Primeiro capítulo

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Os finos dedos de Emma passeavam pelas teclas brancas e alcançavam as pretas do longo piano recém-polido. Era um toque sofisticado e um som reconfortante comparado aos últimos acontecimentos da mansão dos Moore.

Em outros momentos, a música preencheria o grande espaço, provavelmente seria motivo para uma pequena aglomeração da família da moça instrumentista. Mas, dado às circunstâncias atuais, era motivo de silêncio. Passou-se despercebida a névoa que frequentava a casa do Banqueiro nesses últimos meses. Ninguém percebeu a movimentação de novos investimentos do capitalista Sr. Moore, dito cujo, pai de Emma Moore e da caçula Emmy Moore, de cinco anos.

A primogênita de Sr.Moore, pouco antes da balbúrdia, havia completado suas vinte e duas primaveras, fruto do primeiro casamento do homem de negócios. A moça, nunca acompanhou de perto as movimentações dos negócios do pai, mas estava ciente do ocorrido, diferentemente da irmã mais nova que nem sabia dos arranjos do pai.

- Apenas não compactuo com suas ideias, e discordo das suas iniciativas.- era isso que Emma queria ter dito ao pai, deveria ter dito.

Conhecendo o pai como conhecia, sabia que, não a daria ouvidos. Pouco importava a dicção impecável e o vocabulário farto da moça, ainda preso ao velho machismo presente na década de 19. Mas, para a nossa felicidade, o jazz existia.

Do lado de fora da janela, via-se a chuva que molhava as ruas de Londres, esse efeito atemporal estragaria os sapatos novos das moças formosas. Esse era o tipo de problema que não afetava Emma, não lhe faltavam pares de sapatos de todos os modelos e cores, mas ela não se prendia a esses pequenos detalhes. Ela adorava andar na chuva.

Esse espírito livre ela herdara da falecida mãe, mais um motivo para ser maltratada pela madrasta. Emmy era filha da atual esposa do pai, e esse detalhe não afetou em nada a relação das irmãs, já que a Sra. Moore estava preocupada com suas vestimentas pomposas, sapatos da moda e seus extravagantes casacos importados que sempre eram exibidos nos eventos da alta sociedade Londrina.

Emma terminou a música e de maneira falha tentou encerrar seus pensamentos frequentes. Andou cautelosamente até a grande janela e notou que não apenas a chuva percorria as ruas londrinas; o carro dos Shelby também estava ali, presente. Vista do lado de dentro da casa, a garota podia jurar que aquela visão era como um dos quadros da mansão dos Moore. Era uma obra de arte. Da janela podia-se observar dois homens distanciarem-se do automóvel, mas um em especial. Ela sempre reconheceria aquela silhueta esguia e masculina.

- Precisa se retirar, querida. Tenho uma reunião de negócios.- disse Sr. Moore, pedindo privacidade à filha para dar seguimento aos seus negócios ilegais.

Ao passar pelo corredor, sentiu o olhar calculista de Thomas Shelby. Sempre a fim de se certificar de que terá o resultado que deseja.

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