Capítulo 2

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Quando eu escutei a porta se abrindo lá embaixo, rapidamente me lembrei do que eu estava tentando fazer antes de Fynn começar a me ligar e interromper tudo. Eu realmente ainda não sei se o amo ou o odeio por isso.
Acendo as luzes do meu quarto, guardo a arma do meu pai de volta no fundo daquelas cuecas e, graças a Deus, não esqueço da nota de suicídio em meu guarda-roupa, então pego o papel e o rasgo em pedacinhos antes de jogar no lixo, para evitar que ninguém realmente chegue a ler nem se quiser.
Quando termino de limpar a minha quase cena de crime, minha mãe entra no quarto.

- Olá, querido - sorri. - Eu trouxe MC Donald's, venha comer antes que esfrie ou que a sua irmã coma o seu lanche.

- Mãe, não deixe ela comer o meu lanche!

Ela dá risada e escuto seus saltos batendo nas escadas, alertando que ela foi embora e como sempre, esqueceu a porta aberta.
Apago as luzes e desço para comer, antes que July realmente coma o lanche no meu lugar.

Entro na sala junto com outros alunos com meu sangue fervendo e minhas veias pulsando. Por que diabos a aula de redação tem que ser a primeira? Não estou preparado para ver o cara que interrompeu o meu suicídio ontem e não faz nem ideia disso. E, a pior parte, eu aceitei ir ao baile com ele. Quando a minha mãe souber disso, vai surtar.
Olho em volta e não encontro Fynn, talvez ele ainda não tenha chegado ou nem vai vim hoje, pode ter acordado doente. De qualquer forma, ainda dá pra me fazer de invisível, diferente dele que não pode fazer isso nem se quisesse com aquele tamanho.
Como sempre, vou até o fundo da sala, me encolhi ali e senti como se estivesse com um disfarce. Ninguém podia me ver. Respiro aliviado e coloco meu caderno na mesa. Preciso dar um jeito de recusar aquele baile, o que eu estava pensando? Eu nem conheço esse Fynn direito e mesmo que ele seja bonito, não é tudo isso. E, outra, desde quando eu vou para bailes da escola? Eles são tão idiotas, se eu chegar lá, talvez vomite.
Ouço o barulho da carteira ranger e rapidamente entro em pânico. Ele acabou de sentar na minha frente. E, poxa, ele é tudo isso sim, ele é muito mais bonito de perto e olhando por mais tempo, ainda mais com esse sorriso enorme na cara.

- Oi, Morgan.

Oi o caralho! Por que meu trage de invisibilidade não funcionou? Eu fiz algo de errado?

- F-Fynn - limpo a garganta. - Oi.

Desvio o olhar dele, quando percebi que estava segurando a respiração. E, nisso, acabei encontrando com algumas pessoas olhando para a gente e sorrindo. Começo a me perguntar se elas eram amigas de Fynn e estavam tentando o apoiar.

- Então, você... - ele ficou vermelho e eu começo a perceber que talvez eu também esteja vermelho. - Você é ainda mais bonito de perto!

Aí que merda.

- V-você também é.

Limpo minha garganta de novo. Era tão constrangedor gaguejar daquele jeito.
Para minha sorte, o professor chegou e mandou que todos se sentassem pois a aula iria começar. Isso fez Fynn olhar para frente e eu recuperei minha postura. Afastei os pensamentos e me concentrei na aula que eu odiava e amava ao mesmo tempo.

Fiz uma careta quando a tia da cantina colocou aquela coisa na minha bandeja e ela olhou feio para mim. Isso já se tornou uma rotina. Mas, sério, é tão nojento a comida da escola que eu nem consigo saber o que é.
Suspiro fundo, saio da fila e uma garota ruiva pega a comida agora. Ela também faz uma careta.
Jogo seja lá que alimento for esse no lixo. Eu não vou comer, prefiro evitar ter uma dor de estômago mais tarde.

- Que feio, Morgan - avisto Fynn e tudo aquilo volta pra cima de mim. O sangue fervendo, as veias pulsando e a sensação de que não consigo respirar direito, mas de um jeito bom. Ele não pode ser tão bonito assim. - Jogando comida fora, enquanto tem gente por aí passando fome.

- Cala a boca, você parece a minha mãe.

Fico feliz porque pela primeira vez eu não gaguejo na frente dele.
Ele dá risada.

- Tudo bem, a comida da escola é horrível - admitiu. - Então, você quer se sentar comigo e meus amigos?

- Não, obrigado.

- Mas você está sempre sozinho - ele parecia nervoso de novo. - Só hoje, por favor, eu prometo que somos legais. E, além disso, você é meu par pro baile de primavera.

Merda, ainda estou tentando entender o porquê de eu ter aceitado ser o par dele.
Tento dizer que eu não séria o par dele naquele baile idiota, mas tudo o que saiu da minha boca foi um "ok" que fez ele sorrir. Esse deve ser o cara mais bobo que eu já conheci, se ele diz que tem uma quedinha por mim imagina só se um dia ele se apaixonar.
Ele faz um sinal para que eu o acompanhe e eu obedeço. Começo a pensar se esse lance de "tenho uma quedinha por você" e "quero que você seja meu par no baile" não fosse algum tipo de pegadinha ou aposta cruel. Afinal, ninguém tem uma quedinha por alguém como eu. Eu não tenho uma aparência nem se quer razoável, às vezes eu acho que sou gordo demais ou magro demais e uso moletom até no calor. Tenho a típica cara de um adolescente rebelde ou deprimido e eu sou a segunda opção. Se eu tivesse conseguido me matar ontem, talvez ninguém fosse ficar surpreso ou se perguntariam "quem é Morgan Thompson?" eu até teria amigos se não fosse pela minha fobia social. Sempre parece um erro me aproximar ou me abrir pra alguém.
Encaro Fynn e me pergunto, o que teria acontecido naquela noite se eu não tivesse atendido ou ele não tivesse ligado na hora certa? Fynn choraria por mim? Eu acho que não, talvez ficasse triste mas chorar é demais e eu não valho uma lágrima sequer.

Alô?Where stories live. Discover now