Capítulo 6

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Eu sai do colégio, ou melhor, do baile. Eu precisava de ar puro.
Fynn e eu dançamos muitas outras músicas, o suficiente para eu começar a soar. Estou morrendo de calor mas não posso de jeito nenhum tirar esse terno, então decidi que séria uma boa ideia vim pra cá ao invés de morrer de calor lá dentro, aonde tudo estava abafado, barulhento e lotado. Realmente muitas pessoas vem para esses bailes, mesmo sendo idiota.

- Oi? - olhei por cima do ombro e vi Fynn se aproximando. Meus olhos pararam no seu peito. Ele tinha desabotoado um pouco a camisa social porque aposto que também estava preste a morrer de calor. Meu Deus, quantas vezes eu já falei "morrer de calor"? - Muito calor?

- Sim, vim tomar um ar.

Sentei em um dos degraus da escola e ele veio para se sentar também.

- Por que não tira esse terno? - perguntou. - Vai aliviar um pouco.

- Não, valeu.

- Você quem sabe - deu de ombros e então olhou pro céu. - A noite está bonita hoje, não acha?

- Eu acho que sim.

- Sabe o que é mais bonito?

- Por favor, não se atreva a continuar.

Ele começou a gargalhar. Gargalhar mesmo. Alto e claro, se as ruas não estivessem vazias várias pessoas olhariam para ele agora curiosos para saber o motivo dessa risada tão escâdalosa.

- Tudo bem, eu não vou fazer isso - Fynn finalmente parou de rir, recuperando o que eu acredito ser a normalidade. - Mas, então, quando eu te chamei para ir ao baile você aceitou por aceitar ou também tinha alguma quedinha por mim?

- Aceitei por aceitar.

- Ok - essa não é a resposta que ele queria ter recebido. - Mas e agora?

- Você é bonito - desvie o olhar, desesperado. Pra que essa pergunta? - Eu não tenho muita certeza.

- Ok - essa também não é uma resposta que ele gostaria de receber. - Talvez eu não devesse ter te chamado pra um baile.

Se você não me convidasse, eu estaria morto, mortinho, dentro de um caixão barato e enterrado a 7 palmos do chão. Ninguém choraria por mim, porque eu sou um fardo. E eu também não quero que chorem, porque eu sei que sou um fardo.

- Já se arrependeu?

- Claro que não! - Fynn disse, como se fosse a coisa mais impossível do mundo não gostar de mim. - É que bailes são tão idiotas, eu nunca vim em um, essa é a minha primeira vez porque o pessoal me convenceu de que séria uma boa ideia.

- Seus amigos assistem muitos filmes americanos.

- Eu sei, só porque eu te convidei pra um baile  idiota não significa que vamos nos casar algum dia - com certeza nunca vamos casar algum dia. - Então será que a gente pode fazer tudo de novo?

- Como assim?

Ele tirou seu celular do bolso, digitou algum número e então levou para o ouvido.
Imediatamente meu telefone explodiu com a música Can I Call You Tonight? dentro do meu bolso.
Peguei e atendi, olhando nos olhos dele enquanto ele olhava os meus.

- Alô? - minha mente voltou para aquele dia. A arma na minha cabeça e o sentimento de "é só puxar o gatilho". - Eu estou falando com Morgan Thompson?

- Sim - o quarto estava escuro e tinha uma carta de suicídio no guarda-roupa. - Quem é?

- Desculpe incomodar essas horas da noite - como Fynn ficaria quando soubesse que eu me matei? Nada mais de baile de primavera, ele podia ter ligado mas não ligou. E se ele não tivesse ligado? - Eu sou Fynn John. A gente tem aula de redação juntos, realmente gosto dos textos que você escreve.

- Sim, eu me lembro.

E se Fynn soubesse que naquela noite eu estava preste a meter uma bala na minha cabeça quando ele começou a me ligar? O que ele faria? Qual séria a reação dele? Ele fugiria ou ficaria? Será que ele é aquilo que pessoas como eu gostam de chamar de lanterna ou luz no fim do turno?

- Então, eu tenho uma quedinha por você, ou talvez um acidente e queria saber se você não aceita ir em um encontro comigo. Aceita?

E se eu simplesmente tivesse escolhido não atender? Eu me arrependeria?

- Aceito. Quando vai ser e aonde?

- Vamos pro cinema, todo mundo está doido para assistir Vingadores: Ultimato. Vamos agora.

- Agora?

- Sim.

- Ok.

Ele desligou o celular e sorriu para mim. Eu quis chorar.

Não, não e não. Nossas mãos não se encostaram uma nas outras sem querer ao tentar pegar a pipoca, eu não dormi e acabei deitado minha cabeça no ombro dele e muito menos dividimos o mesmo refrigerante. Mas foi engraçado descobrir que ele é um puta nerd que chora assistindo filmes da Marvel e também como as pessoas nos olharam torto vendo a gente vestido daquele jeito como se fossemos nos casar ou ir à um baile escolar. Observação: acabamos de sair de um.

- Tem tipo umas 500 mensagens e ligações perdidas da Alicce e da minha prima - eu dei risada, antes de ele ligar de volta. - Oi.

- Aonde vocês estão? - a voz de Alicce saiu do outro lado, um pouco abafada por causa da música. - Não me digam que já resolveram ir para um motel e transar.

- Claro que não e, por favor, não se intrometa na minha vida sexual - ele resmungou e eu ri mais ainda. - A gente acabou de sair do cinema.

- Deixa eu adivinhar, assistiram algum filme da Marvel?

- Sim.

- Tão nerd.

- Cala a boca e eu sei que você também está doida pra assistir esse novo Vingadores e eu posso te dar um spoiler se continuar enchendo meu saco.

- Sem spoilers! Não seja maldoso!

Mais uma vez eu cai na gargalhada. Aposto que nunca ri por tanto tempo.

- Então, não esperem por mim porque eu não vou voltar para esse baile idiota.

- Você é idiota.

- A viúva negra...

- Você não é idiota - interrompeu. - É incrível.

- Obrigado pelo elogio.

Então, ele desligou.

- Vou te levar pra casa - deu partida no carro. - Já vai dar meia-noite e sua mãe deixou bem claro que não quer que você volte tarde.

- Não precisa ter medo da minha mãe, mas tudo bem, eu estou cansado. - falei, já soltando um bocejo.

- Estou vendo.

Eu fico feliz por Fynn ter me ligado aquela noite e eu ter resolvido atender.

Alô?Where stories live. Discover now