutos de silêncio até o médico completar com o tom de voz baixo: — Pancreatite...— o médico soltou um pigarro pela boca para continuar. — Como vocês sabem...o tumor se disseminou, o fígado e os nódulos linfáticos...foram atingidos então não pode ser removido e nem operado...

Miguel soltou um som pela boca no qual Annie soube o que viria a seguir.

— Ela...Ela vai sair dessa, minha filha já passou por isso uma vez doutor e ela foi muito forte, ela...ela conseguiu vencer isso o senhor me entende? Vai ficar tudo bem né, Annie? Vamos fazer a quimioterapia e então...

O pai de Annie parou de falar extremamente abalado, e Annie, bom, ela queria ser forte mesmo, mas ela sabia que não conseguiria, já passou por isso uma vez e achava que não conseguiria ter forças pra uma segunda dose dessas, foram três anos de radioterapias e quimioterapias que levaram muitas coisas de Annie e ela teve certeza de que não conseguiria quando o doutor parecia querer arrancar todas as suas esperanças:

Quando Annie for Onde as histórias ganham vida. Descobre agora