Cinco

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O banheiro é grande, com várias cabines, algumas com portas verdes e outras sem porta.
O banheiro tem azulejos na cor creme e tem um espelho grande bem na entrada, as cabines com portas têm vaso, e as sem porta têm apenas o chuveiro.
Uma porta na parede a esquerda leva a um vestiário com vários armários cinzas e pias, o chão está molhado e há vapor por quase todo o banheiro, as luzes estão acesas.

É o cenário perfeito para um filme de terror, a noite está fria e o banheiro tem uma temperatura úmida e abafada.

Há um banco bem grande no meio do banheiro, caminho até ele e coloco minhas coisas sobre o mesmo.
Tiro minhas peças de roupa uma de cada vez ficando apenas de cueca.
Olho ao meu redor conferindo pela milésima vez se estou sozinho.

Vou até a cabine com chuveiro e abro o mesmo lentamente até que a água fique quente, o vapor invade a pequena cabine com ladrilhos azuis e logo se espalha pelo banheiro o deixando ainda mais embaçado, me forço a relaxar o corpo e apenas tomar um banho.

O dia foi péssimo, a despedida do meu pai, a mudança, o internato e as pessoas esquisitas.
O dia parece infinito e interminável.
Me lembro de súbito do que Lucas disse sobre a iniciação á noite e todo o resto, mas desde as 18:00 ninguém tocou no assunto.

Passei o dia quase todo com um casaco amarelo, oque acabou chamando a atenção de algumas pessoas já que todos os grupos usavam uma roupa padrão: Preto, Vermelho, Verde e Azul.

Senti a água quente nas costas e minha pele começou a ficar vermelha, a água está quente de mais.

Sai do chuveiro fechando o mesmo e me sequei o mais rápido que consegui, enrolei a toalha na cintura e tirei a cueca molhanda colocando outra seca.
Me vesti com um pijama velho que uma enfermeira havia me dado a um tempo e caminhei até a saída carregando minha roupa.

O banco de metal estalou com a dilatação por causa da mudança de temperatura, me virei rapidamente assustado e meu pé escorregou pra frente no chão molhado, meu corpo foi ao chão me fazendo ficar encharcado.

— Ótimo. — Disse a mim mesmo sentindo a perna latejar.

Entrei no quarto e já fui tirando a roupa encharcada enquanto preguejava aquela escola, me esquecendo que dividia o quarto com o Lucas, arregalei os olhos encarando o pequeno guarda roupa e me virei devagar para a cama de Lucas, mas o mesmo não estava lá, para meu azar outra pessoa estava.

— E...eu acho que entrou no quarto errado.— Disse gaguejando e enrolando rapidamente a toalha na cintura, totalmente desajeitado e envergonhado, batendo o calcanhar no guarda roupa.

— Relaxa, eu estou no quarto certo.— Jonathan me observou por cima de um dos livros da pilha de livros que Lucas tinha no quarto.

— Eae gente.— Lucas entrou no quarto fechando a porta logo em seguida.

— Será que pode pedir para o seu amigo sair do quarto?—  Perguntei com uma pontada de impaciência.—Não sabia que eram tão próximos. —Alfinetei cerrando friamente os olhos.

— Como eu disse: relaxa.— Jonathan disse sem tirar a atenção do livro.— Eu não estou olhando e não há nada em você que eu não tenha.—

Lucas segurou o riso, pareciam arrumados demais pra quem vai dormir.

— Calma cara, hoje é um dia importante pra você, não deveria estar tão irritado. — Lucas veio até mim e colocou sua mão sem o gesso sobre meu ombro.

— Como assim dia importante?— Perguntei com uma sombrancelha arqueada encarando Lucas.

O mesmo, virou o rosto observando minha cama, onde havia uma calça jeans branca, um casaco de moletom branco, um cinto preto e um tênis também branco.

— O que significa isso?— Perguntei confuso.

— Não gosta de presentes? — Jonathan palpitou.— Agradeça ao seu primo.— Sorriu sínico.

— Primo?— Ergui o cenho.

— Sim, aquele que costuma ser o filho das nossas tias...— Lucas sorriu em tom debochado.

Um primo.

— Você não o viu?— Lucas perguntou.

— Mesmo se eu o tivesse visto, como saberia que ele é meu primo? —

— Vista-se, Kira, Jona e eu vamos esperar você lá fora.— Jonathan disse por fim, saindo e sendo seguido por Lucas que não disse nada.

Observei a roupa branca sobre a cama e logo comecei a me vestir, está sem etiqueta mas tem cheiro de roupa nova. Exatamente o meu número, inclusive o sapato.
Arrumei o cabelo e passei um perfume. Tudo isso é tão novo, tão sem sentido, talvez joguem um balde de sangue de cabra em mim, ou talvez joguem tinta verde. Estou com medo, meu estômago parece se afundar.

Kira invade o quarto sem bater e percebo que ela está usando lentes vermelhas.
Está usando um colete de couro brilhante preto e uma camisa vermelha, um batom vermelho e sua gargantilha pra variar, calça jeans rasgada e coturnos com plataformas.
Ela fechou a porta com as costas e revirou os olhos.

— Garotos são tão apressados.— Reclamou.

— Que tal?— perguntei encolhendo os ombros im pouco desconfortável com aquela roupa, não que o tecido seja desconfortável, mas eu sou tão simples, que não me sinto bem com aquilo. Mas sinto que talvez eu devesse me acostumar.

— Vênus!— Kira exclamou surpresa. —Nossa o Henrique arrasou, na minha vez não me deram algo tão caro, porra é um tênis da Gucci! —  Kira reclamou me elogiando ao mesmo tempo.

— Quem é Henrique? Isso é caro?—  Perguntei.

— Claro que é! Esperava que ele deixaria você se vestir de qualquer jeito? Claro não é nem um real comparado a fortuna do meu pai, mas é caro, e você combina com coisas caras.— Kira as vezes parece mudar sua personalidade, ela vai de garota mimada a garota humilde em um piscar de olhos, depois se lembra e volta a ser a garota mimada.

— Melhor eu guardar.— Disse quase tirando o tênis, mas Kira me interrompeu.

— Tá louco? Precisa usar branco, e é só um tênis.— Ela arregalou os olhos ao me ver cogitar tirar aquele tênis.— Agora vamos, preciso beber, os garotos estão praguejando a gente e a festa não começa sem você.—

Desculpem os erros, bjs.
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Me Chame De Vênus Where stories live. Discover now