Vinte e três

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Uma lembrança qualquer antes do dia 29 de março.

E um, dois, três, um, dois, três.

De novo, de novo e de novo.

Kevin nem conseguia acreditar que estava vendo isso acontecer. Olhava para a janela do quarto de Annie e lá estava ela, dançando, tinha uma flexibilidade fora do normal. Os cabelos escorregavam para o rosto enquanto levava sua perna ao alto, a música lenta tocava ao fundo, mas Annie parecia dançar uma própria.

Infelizmente ele foi desperto pelas horas, estava atrasado para o trabalho, mas se tinha uma coisa que compensava era o fato de que ele a veria hoje à noite.

Annie trocou o peso de uma perna para a outra encerrando seus passos. Sentia uma adrenalina diferente no corpo, meu Deus, ela sentia tanta falta da dança. Tirou as sapatilhas dadas por sua mãe dos pés, achou que não conseguiria usa-las, mas estava tremendamente enganada.

Sentou-se na cama e pegou o notebook, naquela semana ela se empenhou a pesquisar sobre seu câncer,  qualquer notícia, qualquer pessoa curada ou alguém que soubesse qual era a cura. Não conseguiu encontrar algo.

Quis largar o aparelho de lado, mas se sentia tão decepcionada que preferiu se distrair com outras coisas. Colocou na localização a cidade de Londres, queria saber mais sobre a cultura de seu vizinho, mas por algum motivo seu notebook continuou a processar médicos especializados no câncer pancreático, uma fila de médicos em Londres apareceu.

Seus olhos escorregaram pela primeira linha de um site de revista.

— Médica chinesa formada pela academia de médicos londrina, desmente laudos médicos de pacientes com câncer. — arrastou a seta até a notícia, estava curiosa, seus olhos se arrastaram pela matéria e às vezes nem acreditava no que estava lendo.

Dra. Gina Yoshida é chinesa, mãe e esposa. Passou a maior parte de sua vida estudando cânceres raros, mas hoje desempenha um outro tipo de papel. Em maio de 2016 ganhou um paciente que vinha de outro médico, estava insatisfeito com o tratamento de seu câncer cerebral, e decidiu procurar outro especialista. A doutora descobriu que o paciente na verdade não tinha um câncer cerebral, depois daquele paciente apareceram mais e mais pacientes que não acreditavam em seu laudo médico. Alguns tinham realmente um câncer, no entanto, outros diagnosticados com cânceres raros na verdade tinham apenas um câncer tratável, que não os levaria a morte. Gina conta que fará justiça a todos os pacientes que foram enganados por pessoas desleais, que buscam somente o dinheiro sem o amor pela profissão. Ganhando vários prêmios pelas suas pesquisas, ela ganhou mais um prêmio nesta terça feira por sua pesquisa sobre o câncer ocular, seria Gina Yoshida a salvadora dos enganados?

Havia o contato da médica e também seu email. Annie passou a manhã inteira pesquisando a vida de Gina Yoshida, no final sentiu vontade de escrever uma mensagem para aquela renomada doutora, mas se perguntou como Spencer, seu médico, se sentiria.

— Dane-se Spencer.

Copiou o e-mail e lá estava ela escrevendo seu depoimento deplorável de quase morte. Será que Gina olharia o e-mail? Só restava a ela acreditar.

Olá doutora Gina.

Meu nome é Annie Smor e eu moro na Califórnia. Hoje por coincidência achei seu trabalho na internet, fiquei maravilhada pelo seu amor e carinho com os pacientes que possuem câncer, e também acabei assistindo a sua premiação sobre a pesquisa ocular no Youtube, não sou uma maníaca, mas admiradora de seu trabalho. Gostaria de compartilhar com você um problema pessoal pelo qual tenho passado nos últimos três meses, descobri que tenho um câncer no pâncreas. O tumor atingiu meu fígado e os nódulos linfáticos; diria que é um câncer raro e sem cura. E o pior é que ele já me tirou a vida, faço meu tratamento com dois médicos e eles me diagnosticaram com apenas alguns meses de vida, não vim aqui pedir que você cuide do meu tratamento, embora tenha despertado em mim o desejo de buscar por outros médicos, pesso somente que algum dia você venha fazer uma pesquisa sobre este câncer que infelizmente vem tirado as esperanças e a vida dos pacientes que o possui. Seria um grande avanço para medicina e sei que esse processo de pesquisa é demorado, talvez eu não esteja viva quando isso acontecer, mas vou me contentar em saber que pessoas vão ficar melhor e terão a cura. Desde já lhe agradeço, e espero muito que consiga ver este e-mail.

Quando Annie for Where stories live. Discover now