Capítulo 2

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GRACE EDGELL

-Seu sobrenome não me é estranho, senhorita.

-Sou filha do antigo médico da vila, Sua Graça. - Mexo as mãos nervosamente sobre meu colo.

É óbvio que preciso do trabalho. Minhas opções no momento são bastante limitadas entre conseguir um emprego ou procurar um marido. Não creio que casar seja uma boa ideia, principalmente com a incerteza se o pretendente em questão ajudaria minha mãe e minha irmã.

Estou tentando desesperadamente a semanas conseguir um trabalho, mas infelizmente meu pai conseguiu nos arruinar ainda mais com sua morte. Ele viajou rapidamente para Elbenia e conseguiu ser desafiado a um duelo, por ter dormido com a esposa de um barão, o resultado é conhecido por todos.

Somando essa vergonha a fama de jogador compulsivo que meu pai tinha, não nos restou muita coisa. Minha mãe não está habituada a trabalhar fora e por conta da idade, não acredito que haveria muitas oportunidades. Minha irmãzinha de sete anos também está fora de cogitação.

É o casamento ou um trabalho.

Não que trabalhar seja uma tortura para mim ou algo do tipo. Desde a adolescência realizei alguns trabalhos pela vila e por mais que as dúvidas fossem acumulando com o tempo, meu pai sempre priorizou o ensino. Ele era um médico, afinal de contas.

-Suas recomendações?

-Estudei em uma escola de moças por alguns anos, terminei os estudos lá. Ensino e etiqueta não são nenhum problema para mim, senhora. Posso ensiná-los sem problema algum.

-Minha filha é um tanto... Inquieta. Sinceramente não tenho certeza se conseguirá domá-la.

-Estou disposta a tentar. - Tento um último ato de bravura, torcendo para que a marquesa se convença.

-Quantos anos tem, senhorita Edgell?

-Vinte e três, milady.

-Casada?

-Não.

-Viúva?

-Não.

Como me apresentei com o sobrenome de solteira, esse seria o momento de me delatar em qualquer mentira. A marquesa possui uma postura intimidante e parece estar sempre duvidando de tudo e de todos com um brilho sagaz nos olhos.

-Nunca se casou? - Lança-me um olhar cético, muito bem disfarçado pela postura elegante.

-Não, milady. Há outras prioridades em minha vida no momento.

-Devo alertá-la, senhorita, que as coisas nesta casa não funcionam como o costume.

-Isso não será um problema.

-Quer mesmo o emprego?

-Não somente quero, senhora. Eu preciso dele.

-Ótimo. - Ostenta um enorme sorriso satisfeito nos lábios - Pode começar amanhã. Esteja aqui cedo, Charlotte costuma ser a primeira da casa a acordar.

-Sim, senhora.

-Venha, é bom que fale com ela. Quem sabe não consiga um bom começo? - A marquesa rapidamente põe-se de pé e começa a caminhar para fora da sala, indo na direção de uma enorme porta lateral, que conduz aos jardins da propriedade - Atualmente Charlotte é a única dos meus filhos no momento. Meus dois filhos estão viajando, a mais velha de minha filhas já é casada e a outra está na escola.

Obriguei-me a apenas concordar com tudo o que ela dizia. Todos sabiam quem eram os D'Evill afinal de contas, eles administravam uma propriedade gigantesca a muitas gerações e ajudavam no sustento do vilarejo. Tive a oportunidade de vir até aqui antes, quando ainda era criança e meu pai não frequentava clubes de cavalheiros para suas jogatinas.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora