Capítulo 28

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ANTHONY D'EVILL

-Foi mesmo por este caminho que eles seguiram? - Harry pergunta - Estamos certos disso?

-Sim, estamos. Eles têm certa vantagem, não há como negar, mas estão em uma carroça então estamos mais rápidos.

-E se não conseguirmos encontrá-los?

-Essa possibilidade simplesmente não existe, Isaac. Vamos encontrar Grace, levá-la de volta em segurança e dar uma boa surra no infeliz antes de entregá-lo as autoridades.

-Sabe que o processo levará tempo, certo?

-Sou um nobre. Um visconde, futuro marquês. Posso fazer alguns acordos quando colocá-lo na prisão.

-Seu senso de justiça é comovente.

-Eles estão com duas horas de vantagem, duas horas e meia se formos sinceros. - Harry fala enquanto se concentra na corrida de seu cavalo - Estamos praticamente saindo de Horkisson. Não havia nenhuma carroça na estalagem da cidade ou na taberna.

-Então continuamos procurando. As estradas do leste são praticamente linhas retas, pelo amor de Deus, onde está a dificuldade?

Sim, estou no mínimo irritado, a possibilidade de algo pior acontecer a Grace corrói minhas entranhas e me causa calafrios dolorosos na espinha. Estou clamando aos céus que estejamos no caminho certo, sabe-se lá o que ele planeja fazer a ela. Completamente louco é um bom diagnóstico.

Grace sabia sobre os roubos de Freddie na loja do pai e quando descobriu isso enlouqueceu e sequestrou-a. Não, essa explicação não acalma meus nervos. Ele não planeja "fazer mal" a ela ou teria feito quando invadiu a casa, ele estava com uma faca, certo? Se ao menos tivesse cuidado do homem antes. Pessoas somem o tempo inteiro. Poderia ter lhe dado uma boa surra e sumir com o corpo. Quem procuraria? É só o filho esquisito do padeiro.

Não posso pensar esse tipo de coisa. Não é o certo. Por mais que esteja irritada e queira mesmo matá-lo, Grace não seria feliz casada com um assassino. Que exemplo eu seria aos meus filhos? Ainda que ninguém descobrisse, minha consciência me condenaria pelo resto dos meus dias e eu não teria paz.

Melhor jogar o maldito na cadeia e cuidar para que nunca saia de lá. Posso não matá-lo com minhas próprias mãos, mas farei o impossível para mantê-lo na prisão até seu último suspiro. Inferno, a forca deveria ser aplicada nos casos de sequestro também.

-Mamãe ficaria horrorizada pela quantidade de blasfêmias que andou falando nas últimas horas. - Ao notar minha pequena confusão, tratou de esclarecer-me - Não sei o que estava pensando, mas falou a parte de jogá-lo na cadeira e mantê-lo por lá em voz alta.

-Não é hora para piadas, Harry.

-Carroças e carruagens passam por aqui todos os dias. Não há como saber se uma dessas marcas na estrada é da carroça que procuramos.

-Precisa ser, Isaac.

 Sabe-se lá quanto tempo passamos na estradas, os cavalos começaram a ficar ofegantes e fomos obrigados a diminuir o passo. Cavalos cansados não são rápidos, é a lógica da vida. Passamos por uma amontoado de árvores e folhas secas, o outono está chegando e toda essa bagunça natural atrapalha um pouco a locomoção. Foi então que o alívio inundou meu peito ao avistarmos uma carroça solitária na estrada, estava carregada, mas os suprimentos estavam tampados por uma lona e o condutor estava sozinho. Paramos os cavalos apenas para observa ao longe, o homem não notou nossa presença e os animais aproveitam a oportunidade para respirar um pouco.

-O que faremos agora? Não podemos simplesmente atacar ao homem! - Isaac tenta atrair a lógica para a conversa, porém não consigo pensar direito.

-Podemos pular nele e socá-lo.

-Não sejam idiotas. - Harry revira os olhos - As pessoas podem se entregar de maneiras muito mais simples. Qual é o nome do homem mesmo?

-Freddie Yuth.

-Observem. HEY, FREDDIE! - O condutor olha em nossa direção, não deve ser muito mais velho que Grace - O SENHOR YUTH QUER A CARROÇA DE VOLTA!

Freddie arregala os olhos e acelera o passo da carruagem tentando - inutilmente - se distanciar de nós. Harry sorri de maneira convencida e ostenta um olhar arrogante como se dissesse: "Você queria saber se era o homem, acabei de mostrar a você".

Sem mais demora colocamos os cavalos para correr em sua direção, estamos em maior número e somos mais rápidos. Ele não tem chance. O alcançamos rapidamente e Freddie sabe que precisa parar a carroça ou haverá um acidente feio.

-Por que estão me seguindo? - Pergunta ao parar, posicionamos nossos cavalos diante da carroça para evitar uma fuga. Desço do cavalo e me aproximo. Meu irmão e meu cunhado permanecem montados por precaução.

-Freddie Yuth?

-Não sei do que está falando.

-Você é a porra do Freddie Yuth e está com minha noiva nessa maldita carroça?

-Não estou levando carga alguma.

-Acha que sou idiota? - Aproximo-me mais, me controlando ao máximo para não arrancá-lo do assento e socá-lo até minha mãe adormecer.

-Tudo bem, estou sim com carga, mas são apenas sacos de farinha para a loja do meu pai.

Ando até a lona e começo a puxá-la para cima. Realmente tudo o que vejo são sacos de farinha. Solto o tecido, ainda não convencido nem um pouco, e o observo. O alívio inunda seu rosto quando pensa que irei me distanciar, mas faço justamente o contrário, puxo a lona toda para fora da carroça de uma vez.

E ali estava, colocada em meio a sacos de farinha, perto o bastante para drogá-la outra vez se precisasse e longe o bastante para que ela pulasse para fora da carroça sem que ele percebesse. Os pulsos amarrados nas costas, o vestido sujo de farinha, a pele avermelhada onde as cordas prendem e o que mais me revoltou, os cortes. Sangue seco do coro cabelo até a testa e outro pequeno rastro na bochecha.

-Apenas farinha, não é? - Demoro meu olhar sobre ela por mais um instante antes de encará-lo. Que se dane a forca, estou pronto para queimar no inferno se isso significa me livrar dele - Harry, fique com Grace e cuide dela.

-Anthony. - Escuto o tom repreensor de Isaac ao fundo, mas estou ocupado demais agarrando o casaco do idiota e lhe atirando para fora da carroça, na direção do chão.

A pequena melhora que senti ao lhe dar um chute no estômago é indescritível, mas não se compara ao prazer de lhe dar o primeiro soco.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora