Capítulo 4

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— Olá, querido, seja bem-vindo de volta — minha mãe disse, enquanto eu tirava os sapatos para entrar dentro de casa. — Como foi a escola?

— Legal — dei de ombros. — Você saberia me dizer aonde está o terno do papai?

Ela abriu um sorriso sem graça. Eu sei que ela não gosta muito de falar sobre meu pai.

— O terno que ele usou no nosso casamento?

— Esse mesmo.

— Sim, eu sei aonde está, por que?

— Eu queria experimentar.

Mamãe parou de cortar a carne e me olhou de cima a baixo.

— Não se preocupe, vai caber perfeitamente em você — ela voltou sua atenção para o almoço. — Mas por que você quer o terno do seu pai?

— Para o baile de primavera.

Ela parou de cortar a carne de novo, mas dessa vez largou a faca e jogou o corpo todo em minha direção. Surpresa, mamãe estava surpresa.

— Não é você que sempre diz que esses bailes são idiotas? — questionou. — Você tem um par?

— Tenho.

Os olhos dela brilharam.

— Quem?

— O nome dele é Fynn.

Minha mãe começou a sorrir. Eu sabia que ela ficaria feliz com isso, porque eu posso até fingir que tenho amigos na escola, mas algo me diz que ela sabe que eu estou mentindo.
Bem, eu tenho uma boa mãe e vocês devem estar se perguntando por que eu nunca contei meus maiores problemas à ela. Eu até queria poder contar, mas a morte do papai ainda a deixa meio perturbada, só não quero ser mais um problema pra ela. E, além disso, ela com certeza vai querer me levar para um psicólogo e eu tenho medo de colocar meus pés dentro de um.

— E ele é bonito? — balancei a cabeça. — Ele que te convidou?

— Sim.

— Eu vou colocar o terno do seu pai para lavar — ela limpou as mãos. — Pode continuar o almoço para mim?

— Claro.

— Obrigada.

Antes de sair, mamãe beijou minha testa e eu continuei o almoço para ela.

Eu quase não acreditei quando abri as janelas de manhã e vi um Fiat vermelho parado lá. E, de primeira, pensei que podia ser o carro de outra pessoa, até que eu vi que Fynn estava saindo do carro.
Aí meu Deus! Que diabos?
Meu celular começou a tocar e eu corri para dentro para atender. É o Fynn.

— Fynn?

— Oi, eu vim te buscar.

— Eu percebi — dei mais uma olhada lá em baixo e então percebi que a senhora Marshall, a vizinha fofoqueira, me olhava curiosa. — Mas está muito cedo, eu ainda estou de pijama.

— Tudo bem, eu espero.

Ok, então, eu acho que não posso mandá-lo ir embora agora.

— Tá bom.

Desliguei o celular e rapidamente entrei no banheiro. Tomei aquele famoso banho de gato e vesti a primeira roupa que encontrei no guarda-roupa.
Na cozinha, a minha mãe ainda estava preparando ovos com bacon.

— Bom dia, levantou mais cedo hoje — ela deu um beijo na minha bochecha. — Senta aí que está quase pronto.

— Acho que não vai dar pra tomar café hoje.

— Como assim? — questionou, com aquele olhar de mãe preocupada. — O café da manhã é...

— A principal refeição do dia — completei. — Eu sei. Mas sabe o garoto que me convidou para o baile?

— Sim.

— Ele está me esperando lá em baixo.

— Ótimo! Por que não convida ele para tomar café também?

— O que?

— Vamos, seja educado — ela largou as panelas e então pegou o telefone, provavelmente ligando para o porteiro. — Alô?

Aí que merda. E eu achando que o dia não podia ficar pior. Eu quero matar Fynn com as minhas próprias mãos, como é que ele vem me buscar aqui em casa sem avisar?

— Pronto — ela colocou o telefone de volta no gancho. — Ele já está subindo.

Sentei na cadeira e esperei pela maior vergonha da minha vida.
A porta bateu e meu sangue ferveu.
Minha mãe deixou as panelas de lado de novo e foi atender a porta. Lá estava Fynn. Os dois sorriram e no que pareciam se apresentar, eu fui colocando café na minha caneca para fingir que não estava entrando em desespero.
Fynn tirou os sapatos e agora ele estava dentro do meu apartamento.

— Bom dia, Morgan.

— B-bom dia — respirei fundo. — Quer café?

— Não, obrigado, eu já tomei antes de vim.

— Não vai querer nem ovos com bacon? — minha mãe perguntou, já colocando dois ovos e dois bacon no meu prato. — Os meus são os melhores!

— Amanhã eu prometo que como, senhora Thompson.

Eu quase engasguei.

— O que? Você vem amanhã de novo?

Minha mãe me deu um leve tapa na cabeça.

— Claro, querido, minha comida vai estar esperando por você — sorriu. — E por favor, me chame apenas de Sophie.

— Ok, Sophie.

Minha irmã apareceu na cozinha com seu pijama de unicórnio. Agora sim eu estava ferrado.
Continuei comendo, para fingir que não estava ali.

— Bom dia, querida. Hoje tem bacon com ovos como você gosta.

Ela se sentou na mesa e foi quando pareceu percebeu a presença de Fynn.

— Quem é esse cara?

— Amigo do seu irmão.

— Ah, então o Morgan tem amigos?

Dei um leve soco no braço dela e Fynn começou a rir.

— Eu sou o Fynn, prazer.

— July.

Os dois apertaram as mãos.
Eu quero sumir.
Quando eu finalmente terminei meu café, corri para o banheiro e escovei meus dentes o mais rápido que pude.

— Ok, vamos, Fynn — o puxei para fora da mesa. — Tchau mãe, tchau July.

— Tchau! — as duas responderam ao mesmo tempo enquanto colocamos nossos tênis e saímos.
O elevador abriu as portas e entramos.

— Sua família é legal.

— Eu acho que sim.

— Ainda bem que seu pai não estava lá, eu teria medo de conhecer ele.

— Não se preocupe com isso.

— Por quê? Ele é gentil como sua mãe ou ciumento como a maioria dos pais?

— Meu pai está morto.

Se a pele dele não fosse tão escura, eu diria que ele ficou pálido agora.

— Morgan, eu sinto muito.

— Tudo bem.

O elevador se abriu e, quando saímos, foi como se aquele clima pesado tivesse saído.
O porteiro olhou para mim com aquela cara de que tinha certeza que Fynn era meu namorado antes de entramos no carro.

Alô?Where stories live. Discover now