Capítulo 20

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ANTHONY D'EVILL

Saio dos estábulos depois de entregar Tormento aos cavalariços e sigo o caminho de cascalho na direção da estufa. O clima está fresco e ameno, não muito quente ou muito frio, um ótimo dia para passear. Isaac retornou pouco antes de mim para cá, qualquer ajuda é sempre bem-vinda e se meu cunhado vem adquirindo gosto por trabalhar com lama até a cintura posso tolerá-lo por algumas horas sem ameaças.

Ora, o homem conseguira despertar o interesse de minha irmã para com o matrimônio em apenas uma noite e eles nunca se viram antes. Sabe-se lá como Isaac conseguiu este feito. O importante é que minha irmã está feliz agora.

Abro as portas do santuário de Charlotte e não as vejo em lugar algum. Estranho, ela e Grace sempre almoçam aqui.

-Charlie? - Caminho até a metade do corredor principal - Grace?

-Olá! - Grace surge com um singelo sorriso no rosto e as bochechas avermelhadas. Sua timidez é encantadora.

-Está sozinha?

-Sim, Charlie foi liberada para almoçar com as irmãs. Estava indo para a cozinha me juntar aos outros.

-Mas você não almoça com os outros, Grace. Sempre almoça com minha irmã.

-Ela está desfrutando de seu momento em família, não é justo atrapalhar. Charlie sente falta das irmãs.

-Por que não se junta a nós à mesa? - Eu não sei ao certo quem caminhou até quem, mas logo estamos face a face. Ainda me impressiona o quão encantadora é. De longe já me tira completamente o fôlego e de perto... Céus, a mulher é belíssima.

-Não creio que seja o momento.

-E quando será o momento? Somente depois de casarmos?

-Não! Apenas... Estaremos juntos de qualquer forma amanhã. Virei com minha mãe e minha irmã ao piquenique.

-Piquenique?

-Não sabia? - Seu rosto adquire uma expressão de espanto - Suas irmãs me convidaram para um piquenique que farão amanhã. Milorde não sabia?

-Milorde não, Grace. Anthony! E não, não sabia, mas isso não é uma surpresa. Minhas irmãs estão sempre marcando coisas e me comunicando em cima da hora. Já estou habituado.

-Deve ter sido divertido crescer em uma casa com tantos irmãos.

-Estressante, perigoso e na grande maioria das vezes é um teste de paciência, mas foi muito divertido.

-Quando Mary nasceu eu já estava indo para a Escola de Damas, não pude conviver muito com ela.

-Lamento por isso.

-Tudo bem. - Sorri outra vez - Alguns dias atrás Charlie me levou para a galeria, confesso que fiquei impressionada.

-Nunca havia visitado a galeria?

-Não, sempre me limitei aos lugares que Charlotte costuma visitar e bem, ela não costuma ir a galeria.

-Porque minha irmã não pode destruir nada lá. - Sorrio - O escritório, a galeria e a sala de pintura de Harry são os lugares onde Charlie raramente vai.

-Sala de pintura?

-Oh, sim. Meu irmão é um amante das telas, gosta de passar seu tempo livre pintando. O próprio recebeu o convite de Isaac para pintar o quadro de Victoria como duquesa de Brandford.

-Ele não pensa em seguir carreira?

-Não. - Tomo suas mãos nas minhas, acariciando sua pele com meus polegares - Já conversamos sobre isso e Harry vê a pintura apenas como um hobbie, não uma carreira.

-Sua família é surpreendente. Nunca imaginei que haveria um pintor entre vós.

-Uma mandona, um pintor, uma detetive e uma criminosa, estes são meus irmãos.

-Por que Charlotte é a criminosa?

-Lhe surpreenderia se Charlie infligisse a lei algum dia? Conhecendo-a como conhece?

-Não. - Solta uma risadinha que envia uma onda de calafrios por minha espinha .

-Eis aí sua resposta, senhorita. - Sorrio antes de lhe beijar rapidamente os lábios.

-Não deverias beijar tanto, Anthony. Creio que não seja correto de acordo com a etiqueta. - As bochechas continuam avermelhadas, mas o olhar sagaz enfatiza a provocação de sua fala.

-Não estamos em um salão de baile ou em um recital de poesia. A etiqueta não é importante. - Beijou-a outra vez, permitindo que meus lábios demorem um pouco mais e apreciem seu sabor - Eu gosto de lhe beijar, a senhorita não?

-Gosto. - A vermelhidão se espalha das bochechas para o restante de seu rosto e meu sorriso triplica de tamanho. Como pode alguém alcançar tamanha perfeição aos meus olhos? Daria tudo para ver seu rubor todos os dias.

-Ótimo. - Meus lábios brincam com os seus outra vez, aproximando-se de um beijo verdadeiro. Suas mãos sobem timidamente por meus braços até pararem em meus ombros enquanto minhas mãos pesam sobre sua cintura. Ela parece tão resistente e delicada ao mesmo tempo que sinto vontade de pagá-la no colo e levá-la para longe de todos os problemas.

-Você me leva a cometer atos tão imprudentes. - Balança a cabeça em uma falsa reprovação antes de beijar minha bochecha  - Acertei-me com minha mãe. Conversamos abertamente sobre nossa situação e nos últimos dias temos falado a respeito de nossas aflições.

-Verdade? - Beijo sua testa e a puxo para mais perto. Seus braços rodeiam minha cintura e os meus os seus ombros - Fico feliz por isso. Como vão os preparativos para o casamento dela?

-Estamos aprontando tudo. Será algo simples e íntimo, mas minha mãe está feliz como a tempos eu não a via.

-Como se sente por tudo isso? Sei que seu pai lhe faz falta, apesar de tudo.

Sua cabeça está apoiada em meu peito, como se ouvisse meus batimentos. Grace solta um suspiro alto e cansado antes de seus braços apertarem-me mais.

-Eu o amo, não é algo que se possa mudar, mas papai foi inconsequente e ao conversar com minha mãe pude perceber que as coisas em casa não estavam bem como eu pensava. Infelizmente suas inconsequências não o deixaram pensar em nós. Mamãe ficou tão triste e amargurada após sua morte, agora estávamos as três sozinhas no mundo e sem saber o que fazer. Ela está feliz agora e eu estou por ela.

-E o homem que a incomodava?

-Continua a incomodar. Mary me contou que uma vez o viu roubando dinheiro do pai e sinceramente ainda não sei como contar isso ao senhor Yuth. De qualquer forma, ele estando longe de Mary me alivia um pouco.

-Entendo. - Tomarei as devidas providências, preciso apenas esperar Harry chegar - Estávamos falando as da galeria, certo? O que achou dos quadros?

-São lindos, é maravilhoso ver tantas gerações reunidas em um mesmo lugar.

-Gostaria de voltar?

-Seria divertido, mas Charlotte está almoçando agora.

-Não digo com ela, Grace. - Estendo meu braço para ela - Venha comigo.


Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora