Capítulo 10

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Eu nunca mais falei com Fynn depois daquela conversa. Mandei ele embora e ele foi em paz. Mas acho que Fynn percebeu que isso era sério quando eu comecei a ignorar ele no colégio. E, sim, podem me chamar do que quiser, eu sei que eu sou um babaca quando ele tenta falar comigo ou me manda mensagens. No caso, não manda mais, porque eu o bloqueei. Mas Fynn mandava, no máximo três por dia.
Morgan, me desculpe, eu descobri sem querer.
Fala comigo!
Eu juro que ninguém mais sabe, só eu.
Realmente gosto de você, Morgan, muito.
Perdão.
Por favor, fala comigo!
Eu sinto que não posso falar com ele.
Se Fynn não tivesse descoberto, talvez ele nunca iria ter ligado. Talvez eu estivesse morto agora, com um buraco na cabeça, de terno, preso em um caixão barato e de baixo de 7 palmos da terra porque eu não faço ideia do que vem depois da morte, mas sempre parece melhor do que tudo isso aqui.

— Morgan!

Olhei por cima do meu ombro, mesmo sabendo quem era.
Quanto mais ele se aproximava, mais meu corpo tremia, até que eu simplesmente corri, como sempre. Eu sempre corro. Eu morro de medo. Como se Fynn fosse o assassino do filme de terror e eu o personagem principal tentado fugir e se manter vivo. Resumindo, minha fobia social.
Cheguei ao banheiro e me tranquei em uma das cabines. Sentei no vaso sanitário e escutei Fynn entrar com passos pesados e fechar a porta logo atrás. Isso já estava se tornando rotina.

— Morgan — não escutava mais os passos, só a voz dele. — Eu sei que pode me escutar então eu não vou mais te incomodar e eu juro que ninguém mais sabe sobre você, somente eu e eu não vou contar pra ninguém — suspirou fundo antes de continuar: — Eu me importo com você e eu queria que você me deixasse te ajudar mas você está com medo de mim. Queria saber o porquê. Na verdade, eu só queria que você se apaixonasse por mim e isso não mudou quando eu descobri aquilo.

Tudo ficou em silêncio mas eu ainda não sai da cabine, porque não escutei os passos dele indicado que ele iria embora. Ou a porta se fechando.

— Eu te amo. — Fynn disse, de repente e só então eu escutei seus passos e a porta batendo. Na mesma hora, o sinal tocou, porém eu não fui para a sala. Continuei ali, imóvel, enquanto as palavras de Fynn caíam sobre mim. Ele tinha desistido.
Levei minhas mãos a boca e mordi uma das minhas unhas bem forte e então peguei minha bolsa e sai. Ainda não vou para a aula, até porque hoje tem aula de redação.

A casa estava vazia. Mamãe tinha ido trabalhar e July estava na escola. Tranquei a porta e subi para o meu quarto sem acender nenhuma luz, até porque a claridade lá fora iluminava o apartamento, nem que fosse um pouco.
Retirei meu celular do bolso e desbloqueei Fynn. Liguei mas caiu direito na caixa postal. Ele deve estar tendo aula agora e ele sempre deixa o telefone desligado durante elas. Sendo assim, gravei uma mensagem.

— Eu não vou te perdoar porque você não fez nada, Fynn, eu que te devo desculpas — engoli em seco, mas tomei coragem para continuar, e então continuei: — Eu sempre tive medo de me relacionar com outras pessoas e eu estava tentando. Mas quando eu soube que você sabia sobre mim eu não consegui mais. Estou morrendo de medo de você. Só me desculpe por eu me sentir assim, eu juro que não queria, eu queria ser normal. Isso, normal. Também queria dizer que eu te amo de volta mas pare de me amar. Se eu não me amo não tem ninguém que possa me amar. Se eu não cuido de mim mesmo não tem ninguém que possa cuidar. Se eu não ajudo a mim mesmo não tem ninguém que possa ajudar. Eu sou um caso perdido, um furacão e eu não quero que você entre nele. Não estou disposto a corresponder seus sentimentos, Fynn. Sinto muito.

Fiquei em silêncio e então enviei a mensagem. É a primeira vez que eu desabafo em voz alta. Isso não foi ruim.
Jogo meu celular em qualquer lugar e me deito na minha cama. Tento chorar mas estou triste demais para isso, então eu apenas durmo.

Mais tarde, sou acordado pela música Can I Call You Tonight?

Alô?

— Morgan!

Desliguei.
Claro que era Fynn.
Ele começou a mandar mensagens.
Morgan, ninguém é normal. Todo mundo só é de um jeito diferente.
Tudo bem, você não vai corresponder meus sentimentos. Eu aceito levar um fora. Mas me deixe te ajudar, vamos tentar, não precisa ter medo de mim, não vou te julgar e nem nada.
Fynn começou a me ligar de novo e eu atendi.

— Por favor não desligue na minha cara.

— Eu aceito.

— O que?

— Pode tentar me ajudar.

Alô?Where stories live. Discover now