Onze

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5° semana de 19 restantes. Domingo 07:00 am

— E um, dois, três, um, dois, três, errado Lindsay, comece de novo.

Annie conseguia escutar sua mãe do andar de cima, aquela já era a quarta vez que ela mandava Lindsay recomeçar, Annie quase conseguia visualizar os passos de sua prima pelo chão amadeirado da sala, onde ela costumava dançar há uns cinco anos atrás.

Eram movimentos tão simples, quase impossíveis de errar, mas Sofia nunca saberia que aquilo era moleza para Annie, ela nunca se importou em saber e preferia dar aulas para outra pessoa do que para sua própria filha.

E tinha as sapatilhas, as pretas que vieram da Rússia. Seria o presente ideal se não fossem sapatilhas de ponta, sapatilhas como aquelas precisam de meses de prática para usar e Annie não dançava há mais de cinco anos, provavelmente se machucaria colocando sapatos como aqueles.

Era como arrancar as asas da borboleta e depois dar novas, ela nunca voaria de novo, por que não eram as mesmas asas. E a borboleta agora se encontrava machucada.

— Está tão pensativa…o que houve?

— Nada, pai! Quer dizer, o senhor deveria saber…

— Sem enigmas!

— Por que permitiu que Lindsay ficasse aqui?

— Annie, Sofia me pediu isso, não vi o porquê de negar…

— Talvez pelo fato de não nos darmos bem há anos?

— Só foram desavenças, Annie…tentem recomeçar, vocês são primas…

— A única coisa que eu queria era morrer em paz… — o pensamento saiu tão rápido pela boca de Annie que quando falou se arrependeu de imediato, o pai que estava sentado ao seu lado na mesa não conseguia nem olhar para ela mais. O peso das palavras eram demais. — Desculpe…pai…eu…

Sussurrou Annie.

— Eu vou pro quarto tá…

— Pai…não…

Ele já não estava mais ouvindo, e Annie se viu sozinha. Por que era tão difícil ouvir a verdade? A verdade de Annie era muito cruel, e ela não sabia por que merecia aquele castigo, dois cânceres em uma vida, Annie não sabia nem por que estava lutando pela própria saúde.

Agora, sentada na varanda de sua casa enquanto tentava ler um livro, ela se perguntava se a verdade cruel de sua vida assustaria o vizinho. Kevin não parecia se abalar tão facilmente, ela não sabia muito, mas pelo pouco que ouviu de sua parte, ele tinha um passado arrasado. E tinha seu rosto, que últimamente não estava tão impassível ao lado dela, ele até sorria…e acho que Annie entendeu o que estava acontecendo, ela passou a vê-lo com outros olhos e eles estavam se conhecendo melhor, era claro que as coisas mudaram. Mas até quando?

Na garagem de sua casa, Kevin dava alguns últimos reparos no carro, teria que comprar algumas pessas que eram bem caras e então aquela volta de carro com Annie Smor teria que ficar nos sonhos, por enquanto.

O melhor era que Kevin estava ansioso. Ele esperava pacientemente que Annie o respondesse, que ela aceitasse viajar com ele, já imaginou que loucura se ela aceitasse? Aquilo com certeza seria um grande passo na vida dos dois. E Kevin gostava tanto daquele lugar que duvidava muito que Annie não gostaria.

— Óleo e mais óleo! — guinchou Kevin.

Seu telefone tocou em seu bolso e ele deixou o carro de lado para atender.

— Fala, Maicon!

Maicon era o dono da oficina onde ele trabalhava.

— Tem um carro aqui que precisa de você.

Quando Annie for Onde as histórias ganham vida. Descobre agora