Capítulo 7

23.5K 3.3K 786
                                    

GRACE EDGELL

-Grace, qual o seu maior medo?

-Trovões. - Ok, talvez trovões fossem meu segundo maior medo, mas Charlie não precisa saber disso - E o seu?

Estávamos dando uma pequena pausa, Charlie e Mary brincaram bastante e agora minha irmã estafa do outro lado da estufa, desenhando alguma flor que havia achado bonita. Deu-me um pouco de trabalho afastar as duas para que Charlotte pudesse ter suas lições, mas finalmente consegui. Já é um abuso que eu tenha trago minha irmã para o trabalho, se sonharem que ela está atrapalhando a aprendizagem de Charlie serei mandada embora.

-Ficar sozinha. Detesto ficar sozinha, por isso tenho sempre alguém da família comigo. - Dá de ombros e volta a preparar um adubo.

-Não lhe incomoda que tenha sido justamente o seu irmão a ficar contigo? - Conheci muitas garotas na escola para damas e praticamente todas detestavam a presença dos irmãos ou eram imparciais a eles, como se não existissem.

-Tony é muito legal. Ele e Harry cuidam muito bem de mim.

-Sério?

-Sim, Anthony sempre sai para passear comigo a cavalo e Harry tenta me ensinar a pintar, mas nunca tivemos sucesso. Papai costuma sair para cavalgar com a gente também, quando não está trabalhando e a mamãe não vê problema enquanto eu estiver tendo minhas lições.

-Isso é bem diferente.

-Espere até conhecer Aidan, você vai gostar dele.

-Aidan? Quem seria esse?

-É o protegido dos meus irmãos. Depois que o irmão dele morreu, Tony e Harry passaram a cuidar dele. Aidan não é tão alto ou forte quanto meus irmãos.

-Quantos anos Aidan tem agora, Charlie?

-Dezessete. Sei o que está pensando, mas nossas brincadeiras são de escalar árvores, brincar no rio ou apostar corrida de cavalos. Eu não obrigo ele a brincar com minha bonecas.

-Vocês parecem ser bem próximos... Qual a última vez que o viu?

-Há quase dois anos, pouco antes de irmos para a temporada na capital e Victória se apaixonar pelo duque.

-Seus pais não estranham essa proximidade de vocês?

-Por que? Somos amigos desde sempre, assim como nossos pais. Não há problema algum nisso.

-Está certa. Bom, vou buscar o almoço de vocês, comportem-se, sim?

-Farei o meu melhor. - Charlie exibe um sorriso levado e me obriga a parar no lugar - Não se preocupe, Grace. Não é como se o mundo acabasse durante sua ausência.

-Não confio em você um minuto se quer.

-Isso mostra que você é inteligente.

-Então aqueles que confiam são burros?

-Grace, Grace, Grace, burro é uma palavra muito forte. Prefiro dizer que são inocentes.

-Certo... Irei buscar alguns sanduíches, não aprontem nada!

Vi Charlie correndo na direção de Mary e apressei meu passo pela estrada de cascalho até a cozinha, infelizmente a estufa ficava um pouco longe da entrada da cozinha e isso me fez perder um bom tempo. Para complicar toda a situação, a cozinheira estava ocupada com os preparativos do jantar e sua assistente havia acabado de começar o preparo dos sanduíches.

Fui obrigada a esperar pelo menos mais dez minutos até que tudo estivesse preparado e organizado dentro de uma pequena cesta que facilitava o transporte. Para alguém que precisa correr e garantir que lady Charlotte não destrua toda a propriedade, praticidade é tudo.

Quando retornei a estufa estava suspeitamente silenciosa e os sinos de alarme começaram a ecoar em minha cabeça. Caminhei para dentro, chamando por Charlie e por Mary, mas nenhuma das duas me respondia. Essa definitivamente não é a hora para brincar de esconde-esconde.

Depositei a cesta no banco de pedra, diante da pequena cascata e voltei a chamar por elas. Como encontrar duas crianças no meio de todas essas plantas? Se estivessem muito motivadas podiam se perder para sempre por ali e ninguém nunca as encontraria.

Seis corredores absurdamente longos e cobertos por folhagens, dos mais variado tipos. Seria pedir demais que minha aluna fosse uma criança comportada e com intelecto apropriado para sua idade? Estou começando a me arrepender de todos os conselhos que dei a ela sobre como aprontar.

Eu já havia eliminado os corredores um e dois, elas não estavam ali. Quando comecei minha vistoria no terceiro corredor, jurando a mim mesma que não valia a pena ser condenada a forca por matar minha irmãzinha e uma nobre importante, a porta da estufa foi aberta. Elas não podiam estar correndo para fora, podiam?

-Vocês não estão fazen... Milorde? O que faz aqui?

Lorde Anthony estava parado no meio do corredor principal e aparentava estar tão perdido quanto eu. Claro que não pude deixar de notar que sua blusa branca estava com vários botões escandalosamente abertos e como a calça preta e as botas de cano alto se abraçam com louvor as pernas musculosas.

Pensamento errado, Grace. Mantenha o foco, garota!

-Charlie me disse que havia um sapo enorme por aqui e que eu deveria dar um jeito. - Ele passa a mão pelo cabelo loiro, despenteando-o. Pelos céus, como o homem é bonito. - Sua irmã estava com expressão de choro. Charlie disse que o sapo a havia assustado e que a senhorita havia desmaiado pelo susto.

-Não estou acreditando nisso. - Respiro fundo, tentando controlar os instintos assassinos que somente minha irmã consegue despertar - Milorde, o senhor foi enganado. Minha irmã tem uma incrível habilidade de chorar falsamente quando lhe convém.

Passo por ele e tento puxar a maçaneta para sair, mas bendita porta não abria. Talvez ir para a forca não seja um ideia tão ruim ao final, o preço será por uma ótima causa.

-O que foi?

-Está trancada.

-Impossível! - O próprio se encaminha até mim e ele mesmo tenta abrir a porta, mas igualmente sem sucesso. Quando olhamos para frente, ali através do vidro, Charlie e Mary acenavam sorridentes para nós e exibiam uma enorme chave prateada antes de Charlie pegar a mãozinha de minha irmã e puxar para longe.

Assistindo as duas ali, correndo para sabe-se lá onde, encheu-me de uma enorme vontade de praguejar, mas damas não fazem isso e um dos meus patrões está a um braço de distância. Péssima hora.

-Aquela pequena diaba. - Ouço seu resmungo. Ele coloca as mãos sobre os quadris e me olha com aquelas esmeraldas reluzentes - Bom, teremos que esperar até que voltem.

-Não há uma chave reserva ou algo assim?

-Não.

-E o que faremos?

-Senhorita Edgell, não quebrarei a porta. Isso seria um gasto desnecessário em nosso orçamento. Não se preocupe, Charlie voltará.

-Quando?

-Ainda não aprendi a ler mentes, senhorita.

-Pensei que milorde conhecesse a irmã que tem.

-Bem, eu não sabia que sua irmã era uma atriz tão talentosa.

Céus, ele é meu patrão. Completamente frustrada caminho até o banco de pedra, onde depositei a cesta, e caio sentada ali. Não era um comportamento de uma dama, mas quem se manteria nas normas de etiqueta em uma situação assim? Charlotte acabara de corromper minha irmã!

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora