Décimo primeiro capítulo

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A guerra entre França e Inglaterra teve o objetivo de impor supremacia, mas se fôssemos mais a fundo sobre o significado de “guerra”, saberíamos que ela também é a responsável por salvaguardar interesses ideológicos, e era esse o principal objetivo do rei. Aqueles que sobreviveram às hostilidades carregavam os fantasmas do combate: o medo e a incerteza.

Porém, neste mesmo período conturbado por essa ação patriota, tivemos alguns avanços em relação aos direitos das mulheres. Muitas mulheres tiveram vagas trabalhistas consideráveis, puderam criar seus filhos e até mesmo ajudar nas contas de casa, mesmo que o salário fosse inferior ao dos homens e seu ambiente de trabalho muitas vezes precário.

Emma sabia que tinha privilégios no seu emprego atual, posto que trabalhava no banco do pai. Além de ser muito privilegiada desde seu nível social, cultural e étnico. Ela estava ciente de seus privilégios, entretanto mesmo os tendo nunca fez uso deles contra alguém, pelo menos não intencionalmente. Contudo, nem mesmo sendo filha do Sr. Moore, não escapava dos cortejos indesejados e assédios dos acionistas.

- Desculpe, senhora, o Sr.Moore atende apenas com horário marcado - ouviu Nancy, secretária do Sr. Moore, impedindo alguém de adentrar a sala do pai. Emma, que organizava as gavetas do pai, foi até a mesa da secretária.

A senhora bem vestida sorriu ironicamente, tirando suas luvas de seda das mãos, e falou segura - Por acaso sabe que está falando com uma Shelby? Nós não esperamos convite e muito menos marcamos horário. 

- Tudo bem, Nancy. Eu a acompanho à sala de meu pai. Por favor, me acompanhe, Sra. Shelby. - Neste meio período de tempo que as duas mulheres caminhavam silenciosamente até a sala reservada, Polly Gray, tia de Thomas, conseguiu observar e absorver muitas de suas intuições sobre Emma. 

- Meu pai não se encontra, mas no que posso ser útil? - Perguntou a garota entrando na sala grande e silenciosa. - Deseja algo para molhar a garganta, Polly? 

As duas já tinham ouvido a respeito uma da outra, mas Thomas sempre manteve Emma distante da família. Não por vergonha, mas por precaução de seus negócios perigosos. Não obstante, a instrumentista criava mil e uma teorias em sua cabecinha. 

Polly criara os sobrinhos sem nenhuma ajuda, como uma boa mãe que era para todos eles. Quando Arthur e Thomas foram convocados para a guerra, ela levou os negócios de apostas da família sozinha. Uma mulher forte, decidida e muito estrategista. Ela sabia que Thomas tinha mudado e que ele era outra pessoa pós-guerra, nunca deixando seus sentimentos transparecer. Pelo menos não antes de conhecer Emma, a garota marcou a vida do líder dos Peaky Blinders. Era um bom motivo para Polly sentir uma certa antipatia pela garota, afinal, foi ela quem pegou o primeiro trem de volta para casa quando descobriu quem Thommy realmente era, um gangster perigoso, deixando-o mal com sua partida.

- Gin, negocio com Gin - disse Polly reparando Emma servir os drinks para as duas.

Emma estava com a postura ereta e, mesmo com o vestido apropriado para a ocasião, sentia-se mal. - Então, disse que veio negociar.

Polly sorriu e deixou claro que apenas negociaria com o pai de Emma e que no momento ela queria aproveitar a situação e deixar claro algumas coisas para Emma. A garota de vinte e dois anos engoliu em seco e ouviu tudo atentamente.

- Sei que está aqui com sua família por capricho de Thomas, ele quis assim e eu realmente não me importo. E você está a par sobre o nosso mundo, e sei que andam se encontrando, mas fique consciente de que não gosto de você e de que, para você ser substituída, é apenas uma questão de tempo - despejou o veneno e terminou o líquido que estava no copo. 

- Ouça, Sra.Gray, estou aqui com a minha família a negócios. Birmingham pode estar envolta dos negócios de Thomas, mas para sua informação o banco não gira em torno apenas dos interesses dos Shelbys. Saiba que eu não tolero ameaças, então não vou considerar esta conversa com esse intuito, em consideração a Thomas - disse Emma calma e também terminando seu Gin. 

Polly sorriu, pensando em como Emma e Thomas tinham em comum a coragem e a determinação. É, não foi um encontro combinado e provavelmente culpa do destino, mas contribuiu para isso, e as palavras foram sinceras. 

- Nossa conversa foi agradável, mas o Gin foi o clímax do nosso rápido encontro. Diga a seu pai para ser mais presente, porque não me espantaria encontrar você no lugar dele - disse se retirando e sorrindo da mesma maneira que entrou na sala. Emma suspirou pesado depois da saída de Polly. 

Emma queria repetir o copo de Gin, mas sabia que não a faria bem. Organizar as gavetas já não era uma missão que ocuparia seus pensamentos. Então decidiu que iria sair para tomar um café na sua cafeteira preferida, faria isso. 

Vestiu suas luvas e seu chapéu, sempre vestida elegantemente e minimalista. Passando pelas enormes portas do Banco, sentiu o vento agradável da manhã. Caminhar até a cafeteria ajudou a anestesiar a negatividade do momento passado.

- Por favor, vou querer um café mais claro - fez o pedido e completou com um pedaço de torta de Cheesecake. 

Emma sentiu uma mão tocar as suas costas, um toque que ela reconheceu quando a pessoa lhe chamou pelo nome. Professor Jonathan Campbell. 

Ele estava diferente, pensou a garota. Será por que não estavam no ambiente escolar? 

- Professor Campbell - ela sorriu cumprimentando-o - Que surpresa vê-lo aqui na cafeteria.  

- Por favor, não estamos no curso, me chame pelo meu nome - ele sorriu e ela notou de perto os detalhes do rosto masculino. Sua barba já estava crescendo, porém tão clara que se não fosse o sol não seria perceptível. - Eu gosto de café, e professores também costumam frequentar lugares públicos. 

Jonathan e Emma se juntaram a uma mesa perto de uma grande janela onde se sentiram confortável para compartilhar algumas de suas histórias. Ele contou que, antes de dar aulas, serviu na guerra e que, com o decorrer dos meses, começou a trabalhar como jornalista no jornal de Londres. Confessou que estava em Birmingham para um furo de reportagem, mas não entrou em detalhes. Emma pensou em sugerir que, quando ele voltasse para Londres, poderiam se encontrar novamente em um dos cafés à beira do Tâmisa, mas não sabia se voltaria a morar em Londres.

- Uma pena que não nos encontramos em Londres... Mas estamos novamente em Birmingham - ela sorriu docemente.

- O que lhe traz a Birmingham novamente? - Ele perguntou, adorava ouvi-la falar. Sentia falta das conversas depois das aulas e dos debates longos. 

- A trabalho, assim como você. Meu pai está abrindo uma nova organização aqui perto, e estou datilografando para ele.

- Ainda escreve poemas? - Perguntou Jonathan fascinado em saber que teve participação na vida da garota. 

- Não como antes... - ela confessou. Escrever era uma de suas paixões, mas, ainda assim, guiar o piano era sua prioridade.

(Espero que tenham gostado, beijoooos e até a próxima ❤️ comentem e votem.. me ajuda muito a saber se estão gostando.)

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