Capítulo 24

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ANTHONY D'EVILL

-A família de Grace é adorável! - Victoria toma seu chá e se recosta nos braços do marido. Eu amo minha irmã, mas tamanha intimidade diante de mim é desnecessário. Por Deus, por quê sou o único homem da família abandonado aqui com as irmãs e o cunhado?

-Foi divertido passar o dia com Mary, ela é muito esperta. - Charlie pula animada em meu colo e Elizabeth desvia os olhos de seu livro por alguns milésimos de segundo antes de decidir que não somos bons o bastante para receber sua total atenção.

-Eu gostei da mãe. - Lilibeth passa para a próxima página antes de continuar sua fala - Ela é divertida e espirituosa. Pelo que pude notar está apaixonada pelo noivo.

-Sim, ela se casará em breve com o padeiro do vilarejo.

-Senhor Yuth?

-Sou digno de sua atenção porque mencionei o padeiro? É sério, Elizabeth?

-Eu adoro as tortas dele. - Encolhe os ombros e se remexe na poltrona antes de se esconder atrás do livro outra vez - Vocês não apreciam guloseimas de verdade.

-A cozinheira ficará enciumada. - Vic esconde um sorriso atrás de sua xícara e Isaac apenas observa nosso entrosamento com olhar de tédio.

-Eu como as guloseimas dela também. - Eu poderia estudar sua espressão, mas tudo que vejo é uma capa vermelha.

-Quando as Edgell nos visitarão outra vez, Tony? - Charlie pergunta com a cabeça encostada em meu peito, enquanto acaricio seus cabelos.

-Espero que logo, sim? Estou ansioso para apresentar Grace como minha noiva ao pai e a mãe.

-Eles já a conhecem. - Isaac argumenta.

-Eles a conhecem como preceptora, não como minha futura esposa.

-Grace sabe que é sua futura esposa? - Vic arqueia a sobrancelha para mim e a olho confuso.

-Bom, nós conversamos sobre um futuro casamento.

-Mas você a pediu? Oficialmente?

-Eu contei a senhora Edgell sobre minhas intenções.

-Céus, Tony. - Lilibeth fecha o livro e o coloca em seu colo - Pensei que havia ativado um lado romântico em ti, porém vejo que não. Como ainda não há preparado um belo pedido para Grace? Se unirá outra mulher a esta família, faça direito. Seja romântico!

-Nós já conversamos sobre casamento, se amos estão de acordo, qual a necessidade de um pedido formal? Só ratificaríamos o que todos sabem.

Victoria se vira para Isaac, olhando-o com diversão antes de lhe explicar o que se passa aqui.

-Se mamãe estivesse aqui, seria neste momento que ela se perguntaria onde errou na criação de seu primogênito.

-Vocês estão todos loucos. - Charlotte a esta altura já se encontrava adormecida em meu colo, por isso tomei-a nos braços e me pus de pé - Colocarei a pequena diabinha na cama, enquanto isso podem escolher outra pauta para uma conversa normal. De preferência não relacionada a minha vida amorosa ou a forma como eu a conduzo.

-Estamos salvando a sua vida! Sem nós você estaria completamente perdido! - Lilibeth argumenta enquanto sigo para a escadaria.

Se fosse apenas uma eu poderia saber lidar, mas três? O que meus pais tinham na cabeça? No presente momento a minha favorita é Charlie - justamente por estar adormecida. Céus, eu amo a todas quando estão adormecidas, pois acordadas deixam-me completamente louco.

Quando finalmente cobri minha irmã com uma coberta, escutei uma batida forte no andar de baixo e um grito que posso jurar ser de Elizabeth. Tensão se apossou de meu corpo e fechei a porta do quarto de Charlotte ao correr na direção das escadas. Seja lá o que minhas loucas irmãs e um cunhado indesejado aprontaram, eu não permitiria que acordassem a mais nova. Este é uma casa de excêntricos, não de loucos.

Quando meus pés pousaram no alto da escada não acreditei no que estava vendo. Harry estava parado ali na entrada, completamente imundo de terra e com o rosto abatido. Ele parece absurdamente cansado e sozinho. Onde estão meus pais?

-Preciso falar com você! - Ele dirige sua fala a mim, enquanto se afasta de Elizabeth.

-Nossos pais?

-Ficaram em Wendwood.

-Você retornou sozinho? - Harry não fez mais que assentir, seu corpo parecendo lutar para se manter em pé. Sabe-se lá que loucura o homem fez, mas ele precisa de um banho e uma cama - Vamos ao seu quarto, você precisa descansar. Vic, peça ao senhor Donald que prepare um banho e alguma comida rápida.

-Agora mesmo. - Saiu marchando como um soldado na direção da cozinha e meu irmão reunia suas forças para subir os últimos degraus. Quando começamos a andar pelo corredor seus pés vacilaram e amparei-o, passando seu braço sobre meus ombros e o ajudando a completar o percurso.

-O que aconteceu? - Perguntei ao sentá-lo na ponta de sua cama.

-Sou um inútil. Não consegui ficar lá, Tony. Vovô já não tem consciência e não para de tossir sangue, durante toda a noite suas tosses são ouvidas por toda a casa, estou sendo atormentado por elas e por minha própria consciência. Não consigo mais dormir e não posso fazer nada para ajudá-lo.

-Ninguém realmente pode, Harry.

-Mas deveríamos. Porra, ele é nosso avô.

-Eu sei e não queremos que nada de mau aconteça, mas infelizmente é o curso da vida.

-Não ficarei lá rondando seu leito como um urubu, pronto para assisti-lo morrer e tomar posse de seu título. Sinto-me enojado.

-Não posso culpá-lo. A situação é difícil para todos, especialmente para você e nossa mãe.

-Ele não terá muito tempo.

-Por isso retornou tão depressa?

-Eu precisava sair de lá. Não consigo mais ver lenços e toalhas manchadas de sangue transitarem pela casa, de seus aposentos a lavanderia. As tosses, a agitação... Tudo. Durante a madrugada parece piorar, nos poucos momento que peguei no sono me vejo em seu lugar na cama, adoentado e sozinho. Hoje foi o estopim, peguei o cavalo mais resistente do lugar e viagei durante todo o dia, sem longas pausas.

-O cavalo deve estar pior que você.

-Me admira que tenhamos chegado vivos. Não trouxe nada comigo além de uma pequena quantia para alimentar o animal e a roupa do corpo.

-Você está em casa agora. Tome um banho, vista roupas limpas, coma alguma coisa e descanse. Não levante até a tarde de amanhã.

-Cuide do cavalo.

-Farei isso agora mesmo. - Caminho na direção da porta - Harry?

-Sim?

-Tenha um sono decente. Não haverá tosses esta noite.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora