Vinte e dois

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Uma lembrança qualquer antes do dia 29 de março.

A última coisa que Lexi disse antes de ir embora foi:

— Se prepare que na sexta vamos a uma festa.

Annie riu, mas sua resposta havia sido não. Mas se bem conhecesse Alexa Maria, sabia que ela escalaria a janela de seu quarto e levaria Annie de qualquer forma.

Agora era outro dia, mas Annie permanecia em seu quarto. O sol estava começando a despontar pela janela, seu corpo parecia um pouco cansado e dolorido. Tanto tempo pensando em nada, fez Annie lembrar de como Kevin a olhava naquele final de tarde de um Janeiro frio. Os dois estavam sofrendo, pela distância, pelo câncer e pela mentira.

Suspirou fundo tentando não lembrar dessa dor. Pegou o notebook e olhou algumas coisas aleatórias, mas de repente se viu no Facebook de Kevin Livens. Se xingou mentalmente, mas não parou de olhar suas fotos.

A última havia sido tirada no natal, ele tinha algumas com Max e Marco. Achou uma de 2016 com Roxana, a maioria era com Cloé. Mas uma chamou a atenção de Annie. Uma foto de Kevin um pouco mais jovem, segundo a localização a foto havia sido tirada em Londres, as fotos depois dessa tinham a mesma localização. Ele havia morado lá antes de vir para a Califórnia? Se deu conta que quase não o conhecia.

Fechou o notebook.

Se levantou querendo ir para algum lugar, queria sair sozinha. Colocou um casaco e  quando foi pegar um sapato acabou derrubando uma caixa preta. Não se lembrava o que tinha dentro daquilo, pegou, e quando abriu seu coração acelerou.

As sapatilhas que sua mãe havia lhe dado de presente, pegou uma e curiosa calçou. Eram macias. Com certeza um dos melhores modelos para dançar.

Tirou do pé e jogou de lado, não sabendo ao certo o que sentia.

Calçou o tênis e silenciosa caminhou até a cozinha, achou a chaves do carro de seu pai e então suspirou, fazia muito tempo que não dirigia. Foi para a saída um pouco temerosa.

Assim que se viu em frente ao carro seu corpo paralisou.

— Não é tão difícil quanto parece. — Cloé falou em seu quintal. Tinha a bolsa nas costas e Annie percebeu que era para ir a escola.

— E-eu…— gaguejou. Sentia saudades de Cloé e se sentia mal por ter se esquivado dela naquelas últimas semanas. Suspirou. — Está indo pra escola?

Annie perguntou, caminhando em direção a Livens mirim.

— Estou…o ônibus está demorando hoje.

Assim que se viu em frente à Cloé, Annie olhou para a casa deles, não queria admitir que procurava alguém, mas procurava.

— Meu irmão teve que sair mais cedo pro novo trabalho, você não vai encontrá-lo aqui.

Cloé sorriu, fazendo Annie corar. Ela tocou a nuca e meio sem graça perguntou:

— Novo emprego?

— É, ele se demitiu da sorveteria, segundo ele as garotas da cidade estavam lotando o lugar…

Annie riu, não se segurando.

— Seu irmão é muito convencido…

— É, nós sabemos.

As duas ficaram em silêncio, mas tinha coisas que Annie precisava esclarecer para aquela pequena criança.

— Eu sinto a sua falta, Annie.

Ao ouvir aquilo ela sentiu seu peito apertar, sua alma estava angustiada demais ultimamente, e ela acabou deixando de lado pessoas que não tinham nenhum envolvimento com seus problemas. Cloé era só uma criança, Annie pensou em como sua vida causaria impacto naquela criança. Estendeu os braços e recebeu um abraço carinhoso da sua irmã barra amiga.

Quando Annie for Where stories live. Discover now