Décimo segundo capítulo

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- Chegou cedo do intervalo, Srta. Moore - disse Nancy Willians surpresa com a súbita presença de Emma.

- Saí para um café, apenas - comentou a moça expressando um sorriso singelo - Nancy, meu pai está na sala dele?

- Não, senhorita - comentou a secretária se organizando para o intervalo.

- Emma, me chame de Emma. Formalidades são bem-vindas em momentos apropriados, no presente não vejo motivos.

Emma queria ganhar a confiança de Nancy, afinal, precisava de uma amiga. A conversa com o professor Jonathan Campbell tornou o humor de Emma melhor para o restante do dia. Notou que estava sozinha em Birmingham, não literalmente. Tinha a figura de sua família e Thomas, mas mesmo assim sentia que precisava dividir suas angústias e alegrias com outras pessoas. Até mesmo cogitou a possibilidade de retomar a escrita, já que escrever ajudava a reorganizar sentimentos que vinha sentindo com tamanha intensidade.

- Nancy, quero pedir um favor. Não comente com meu pai que estive conversando com Polly Gray - pediu Emma recebendo um sorriso da mulher a sua frente.

- Emma, você foi muito gentil em me socorrer quando a Sra. Gray apareceu. Desejo-lhe bem, por isso peço que tome cuidado quando se trata dos Shelby - comentou Nancy pegando seus pertences para sair para almoçar.

- Você mora há mais tempo que eu nesta cidade e com certeza deve saber do que fala, gostaria de entender... Se puder me explicar sua preocupação com os Shelby - rebateu a instrumentista cruzando seus braços graciosamente.

- Meu falecido marido morreu na guerra, e tenho dois filhos pequenos para criar, não faço pouco de meu trabalho. Mas boa parte do meu salário é direcionada para as dívidas que meu falecido esposo deixou com suas apostas de corridas a cavalo que os Shelby exercem. Entretanto, quem não deve, não teme. Acredito que não seja seu caso.

Nancy aparentava estar na casa dos trinta anos e já com responsabilidades tremendas. Emma se sentiu desconfortável com a conversa, o pouco que descobriu sobre a história de sua colega de trabalho já era o suficiente para começar a se criticar. Não era como se ela realmente precisasse do seu cargo como datilógrafa e seu relacionamento fosse perfeito, não sabia nem se podia considerar o que tinha um relacionamento. Mas se sentia mal por não poder fazer nada contra aquela situação, pensou em conversar com Thomas. Porém, queria realmente se envolver em seus negócios?

No final do dia, a garota saiu do prédio onde trabalhava e encontrou Thomas na esquina com seu carro estacionado embaixo do poste de luz que mal iluminava as ruas. A súbita presença de Thomas lhe causou um mix de sentimentos. Podia colocar a culpa no sereno ou na pouca temperatura que a noite trazia e que deixava suas bochechas coradas, mas ela sabia que era a presença marcante do homem.

Caminhou sem pressa até onde ele estava, tentava congelar aquela imagem no interior de suas memórias. Roupas escuras e bem alinhadas, sua boina masculina combinava com seu sobretudo escuro. Emanava masculinidade e poder.

- Como foi seu dia? - perguntou Thomas depois de um longo beijo demorado.

Thomas não era romântico ao ponto de encontros seguidos. Ela o conhecia, não mudaria em alguns meses. Talvez ela estivesse tão amarga com o que Nancy disse que não conseguia distinguir a intenção real do homem.

- Primeiro dia de trabalho, não consigo dizer ao certo se o dia foi bom ou não - disse com um sorriso tímido e fraco entrando no carro com Thomas.

Nada passava despercebido por Thomas, obviamente Jonathan Campbell não passaria também. Ele mantinha homens de sua segurança cuidando de Emma mesmo de longe, e a presença do homem era uma afronta para Thomas.

- Aonde vamos? - Perguntou Emma cuidando a movimentação das ruas.

- Pensei em jantarmos e passarmos a noite juntos - disse dirigindo e sentindo que Emma estava com os pensamentos em outro lugar.

Thomas não gostava nem um pouco de sentir que a situação não estava sob seu controle. Estava com ciúmes, mas ninguém conseguia ler seus sentimentos. Apenas Emma, e ela estava distante. Thomas achava que o tal jornalista estava tentando extrair algo de Emma. Sabia o Shelby que o jornalista nada mais era do que o professor que Emma e Lizzie tinham em comum, Jonathan Campbell. Só não sabia o que o infeliz queria conversando com sua garota, que aparentemente dava sorrisos largos para ele.

O restaurante era reservado e acolhedor, mesas distantes, e o vinho que Thomas escolheu de início era delicioso, não mais que o prato saboroso que viria logo depois.

- Este é meu restaurante favorito, você ainda se lembra - ela sorriu degustando o vinho.

- Lembro de tudo, Emma - disse repousando sua mão na dela. Um ato caloroso e gentil.

Emma sentia seu coração ser incendiado, sua capacidade de raciocínio deixá-la no mesmo instante que segurou a mão de Thomas. Mas sabia no fundo que não era suficiente para cobrir a decepção que ouvira mais cedo sobre as apostas e dívidas de sua colega.

- Thomas, tem algo me incomodando - disse Emma assim que deixaram o ambiente do restaurante, indo para a casa onde Thomas residia.

Era a primeira vez que Emma entrava na casa de Thomas. Ele estava orgulhoso, agora morava em uma das melhores mansões que o dinheiro podia comprar. Ninguém ousaria chamá-lo de cigano em sua fortaleza, ninguém ousaria dirigir a palavra a ele. Emma, por outro lado, sabia que aquele não era o Thomas de antigamente. Ela sabia que ele era ambicioso e poderoso, mas não queria acreditar que seu sucesso vinha às custas de dividas de pessoas viciadas.

- Quer Whisky? - perguntou Thomas se servindo, Emma recusou de imediato. Precisava estar sóbria.

- Conheceu Sr.Willians, Thommy? - O nome não lhe era estranho, mas também não era importante.

- Por que a curiosidade repentina? - Questionou passivo, sentando no grande sofá e acendendo um cigarro. Os planos para a noite tinham sido adiados, queria conversar depois que estivessem satisfeitos um do corpo do outro.

- Ele faleceu na guerra, deixando dois filhos e uma esposa, Nancy Willians. Ela está trabalhando com meu pai para sustentar os filhos e pagar a dívida que o homem tem com você, Thomas - disse Emma se aproximando e ficando na frente de Thomas.

Thomas estava com a mesma face entediada que direcionava a seus capangas. Mas em sua cabeça dispensou a hipótese de que o periodista Jonathan Campbell tivesse revelado sua seita.

- Não obrigo ninguém a apostar, meu amor - disse soltando a fumaça. Emma tentava se concentrar e manter sua postura, mas ele era incrivelmente sedutor. E ele havia lhe chamado de "meu amor".

A conversa não pôde durar muito tempo, Emma já tinha perdido os argumentos. Levada pela sensação dos beijos quentes de Thomas em seu pescoço e as mãos em lugares sensíveis que somente ele conseguia tocar.

(O que acharam? Me contem nos comentários! Beijooos)

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