Dezessete

836 96 32
                                    

Poucas horas para sexta feira.

— Annie? — a voz de Kevin saiu rouca, ele havia acabado de colocar o colar e olhava descaradamente para as curvas que ela possuía. Mas algo estranho aconteceu, Annie não virou, não o olhou e sua respiração estava acelerada, mas ele acreditou ser pelo momento.

— Será que…eu posso ficar um tempo sozinha? — ele não conseguia ver seu rosto, mas sentia que a voz gentil estava disfarçada, ele não entendeu o que estava acontecendo e o medo começou a alertar o seu corpo.

— V-você está bem?

— Sim! — não — Pode ir, quero só pensar um pouco…

— Pode olhar pra mim? — a verdade é que ela estava se controlando, uma dor estranha havia tomado conta de seu corpo, ela não podia ver, mas sentia que seu rosto estava pálido. Virou somente um lado de sua cabeça e forçou um sorriso para Kevin, que a olhava preocupado. — Quer que eu chame a doutora Lu?

As sobrancelhas de Annie se juntaram, e Kevin percebeu sua desconfiança. Ele engoliu em seco procurando uma desculpa para esconder o que realmente sabia.

— Você…

— É que estou te achando pálida, se não se sentir melhor posso ficar com você aqui.

— Mas e o baile?

— Não é tão importante.

Ela virou o rosto novamente, sentia algo apertar seu estômago.

— Vou ficar bem, só acho que minha pressão caiu! — mentiu. — Se você puder mesmo me deixar sozinha…

Kevin se sentiu um pouco magoado. Por que Annie não acreditava nele? Por que ela não confiava nele ao ponto de dizer o que tinha? Ele saiu do quarto se sentindo impotente, queria que ela pudesse confiar nele, assim como ele confiava nela.

Droga.

Chegou no andar debaixo e encontrou a doutora Lu na cozinha, ela estava vestida a caráter de uma festa caipira, e tomava um copo de água quando Kevin apareceu.

— Pelas suas mãos agitadas acredito que você queira usar um cigarro. — ela falou, depois de um gole d'água.

Kevin levou a mão a nuca e esfregou a cabeça. Ele tinha perguntas a fazer e precisava de respostas. A mão da nuca foi para o rosto, que ele esfregou antes de suspirar e leva-las ao bolso da calça logo em seguida.

— Não é que eu esteja duvidando do que eu disse. Mas você acredita? Acredita que ela pode ter mais do que deram a ela?

— Você fala do tempo?

— Também!

Luana suspirou, virando-se de costas e derramando o resto de água na pia. Ela também esfregou  a nuca, bagunçando os cabelos castanhos ondulados que batiam nos ombros. Apoiou-se sobre a pia enquanto olhava pela janela à noite escura.

— Ela pode ter muito tempo, mas também... pode não te-lo. Trabalhamos com probabilidades, fazemos exames, testes e então o resultado pode dizer se há uma chance de cura ou somente…se há tempo. O câncer que ela tem fez coisas no corpo dela que serão irreparáveis.

— Mas e o tratamento? O tratamento novo que Miguel me contou? Ela não faz quimioterapia? Ela nem ao menos perdeu os cabelos…

Luana o interrompeu, virando-se para ele logo em seguida.

— As coisas não funcionam bem assim! As quimioterapias pararam depois que ela voltou do hospital do Missouri, por isso ela parece bem. Mas…

— Mas? — ele temia o que podia ouvir.

Quando Annie for Where stories live. Discover now