Tini

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— o que aconteceu Martina? -  Garry o recepcionista do hotel pergunta ao me ver entrar no hall com minha mala em mãos. — Achei que seu avô havia mandado você e sua irmã ficar com a família Holland.

— Garry por favor só não deixa ninguém subir para meu andar, okay? - peço com a voz gasta de tanto chorar. O cansaço me vence.

— o Sr. James está ligando para a recepção feito um louco. E se ele vier aqui? - o nome dele faz meu estômago embrulhar, sinto pânico só de pensar que ele possa me achar.

— se ele ligar diz que não me viu. Finja que não sabe nada a respeito sobre minha localização. - imploro.

— está tudo bem senhora Camilo? Está se escondendo do seu namorado? - ele pergunta assustado com minha reação.

— eu tô bem, mas ele não pode me achar. - meu timbre é de pavor. Temo que Garry me encha de perguntas que no momento eu não tinha forças para responder, mas ele não faz.

— então acho melhor você ficar em outro quarto, o da sua irmã está vazio. - o rapaz sorri para mim, um gesto que me trás alívio.

Subo pelo elevador ainda com o peito ardendo, os ferimentos deixados por James vão deixar marcas para sempre em mim, mas o tratamento daqueles que chamei de família era um corte ainda mais fundo. Me sentia um verdadeiro nada. Parece desgastante dizer ou pensar no vazio, mas ele era minha única companhia. Tinha passado o último dia na casa de Jamie jurando que ele era o único, entre todos os outros, que não me abandonou. Mas ele havia mentido na minha cara. Para ele até parecia que eu não significava nada. Me sinto só. Penso em Noel Fisher ou em qualquer coisa que ele diria para fazer eu me recuperar, mas nada me vem a mente.

Já no quarto o perfume adocicado de Marie invade minhas narinas, penso das centenas de vezes em que ela me fez recuperar de uma crise de pânico. E em como a presença dela me fazia interamente segura a ponto de cessar meu choro. No momento seria bom ter um pouco disso aqui já que meus olhos estavam inundando em lágrimas. Desejava mais do que tudo que as duras palavras não tivessem sido ditas, ou simplesmente apagar com todos os acontecimentos do último mês. Mas já era tarde para isso. Tarde demais para arrependimentos.

Cubro meu corpo com a água quente da ducha de Marie, deixo o líquido lavar meus ferimentos por completo. O toque arde cada centímetro das manchas roxas, porém não me importo. Era como se de certa forma a água retirasse de mim todas as impurezas, nenhuma dor era pálio para a sensação da sua alma ser lavada. E eu choro. Grito. Sozinha entre quatro paredes cobertas por azuleijos azuis. Sei que minha dor aqui será abafada. Me sinto um lixo.

Noel uma vez disse que a vida não é sobre os obstáculos do caminho, e sim sobre o que decidimos fazer quanto a eles. Se o rapaz me visse agora sentiria vergonha de mim, da situação ao qual eu deixei eles me colocarem. Me desculpa Noel, acredite você não é a primeira e muito menos a última pessoa que eu irei decepcionar. Minha cabeça está completamente tomada por pensamentos ruins. De repente torço para James me encontrar, seria melhor levar outra surra do que me afundar no vazio. Maldito vazio que preenchia todo o meu ser.

Pego os comprimidos receitados pelo Dr. Fisher e tomo mais da metade do vidro, como uma tentativa falha de parar o vazio, eles descem garganta abaixo com uma certa ajuda da água. Nikki ficaria triste ao me ver desistir tão fácil assim, ela provavelmente se sentiria mal e nunca mais pisaria nesse hotel por medo de ser assombrada. Pobre Nicola. Paddy não iria ao enterro, meu pequeno Padawan nunca gostou de despedidas dessa vez não seria diferente. Harry e Sam jamais olhariam para nossas fotos juntos do mesmo jeito, a perda não deixaria.

Com a noite lá fora já tampando o fim do dia, me deito na grande cama king de Marie. Minha melhor amiga. Ela provavelmente iria me bater na cara até eu desistir de fazer a merda, era muito o seu feitio. Então já estou me desculpando adiantado irmã, de certa forma eu vou sempre arranjar um jeito de te decepcionar. Peço perdão ao meu avô, e já começo a dizer que ele é o homem que mais admiro no mundo todo. Nunca conheci meu pai e nunca vou precisar porque ele ocupou esse papel da maneira mais genuína que eu poderia pedir. E eu te amo. Sei que Maddie vai querer ficar com o meu quarto mas não importa, ela será bem vinda.

Thomas Stanley Holland. Meu spider boy. Eu te amo da forma mais pura que alguém poderia amar outra pessoa. Você foi e sempre será o amor da minha vida. Como eu queria que você soubesse dos sentimentos que tentei durante tanto tempo esconder, para não estragar nossa amizade. Queria falar sobre aquele beijo, não o da noite passada, mas o de quatro meses atrás na sua sala de estar. Ainda que eu tenha fingido não lembrar de nada por medo da rejeição, eu queria que você soubesse da verdade. E essa é a verdade: estou apaixonada pelo meu melhor amigo. Um baita clichê vindo de nós dois. E foi por isso que sua facada foi a mais dolorida. Mas tudo bem eu te perdoo. Te amo demais para qualquer rancor, daqui a pouco nada disso irá importar mesmo.

Aos poucos minha visão fica turva e eu mal consigo respirar, meus últimos pensamentos são como uma carta de despedida para todos que amo. Um pedido de desculpas por não ter conseguido suportar a dor. E meu último suspiro é para você mãe. Mesmo estando tão longe de casa continua sendo meu bem mais valioso, sei que estou partindo seu coração. Mas prometo que tudo vai ficar bem, chove sempre antes de sair o sol. Ao menos era o que me dizia nas noites em que tempestades cobriam o céu, e eu tinha medo do escuro. Mas olha só para mim agora, sou a própria escuridão. Então eu sinto muito mamãe por te deixar assim, mas estou muito vazia.


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TÔ SURTANDOOOOOO

OBRIGADA 🧡

OBRIGADA 🧡

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F.R.I.E.N.D.S - Tom HollandWhere stories live. Discover now