Capítulo 22

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Eu sei que estou devendo uma maratona pra vocês, mas estou de luto então vamos fazer o seguinte: hoje teremos uma mini maratona, postarei cinco capítulos enquanto encontro energia pra concluir os outros da história. Infelizmente um dos meus melhores amigos perdeu sua batalha para o câncer, mas foi feita a vontade de Deus. Enfim, não vou escrever mais desse recado ou vou chorar de novo.

Boa leitura :)

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GRACE EDGELL

-Estás me preocupando, querida.

-Estou apenas nervosa, mãe. Não pensei que passaria por uma situação como esta tão cedo em minha vida.

-Fizemos o melhor com nossas roupas, não poderemos melhorar mais.

-A questão não é as roupas, mamãe. Eu estou apenas... Não tenho certeza...

-Você está nervosa com a possibilidade de apresentar sua família as irmãs dele.

-Sim! Por Deus, sim!

-Não diga o nome do Senhor em vão, Grace.

-Perdoe-me, mãe. - Observo Mary correr diante de nós na estrada, ela foi a primeira a levantar hoje, ansiosa para rever Charlotte - Quero que goste deles, especialmente de Anthony.

-Não sofreremos antecipadamente, sim? Respire fundo e procure relaxar, não há maneira de tudo correr mal se mantivermos a calma.

-E se errei no preparo das tortas? Podem ter passado do ponto ou estarem cruas ainda.

-Não exagere, querida. As tortas estão maravilhosas e cheiram muito bem.

-Amanhã a senhora estará em minha situação, não é mesmo?

-Estarei controlada, tenho certeza.

-Certo. - Nós duas sabemos que ela está mentindo. O senhor Yuth - apenas ele - passará o dia conosco amanhã e mamãe tenta disfarçar, mas é de conhecimento geral que ela quer agradá-lo e causar a melhor impressão possível.

Estou feliz por ela e desejo do fundo do meu coração que o senhor Yuth seja um bom marido - e imagino que será -, minha maior preocupação é com seu filho. Observei-o ontem à noite, quando voltava do trabalho, ele estava mexendo em algo nos barris dentro da carroça do pai. Quando percebeu minha aproximação endireitou a postura e fixou os olhos em mim.

É estranho de toda a forma. Ele observa as crianças brincarem pelas ruas com um certo pesar. Averiguei o máximo de vezes possíveis para me certificar que não havia cobiça ou algo do tipo, não consegui notar nada. Passou-me completamente despercebido. O homem também não é o mais expressivo, sempre com expressão imparcial, como se nada o surpreendesse, chocasse, conquistasse ou algo assim.

Não lembro-me dele sorrir ou brincar com as outras crianças em nosso tempo de infância. Sim, ele é mais velho que eu. Fui uma pentelha de dentes faltosos e trancinhas no cabelo, mas ele era um jovem - não devia ter pouco mais de seus treze ou quatorze anos enquanto eu tinha sete. Nesse período as crianças do vilarejo reuniam-se na praça principal para brincadeiras e histórias. Sempre o chamam e ele nunca queria.

Uma única vez que uma das filhas do artesão local pegou-o pela mão e tentou arrastá-lo para nossa roda, como qualquer outra criança faz, ele a empurrou e o filho do ferreiro a defendeu. Lembro-me deles rolando pelo chão em meio a tapas, chutes e socos. Ambos foram castigados naquele dia e o filho do senhor Yuth continuava aparecendo na praça, encostava-se na parede de alguma casa e simplesmente nos observava.

Não demonstrava nada. Não falava nada. Apenas parava e assistia. Sempre me incomodei com seu olhar sobre mim, por vezes o pegava com os olhos fixos em minha direção, observando meus movimentos. Não me admira que não tenha se casado, nunca tentou cortejar uma moça. Todos o acham esquisito, mas nunca comentam isso na frente dele ou de seu pai.

Quando retornei para Brigthdown, depois de concluir meus estudos, o peguei observando Mary e praticamente enlouqueci com aquele incômodo da infância. Todos sabem que ele olha estranho para as crianças e ninguém toma precauções. Contudo, isso não ocorrerá com Mary. Minha irmã não passará por esse incômodo. Layla está cuidado dela durante a semana e não permitirei de modo algum que algo ruim passe a ela.

-Aconteceu algo estranho ontem. - Minha mãe volta a falar - Mary, tome cuidado!

-O que aconteceu?

-Fui contar para Arthur que viríamos a um piquenique, conhecer a família do homem interessado em seu cortejo. Creio que o filho nos escutou e poucos segundo depois escutei coisas quebrando dentro da casa. Ele gritou para Arthur um pedido de desculpas e disse que havia esbarrado em um móvel.

-O que está tentando insinuar, mãe?

-Quando lhe contei sobre meu casamento com Arthur, você disse que seu filho olha estranho para Mary. - Seus olhos observadores pousam em mim - Pois eu acho que não devia se preocupar tanto com sua irmã, sim com você mesma.

-Mãe, não imagino coisas. Ele realmente a olha diferente. Não sei que teoria estás criando, mas lhe garanto que em nada há comigo.

-Há. Você pode ser muito esperta, Grace, mas sou sua mãe e estes olhos experientes já viram muita coisa na vida. Eu diria que estou alguns anos a sua frente, não duvide de minha percepção.

-E o que sugere?

-Talvez ele esteja interessado em ti.

-Ora, mamãe. - Solto uma risada amarga - Ele nunca demonstrou interesse ou pediu-me permissão de cortejo. De qualquer maneira, não é como se eu fosse aceitar.

-Estou apenas comentando. Não tenho provas para o meu argumento, mas acredito que equivocou-se ao constatar que sua irmã está em perigo.

-Como posso estar equivocada?

-Ele apareceu em nossa casa ou ao menos rondou-a nos últimos tempos?

-Não.

-Nem desde que Layla passou a cuidar de Mary?

-Não.

-Bem, se estivesse esperando uma boa oportunidade para atacar agora seria o melhor momento.

-Mãe!

-Ele é um homem, Grace. Um homem grade. Não teria a menor dificuldade em dominar Layla.

-Eu também volto a noite e sozinha todos os dias do trabalho. Se por algum motivo eu fosse o alvo, ele poderia ter aproveitado as muitas oportunidades que teve.

-Ele não sabia que alguém está cortejando você.

-A senhora disse quem? - De repente, sinto certa apreensão. Mesmo que estejamos trabalhando apenas com hipóteses, não creio que seja o momento para divulgar a todos meu enlace com o Anthony.

-Não, eu não disse. Você não deseja divulgar então não o farei. Apenas lhe rogo, Grace, tenha mais cuidado.

-Eu terei.

-Promete?

-Sim, eu prometo.

Os pais de Anthony não sabem sobre nosso cortejo, como posso divulgar a todos? Não, não tenho essa coragem. Sendo completamente sincera, este não é o único motivo. Bem, quando a notícia se espalhar Anthony poderá vir abertamente até minha casa e passearemos pela vila. Ele é um homem absurdamente bonito, que mulher ou moça não o cobiçaria? Sim, tenho ciúmes de olhares imaginários, não posso evitar.

É claro que estou controlando, mas Anthony é tão perfeito... Doce, gentil, atencioso, charmoso. O olhar felino e o porte atlético o tornam irresistível a qualquer um. Não gosto da ideia de compartilhá-lo e em nossos encontros ele disse que não o fará. Isso me mantém calma.

Céus, apaixonei-me por Anthony D'Evill e não tenho a menor ideia de como lidar com este sentimento que cresce em meu peito.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora