Capítulo 4

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ANTHONY D'EVILL

-Eu realmente sinto muito, querida. - Minha mãe abraça Charlotte, que chora um pouco em seus braços - É importante que eu vá.

-Não quero ficar sozinha.

-Anthony ficará com você, querida. - Acaricia seus cabelos e se desvencilha, para que Charlie possa abraçar nosso pai.

-Essa é a nova preceptora? - Harry surge ao meu lado, no batente do corrimão, que nos permite uma ampla visão do andar de baixo - É bonita.

-É verdade.

Olho para a moça que se encontrava no canto, observando a despedida emocionada entre minha irmã e meus pais. Seu cabelo estava preso em um coque na nuca e o corpo contido em um vestido azul, mas que valorizava bem seu corpo.

Na estufa tive a oportunidade de vê-la melhor que agora. Os fios castanho-avermelhados de seus cabelos brilhavam sob o reflexo da luz solar, os olhos castanhos me observavam cautelosos quando Charlie correu para mim. As bochechas coradas e o vestido sujo de terra. O rosto tinha um curioso formato de coração, com lábios pequenos e bem carnudos. Ela parece ostentar inocência, o que força a mim e meu irmão ficarmos longe.

-Será que é casada?

-Não, Charlie já esclareceu que a moça é solteira. O nome dela é Grace. - O nome é bonito, parece feito para ela.

-Será que nossa queria Grace aceita se divertir? Ai porra, por que me bateu? - Massageia a parte de trás da cabeça e me lança um olhar feio.

-É a primeira preceptora que Charlie gostou, não vamos estragar tudo, certo?

-Você pode se envolver com todas as serviçais da casa e eu não?

-Não estou dizendo que não pode. Estou dizendo que aquela ali é proibida!

-Isso vale para você também? - Sua expressão cética começa a me irritar.

-É claro que vale, seu idiota. - Dou-lhe um pequeno empurrão no pescoço, enquanto caminhamos para as escadas e meu irmão ri.

-Duvido! Você ficará sozinho aqui com nossa diabinha e uma preceptora bonita, mas não vai tentar nada com ela?

-Meu pau sabe quando se comportar dentro da calça. - Digo em seu ouvido, fazendo-o rir mais ainda.

-Você mente muito mal. - Agarra meu pescoço em um gancho e puxa minha cabeça para baixo. Rimos de nossa pequena brincadeira e agarro o sua cintura, pronto para jogá-lo no chão.

-Rapazes, comportem-se! - Minha mãe nos chama - Harry, venha se despedir da sua irmã.

Harry me solta e abra os braços para Charlie, que em questão de segundos estava em seu abraço, dizendo o quanto o ama e ordenando que ele não demore a voltar. Meu irmão acaricia seus cabelos tentando acalmá-la.

-Tony, mantenha tudo em funcionamento normal.

-Não preocupe-se, pai. Ficarei de olho em tudo.

-As pistolas estão carregadas? - Pergunta em tom mais baixo, para que apenas eu escutasse.

-Sim, todas. Duas escondidas em baixo do banco e uma na parede falsa da carruagem.

-Ótimo.

Meu pai sempre fica tenso quando precisa viajar para longe em uma época como essa. Os roubos de estrada aumentaram bastante e os bandidos estão cada vez mais violentos. As armas não costumam ser utilizadas com frequência, mas estão sempre em revisão para garantir seus funcionamentos e nos dar maior segurança durante o trajeto.

-Harry estará junto, pai. Não se preocupe.

-Meu medo é controlar sua mãe se algo acontecer.

-Nada acontecerá, fique tranquilo. Acabamos de retornar de Wendwood, tanto na ida quanto na volta não tivemos problemas.

-Espero que continue assim. Não sabemos quanto tempo ficaremos por lá, consegue manter tudo em ordem por aqui?

-Claro que sim. Conheço essas terras com a palma da minha mão.

-Obrigado, filho.

-Thomas, precisamos ir! - Minha mãe nos chama e me despeço dela, de meu irmão e de meu pai antes de vê-los entrar na carruagem e sair.

-Tony, quanto tempo eles ficaram fora? - Charlie abraça minha cintura, enquanto assistimos a carruagem sumir de nossas vistas.

-Não tenho ideia, querida. Nem mesmo eles sabem. - Agacho para olhá-la melhor - Por que não vai termina suas aulas e mais tarde nós jogamos alguma coisa, sim?

-Podemos cavalgar amanhã?

-Se sua preceptora não ver problema. - Olho para Grace, que continuava calada nos observando. Um gracioso rubor toma conta de suas bochechas antes que ela desvie o olhar.

-Em que horário pretendem ir, milorde?

-É Anthony e podemos ir logo pela manhã, o que acha Charlie?

-Eu aceito!

-Senhorita Grace...

-Edgell, Grace Edgell e... E-eu não vejo problema em saírem um pouco. Podemos modificar as aulas ao longo do dia.

-Ela é tímida, uma hora você se acostuma. - Charlie sussurra em meu ouvido e eu sorrio.

-Quer vir cavalgar conosco senhorita Edgell?

-N-não, milorde. Mas eu agradeço a oferta, senhor.

Seus olhar parecia desesperado e eu posso jurar que seu corpo está tensionado, como se estivesse se preparando para correr dali o mais rápido possível. Já não sei se a mulher é realmente tímida ou está enfrentando as sequelas de passar tanto tempo com Charlotte. Não a juízo que se mantenha em seu perfeito estado, eu não posso julgá-la por isso.

-Melhor vocês voltarem às atividades, vou sair para resolver alguns problemas e volto a tempo para o jantar, tudo bem?

-Vai assumir as tarefas do papai?

-Vou.

-Então não estará mais procurando uma noiva?

-Charlie, eu nunca procurei.

-Mas mamãe acha que você deve se casar!

-Eu não quero me casar.

-Mamãe também diz que os homens não sabem do que precisam de verdade.

-Charlie, eu não vou me casar agora. - Sorrio dou-lhe um beijo rápido em sua testa - Volte para suas aulas.

-Tudo bem, Tony. Eu entendo.

Assisto a pequena diaba correr para dentro da casa arrastando a pobre preceptora junto. Não acredito em um única palavra do que disse, principalmente com aquele sorriso levado estampado em seus lábios. Se há algo que aprendi em todos os meus vinte e cinco anos é que quando minha mãe ou minha pequena diaba dizem "tudo bem", não está nada bem na realidade  que "eu entendo" significa que aprontarão algo terrível.

Eu não ficaria impressionado se Charlotte conseguisse colocar uma moça solteira em meu quarto durante a noite para me obrigar a casar. Mamãe segue uma linha mais discreta, pelo menos. Infelizmente acabei ficando com a pior das duas e uma bela preceptora em casa por sabe-se lá quanto tempo. Melhor ficar com Charlie pela noite, quando a mulher for embora.

Só espero que isso dê certo.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde as histórias ganham vida. Descobre agora